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Cooperação luso-chinesa prevê também "possibilidade de relacionamento com as geografias que falam português", diz embaixador

Fonte: Diário do Povo Online    02.11.2016 17h13

O Diário do Povo Online aproveitou a ocasião da entrega dos Prémios Tomás Pereira, assim como dos recentes eventos em torno das relações Portugal-China e Lusofonia-China - particularmente a visita do primeiro-ministro António Costa e o Fórum de Macau - para entrevistar o embaixador de Portugal, Jorge Torres Pereira, e proceder a um rescaldo destes eventos.

O embaixador descreveu a deslocação do primeiro-ministro como um “enorme sucesso”, reforçando o facto da China interpretar a relação com Portugal para lá da influência que esta exerce com os 10 milhões de nativos portugueses, aludindo à “possibilidade de relacionamento com as geografias que falam português”.

A visita de António Costa levou à mesa de negociações várias oportunidades de colaboração entre os dois países, surgindo como exemplos a “conectividade elétrica global, a iniciativa chinesa ‘Um Cinturão e Uma Rota’, e as possibilidades de cooperação no sentido da inovação e do fenómeno das startups”. A parceria estratégica global vigente entre os dois países atravessa, segundo o entrevistado, um “processo de dinâmica acelerada”.

Na questão da iniciativa “Um Cinturão e Uma Rota”, Jorge Torres Pereira atribui o ponto nevrálgico à obtenção da “compreensão da parte chinesa para a importância estratégica da fachada atlântica e para o porto de Sines”. O porto de águas profundas, atualmente em expansão, assume agora maior preponderância devido ao alargamento do canal do Panamá e à sua localização estratégica na porta da Europa, permitindo a transferência de mercadorias entre o Pacífico e o Atlântico, argumentou.

A cooperação triangular foi também um dos temas proeminentes na visita do primeiro-ministro, sendo que o embaixador ressalta as “experiências de sucesso no campo da aquacultura em Timor-Leste, envolvendo empresas portuguesas e chinesas”. A parceria estratégica entre a China Three Gorges e a EDP(Energias de Portugal), que têm vindo a realizar projetos conjuntos, tanto na Europa, como no Brasil, juntamente com uma empresa hidroelétrica local, foi citada como um “exemplo claríssimo” neste âmbito. “Não é apenas no papel. Já existem projetos concretos”, vincou.

A economia azul, um dos temas em voga no panorama político da China, foi outro dos temas levados a debate na reunião bilateral. Relativamente a este aspeto, Jorge Torres Pereira reiterou a importância do setor da logística, nomeadamente a relevância do suprarreferido porto de Sines. “Durante a visita foi celebrado um memorando de entendimento entre o CDB (China Development Bank) e uma empresa chinesa, no sentido de estudar-se a forma de expandir a plataforma logística de Sines, recorrendo a potenciais investidores chineses”, afirmou.

Foi também avançado por parte do governo português o interesse em construir um centro de investigação do mar profundo nos Açores. “Os chineses são reconhecidamente um país que tem grande tecnologia no domínio do conhecimento do mar profundo. Os Açores têm características também únicas, e penso ser uma área que possa vir a ter progressos importantes no futuro”.

No que diz respeito ao binómio China-Lusofonia, foi abordado o recente sucesso do Fórum de Macau, que contou este ano com a presença do primeiro-ministro Li Keqiang. No ponto de vista do nosso entrevistado, o Fórum de Macau “está a entrar na idade adulta”. “Não há dúvida que todas as partes interessadas: a RAEM, o governo central em Beijing e os países de língua portuguesa, compreendem o potencial e a necessidade de traduzir concretamente em resultados as iniciativas que já existem - nomeadamente a questão ‘Uma Plataforma, Três Centros’ e o complexo [Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa], que foi também idealizado na sessão ministerial”.

No âmbito do intercâmbio cultural, sobretudo o projeto existente para a abertura de um centro cultural de Portugal na capital chinesa, Jorge Torres Pereira afirmou que é algo cada vez mais próximo de se tornar realidade. Os trâmites jurídicos já estarão todos alinhavados entre as duas partes, sendo que a presença do primeiro-ministro e do ministro da cultura nesta visita terá sido decisiva “para ser possível persuadi-los gentilmente de que é preferível ter um centro cultural ativo mais cedo do que mais tarde”.

O diplomata defende que o centro cultural tem um propósito “amplificador e multiplicador” das iniciativas culturais que se desenrolem não só na capital, como na China. “É claro que a embaixada pode cumprir o seu papel de amplificar certos eventos, mas se houver um centro cultural nós podemos, por exemplo, fazer uma atividade sobre bailado português, ao mesmo tempo que está um grupo de bailado a dar um espetáculo em Pequim, e assim sucessivamente”, finalizou.