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Embaixador brasileiro na China: cooperação é frutífera sob o mecanismo do BRICS

Fonte: Diário do Povo Online    21.06.2022 08h38

Por Zhang Rong e Lu Yang

Antes da 14ª Cúpula do BRICS, que será realizada em Beijing, na quinta-feira (23) via videoconferência, o embaixador brasileiro na China Paulo Estivallet de Mesquita, concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário do Povo Online.

Estivallet afirma que desde a criação do grupo, os países do BRICS passaram a reunir-se periodicamente, com base em uma agenda determinada por eles próprios, relacionada a suas características comuns de grandes países em desenvolvimento. 

"Na área econômica, que é o principal foco da cooperação entre os BRICS, eu destacaria duas realizações excepcionais", frisou Estivallet. Segundo o embaixador, o primeiro é o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla ingles), criado pelos países do BRICS em 2014, que nesse curto período constituiu já uma substancial carteira de financiamento em áreas como infraestrutura, desenvolvimento urbano e energias limpas.

O segundo é o Arranjo Contingente de Reservas dos BRICS (CRA, na sigla inglesa), “que reduz o risco de pressões de curto prazo no balanço de pagamentos, reforça a estabilidade financeira e, por conseguinte, reduz o custo dos financiamentos”.

A China assume a presidência do BRICS neste ano. Estivallet espressou que a China está enfrentando o desafio em um momento particularmente difícil, em que a pandemia impossibilita os contatos diretos entre autoridades e diplomatas dos países do grupo. Realizar essa coordenação não é simples. “A China tem trabalhado com muito afinco para superar esse obstáculo”.

Quanto à cooperaçao do BRICS, Estivallet referiu que o Brasil atribui especial importância à cooperação entre os países do BRICS, sobretudo em áreas como economia e finanças, comércio, saúde e vacinas, combate ao terrorismo e a crimes transnacionais, ciência, tecnologia e inovação. “A reunião de Cúpula do BRICS, que se realizará em breve, será oportunidade para reafirmar, no mais alto nível, o compromisso dos países com essa cooperação, tendo sempre em vista o bem-estar de nossos povos,” destacou Estivallet.

A segurança alimentar é também uma grande preocupação este ano, devido ao impacto da pandemia de Coivd-19 e à situação regional.

Estivallet disse que a interrupção das cadeias de produção e comércio provocada por essas crises gerou aumentos dos preços de alimentos, com impacto desproporcional sobre as populações dos países menos desenvolvidos. “O Brasil está ciente de seu papel como grande fornecedor global de alimentos e tem reforçado sua contribuição para a segurança alimentar mundial, mantendo seu setor agropecuário, reconhecidamente um dos melhores do mundo, aberto para suprir a demanda de outros países".

No que diz respeito à cooperação alimentar Brasil-China, Estivallet mencionou que o Brasil mantém uma parceria estável e confiável para a China, sendo capaz de, ao longo dos anos, fornecer as quantidades demandadas pela China, com qualidade e preços competitivos.

Diante o contexto de pandemia global de Covid-19, os países do BRICS trabalham juntos para combater a pandemia. Este ano, o lançamento do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Vacinas do BRICS deu um novo passo sólido na luta conjunta contra a pandemia.

Segundo Estivallet, a pandemia de Covid-19, com seus trágicos custos humanos e econômicos, obrigou todos os países a rever sua atuação na área da saúde, desde a prevenção do surgimento de novas doenças até o desenvolvimento de vacinas e remédios para as moléstias que já conhecemos. “O BRICS permite que vejamos o tema em outra escala, que dificilmente conseguiríamos alcançar em tratativas apenas bilaterais,” disse. 

O desenvolvimento verde e de baixo carbono e a luta contra as mudanças climáticas serão também temas-chave da cúpula, sendo que tanto a China como o Brasil introduziram políticas e medidas correspondentes.

A China estabeleceu o objetivo de alcançar o pico das emissões de dióxido de carbono antes de 2030 e a neutralidade de carbono antes de 2060, enquanto o Brasil, como um dos principais produtores mundiais de etanol, continuará a promover a produção de energia renovável no futuro. 

Estivallet disse ao Diário do Povo Online que o Brasil é um dos líderes globais na adoção de energias renováveis. "Cerca de 48% da energia utilizada no Brasil é renovável, contra uma média mundial de 13,8%, e de 11% entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A participação das energias renováveis na geração de eletricidade no Brasil alcançou 85% - uma das mais altas do mundo”.

 Estivallet acredita que há um grande potencial de cooperação entre o Brasil e a China no desenvolvimento energético: "O Brasil quer expandir ainda mais a participação do uso de energia renovável, e a China é um dos principais fornecedores mundiais de tecnologia de energia limpa que pode ajudar o programa de energia renovável do Brasil."

Durante a última década, as relações bilaterais entre os dois países têm sido construtivas e aprofundadas, com resultados frutíferos em todos os aspetos. Este ano é assinalado o décimo aniversário da elevação do relacionamento bilateral ao nível de “Parceria Estratégica Global” entre o Brasil e a China.

Os líderes dos dois países têm mantido o diálogo, reletindo o bom ritmo das relações bilaterais. Na última reunião da COSBAN, realizada há algumas semanas, foram adotados o “Plano Estratégico 2022-2031” e o “Plano Executivo 2022-2026. De acordo com o embaixador, os dois documentos, “que abrangem todos os setores do relacionamento bilateral - da cooperação econômica à cultural, passando por investimentos, turismo, ciência e tecnologia e educação - nortearão a cooperação bilateral na próxima década”.

Com base neles, pretendemos construir mais uma década de relacionamento mutualmente benéfico para o bem-estar entre os dois povos, destacou Estivallet. 

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