Por Beatriz Cunha, Lu Yang e Zhang Rong
O presidente brasileiro Lula, que assumiu a presidência do Brasil em janeiro deste ano, está com visita agenda à China entre os dias 26 e 31 deste mês. Além de ser sua primeira visita à China desde que voltou a assumir a presidência do Brasil, Lula será também o primeiro chefe de Estado latino-americano a ser recebido por Xi Jinping desde que o último foi reeleito presidente chinês.
Numa entrevista exclusiva ao Diário do Povo Online, o professor de Direito Internacional e Coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da FGV Direito Rio, Evandro Carvalho, acredita que Lula pretende manter um diálogo com Xi Jinping de forma fluída, mantendo uma diplomacia presidencial bastante ativa.
Lula será acompanhado de empresários e parlamentares, o que “sinaliza a importância da China na economia brasileira”, disse Evandro, acrescentando que a expectativa é de que, com a visita, sejam capazes de ampliar suas exportações ou obter investimentos chineses para projetos no Brasil.
A China e Brasil são parceiros cooperativos estratégicos abrangentes e o Brasil é o maior parceiro comercial da China no mercado latino-americano. Segundo dados da Administração Geral das Alfândegas, o valor total das importações e exportações entre a China e o Brasil chegou a 1.142,21 trilhões de yuans (cerca de US$165,2 bilhões) em 2022, um aumento anual de 8,1%.
O comércio agropecuário é uma parte importante do comércio China-Brasil. Em 2021, as exportações agrícolas do Brasil para a China ultrapassaram US$ 40 bilhões. As commodities são a vocação natural do Brasil e a China busca produtos de alta qualidade, capazes de competir com os produtos chineses no mercado interno. Por isso, o Brasil é um grande fornecedor de soja, minério e petróleo, observou Evandro.
O professor acredita que o Brasil deverá utilizar o superávit que possui com a China para investir em outros setores, visando sua industrialização e transformação digital.
Devido aos impactos da pandemia da Covid-19, a grande tendência mundial é a diversificação de seus compradores, além do aprimoramento da própria produção. Com isso, talvez em 5 anos o superávit do Brasil com a China seja reduzido, o que direciona o Brasil a, além de manter a relevância das commodities, explorar novos setores como o industrial e tecnológico.
A mídia brasileira já noticiou que a visita de Lula à China terá como foco temas como o aprofundamento das relações econômicas e comerciais com a China e a promoção da cooperação tecnológica entre os dois países, incluindo a expansão da exportação de produtos de alto valor agregado, 5G, satélites e monitoramento ambiental.
A busca de novos caminhos poderá trazer bons resultados para as relações China-Brasil. Há muitas oportunidades de cooperação nas áreas de energias renováveis, infraestrutura, saúde, aeroespacial, educação, ciência e tecnologia e agricultura.
Evandro acredita ser importante a cooperação estratégica também na área de transporte e defende que Lula poderia explorar a vertente do desenvolvimento ferroviário chinês, fazendo, inclusive, sua visita a Shanghai através de trem-bala.
Os dois países têm muito em comum. A China anunciou em 2021 a erradicação da pobreza absoluta e lançou o slogan da revitalização rural. Já Lula propôs a meta "fome zero". A troca de experiências entre ambos na revitalização rural, na agricultura familiar, na área de saúde pública e outros setores pode agregar bons resultados.
O contexto econômico, político e social do Brasil para o terceiro mandato de Lula diverge do período em que realizou seus primeiro e segundo mandatos, tanto quanto o cenário chinês, que possui novas nuances. É preciso entender bem esse novo cenário, com pesquisa de campo, para saber como realizar o aprofundamento do diálogo de forma assertiva, destacou o professor.
A China tem dado ampla importância a mecanismos de integração entre países, como a Iniciativa do Cinturão e Rota e o mecanismo do BRICS. Neste último, o Brasil tem uma participação importante e a expectativa é de que Lula possa retomar o engajamento.
A presidência do Novo Banco de Desenvolvimento, ou Banco do BRICS, será assumida pela ex-presidente brasileira, Dilma Rousseff, o que sinaliza que Lula vê na instituição um banco estratégico e valoriza a boa relação entre os países. Enquanto funcionária internacional, Dilma trabalhará em função dos benefícios dos cinco membros, observou Evandro.