Por Lu Yang
Penildon Silva Filho, vice-reitor da Universidade Federal da Bahia
O 20º Congresso Nacional do Partido Comunista da China teve início em Beijing, no domingo (16). Na ocasião, Xi Jinping proferiu o relatório ao 20º Congresso Nacional do PCCh, em nome do 19º Comitê Central do PCCh.
O congresso despertou a atenção do mundo inteiro. Penildon Silva Filho, vice-reitor da Universidade Federal da Bahia, é um das personalidades que acompanham o grande evento político da China. Ele concedeu recentemente uma entrevista exclusiva ao Diário do Povo Online, onde partilhou sua opinião sobre o Congresso e o desenvolvimento da China na última década.
Pergunta: O 20º Congresso Nacional do Partido Comunista da China foi inaugurado no dia 16 de setembro, em que foi publicado um relatório sobre o trabalho do PCCh. Qual o conteúdo do relatório que mais lhe interessou e porquê?
Resposta: Interessa-nos saber mais sobre a Educação na China, desde o nível da Educação Infantil até à Universidade. Interessa-nos saber qual o percentual da Educação Pública e o da educação privada e se essas escolas cobram mensalidades. Como acontece o financiamento da Educação chinesa. Percebi que há um esforço em garantir igualdade de oportunidades, ampliar o acesso e a equidade no acesso à educação, assim como valorizar os docentes, estimulando que os mesmos estejam em regime de educação integral. Essas políticas são procuradas no Brasil também, por isso, entendemos que nossos dois países podem compartilhar essas experiências educacionais.
Pergunta: Como analisa o desenvolvimento da China nas últimas décadas, especialmente nos últimos 10 anos? Qual considera ser a principal razão para o desenvolvimento sem precedentes da China? Que aspetos, especificamente, poderia destacar no desenvolvimento país?
Resposta: O crescimento econômico chinês, acompanhado de um processo profundo de inclusão social, distribuição de riqueza e ascensão social de sua população foi inédito na história humana. Mais de 1,4 bilhões de seres humanos passaram a viver com dignidade na China com um sistema socioeconômico que conseguiu aliar crescimento do poder econômico à justiça social. Esse aspeto serviu para mostrar que crescimento e desenvolvimento não precisam ser antagônicos à igualdade social e justiça, renovando a utopia socialista no século XXI.
Há várias razões para isso. Uma delas foi o papel do Estado no planejamento econômico e no protagonismo com várias empresas estatais, que sempre impulsionaram o desenvolvimento econômico no país. A China permite a existência de empresas privadas, grandes e pequenas, cooperativas, pequenas empresas familiares, mas sempre com um planejamento estatal a cada cinco anos que garante racionalidade, metas, prioridades e objetivos que visam o bem comum e o desenvolvimento social da nação. Essa hegemonia do Estado na planificação e no protagonismo econômico foi fundamental para o papel da China hoje. Outro aspecto para esse crescimento foi a prioridade dada à Educação, à Ciência, à Tecnologia e à Cultura pelo povo chinês, fazendo com que o país despontasse como um grande centro universitário mundial, com vasta produção científica e com áreas de desenvolvimento científico de ponta. Um terceiro ponto foi a postura internacional da China, sempre promovendo a paz e a cooperação entre os países, com uma relação de cooperação que tem como principal exemplo o projeto One Belt, One Road. A iniciativa dos BRICS, construída junto com o Brasil, demonstra a busca de um mundo multipolar e objetiva uma relação harmônica e benéfica para todos.
Pergunta: Que papel você acha que o PCCh desempenha no desenvolvimento da China?
Resposta: O PCCh foi a liderança responsável pela libertação da China do controle colonial e na guerra de libertação que depois garantiu a estabilidade necessária para que se alcançasse o desenvolvimento econômico com justiça e igualdade sociais, assim como uma relação harmoniosa com os vizinhos e com as demais nações do mundo. O PCCh também manteve vivas as relações com as comunidades no campo e na cidade, permitindo uma ampla participação social na definição dos destinos da nação, e promoveu reformas econômicas internas. Com igual determinação, buscou uma política internacional pautada na cooperação e no multilateralismo, apresentando uma forma diferente de atuação em relação às posturas imperialistas que eram anteriormente hegemônicas do Ocidente.
Pergunta: De acordo com um relatório divulgado recentemente pelo Departamento Nacional de Estatística da China, a taxa média do contributo da China para o crescimento econômico mundial ocupou o primeiro lugar no mundo durante a última década. O crescimento econômico da China contribuiu positivamente para a recuperação da economia mundial. Que aspetos destacaria da contribuição da China para a recuperação e desenvolvimento da economia mundial?
Resposta: uma contribuição fundamental para o crescimento mundial pela China foi a demonstração de que as forças de mercado sozinhas, deixadas à sua própria sorte, com suas movimentações, sem qualquer planejamento, não são capazes de promover desenvolvimento, sair de crises cíclicas do capitalismo nem de promover igualdade social. O modelo do livre mercado perdeu espaço justamente para um outro modelo, que combina o desenvolvimento das forças produtivas do mercado com um planejamento estatal e a força de mais de 150 empresas estatais. E agora, com a proposta do Cinturão e Rota, que pode se estender para a África e a América Latina, esses países podem alargar essa compreensão de planejamento econômico e social como novo modelo. O mercado chinês permitiu também o crescimento de diferentes setores econômicos em outros países, como fornecedores de produtos e serviços, contribuindo para o crescimento global.
Pergunta: Os líderes chineses afirmam recorrentemente que "águas límpidas e montanhas exuberantes são bens inestimáveis". Qual o balanço que faz sobre o progresso da China em matéria de proteção ambiental e sustentabilidade nos últimos anos?
Resposta: o Projeto de Civilização Ecológica na China traz muitos avanços nas suas metas, e a China se comprometeu com a emissão zero de carbono em 2060 pelos acordos internacionais. Tem investido fortemente de energia solar e eólica, em tecnologia de transportes elétricos, e tem um programa muito audacioso de reflorestamento e florestamento, essencial para promover a captura de carbono da atmosfera. Nesse sentido é um bom exemplo para o mundo.