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Especialista chinesa: ampliação do Brics pode ajudar o bloco a enfrentar crises regionais e globais

Fonte: Diário do Povo Online    20.06.2022 09h44

Por Lu Yang e Fu Yuanyuan

“Com 16 anos de desenvolvimento, o Brics já se tornou uma força proativa, estabilizadora e construtiva no palco mundial, dando um contributo para a paz e estabilidade mundiais, união internacional e reforma da governança global,” disse He Luyang, especialista em estudos latino-americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, numa entrevista exclusiva ao Diário do Povo Online.

Cinco anos após a Cúpula de Xiamen, a China volta a presidir a Cúpula do Brics em 2022, ano em que várias atividades foram e serão realizadas.

O conceito Brics foi criado por Jim O’Neill, ex-economista chefe do Goldman Sachs, em 2001. Em 2006, o primeiro encontro entre os ministros das Relações Exteriores do Brasil, Rússia, Índia e China marcou o início da cooperação entre estes países. “Após o estabelecimento do mecanismo, os países do Brics aprofundaram a cooperação e realizaram um desenvolvimento coordenado, pautado pelo aumento do investimento mútuo e do intercâmbio interpessoal”, afirmou He.

Enquanto primeiro país do “Brics” por ordem alfabética, o Brasil vem mantendo uma cooperação frutífera com a China, sobretudo no campo econômico e comercial. O Brasil é o oitavo parceiro comercial da China, enquanto a China é, há 13 anos consecutivos, o maior parceiro comercial do Brasil, com um volume do comércio bilateral superior aos US$ 100 bilhões por 4 anos. Perante o choque da Covid-19, o comércio sino-brasileiro demonstrou resiliência e dinamismo, sendo que, em 2021, o comércio bilateral aumentou em 37%, atingindo os US$ 164 bilhões. Entre 2007 e 2020, a China investiu no Brasil por US$66,1 bilhões, sendo uma das fontes principais do investimento estrangeiro no país sul-americano.

Na verdade, a cooperação entre os países do Brics não se limita apenas ao comércio, mas também à tecnologia, inovação, meio-ambiente e baixo carbono, entre outros. Na sexta reunião da Cosban, os líderes da China e do Brasil referiram que os dois países podem procurar oportunidades na energia alternativa e economia de baixo carbono.

Em 2010, a Universidade Tsinghua e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estabeleceram em conjunto o Centro China-Brasil de Mudanças Climáticas e Tecnologias Inovadoras para Energia, o qual se tornou uma plataforma importante para a cooperação e intercâmbio no âmbito da energia limpa e mudanças climáticas entre ambas as partes. Em 2014, a State Grid começou a construir e operar a rede energética do Brasil, aprofundando a cooperação energética sino-brasileira. Em 2019, o projeto de transmissão de eletricidade Belo Monte (fase II) foi concluído e entrou em operação, dando um novo dinamismo ao desenvolvimento socioeconômico brasileiro. “A cooperação de economia de baixo carbono melhorou o meio-ambiente local e aperfeiçoou a estrutura energética, além de criar muitos empregos no Brasil,” observou He Luyang.

Devido à pandemia e à situação internacional, a segurança alimentar é uma questão preocupante para todo o mundo este ano. Graças ao mecanismo do Brics e às relações bilaterais, a cooperação agrícola entre a China e o Brasil obteve resultados frutíferos. Desde 2008 que a China é o maior destino de exportação dos produtos agrícolas do Brasil. Em 2020, apesar da pandemia de Covid-19, o comércio agrícola entre os dois países continuou a registrar um aumento, alcançando os US$34 bilhões, um incremento de 10% em termos anuais, o que representa metade das exportações brasileiras para a China. Em 2021, o valor das exportações agrícolas do Brasil para a China superou os US$41 bilhões, um aumento de 20,6%. Para He Luyang, a cooperação agrícola entre os dois países apresenta boas perspetivas: “Os dois países não só podem promover a facilitação dos negócios agrícolas através dos acordos bilaterais, como podem também reforçar a cooperação no sistema de logística, agricultura digital e de baixo carbono, e aumentar o intercâmbio de técnicos agrícolas”.

Perante a complexidade internacional e os desafios inerentes, He Luyang sugeriu que a China e o Brasil realizem cooperações pragmáticas nos seguintes aspetos: facilitação do comércio e investimento na agricultura, reforço da cooperação nas energias alternativas, e promoção da inovação tecnológica. “Além disso, os dois países podem fazer mais coordenações em plataformas multilaterais, como o Brics, G20, OMC e ONU, de modo a emitir uma maior voz e melhorar a capacidade dos países emergentes fazerem frente aos desafios”, apontou He.

Há cinco anos, a China apresentou o conceito “Brics+”, alvo de aplauso pelos outros membros do bloco. Em maio passado, os chanceleres realizaram o primeiro diálogo entre os países do Brics e outros mercados emergentes. Após sua criação, o mecanismo Brics vem sendo uma plataforma significativa de cooperação Sul-Sul. No ponto de vista de He, a inclusão de novos membros pode unificar os países em desenvolvimento e amplificar suas vozes na comunidade internacional, “particularmente no contexto de mudanças sem precedentes e da pandemia, a ampliação irá ajudar o Brics a enfrentar os desafios regionais e globais”. 

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