Por Shu Zhiliang
Em outono de 1937, o soldado japonês Asoo Tetsuo integrou-se no Exército Expedicionário Japonês para Xangai, onde colaborou no estabelecimento de vários “postos de mulheres de conforto” nesta cidade no leste da China, e onde documentou a atividade com fotografias. Na década de 90 do século passado, ele descortinou esta realidade negra da ocupação japonesa da China e publicou um livro com as fotos e os diários de guerra, intitulado de “De Xangai para Xangai”.
As fotos abrangem os documentos em torno da criação dos “postos de mulheres de conforto”, incluindo o sistema de recrutamento e exame de saúde. Algumas fotos serviram de evidências históricas para serem utilizadas no julgamento realizado em Tóquio em 2000, no julgamento de Haia em 2001, na audiência da ONU sobre as “mulheres de conforto”, assim como nos processos dos sobreviventes das “mulheres de conforto” contra a autoridade japonesa.
Juntamente com os testemunhos em primeira pessoa e as construções existentes dos antigos postos de mulheres de conforto, os estabelecimentos mostrados nas fotos de Asou expõem as evidências sobre a aplicação do sistema de “mulheres de conforto” pelo exército japonês na Segunda Guerra Mundial. Em 2014, a China pediu à ONU para catalogar os arquivos deixados pelo exército japonês no Registro da Memória do Mundo, incluindo as fotos tiradas por Asoo.
No entanto, a filha de Asoo, Amako Kuni, alegou que a China catalogara as fotos de seu pai na memória mundial sem permissão, acrescentando que o seu pai era apenas um fotógrafo, sem quaisquer motivos ulteriores, revelou um artigo publicado em junho passado no jornal japonês Sankei Shimbun.
Na verdade, o uso das fotos de Asoo na carta de solicitação era provar que o exército japonês estabelecera os “postos de mulher de conforto” durante a II Guerra Mundial. Para além disso, Asoo publicou suas fotos não só como hobby, mas para preservar esses arquivos históricos com uma postura severa. A menos que o Japão comprove a falsidade das fotos, a China não as irá remover.
A comunidade internacional já chegou a um consenso na questão. Em 2014, o Conselho de Direitos Humanos da ONU justificou que o Japão deve assumir a responsabilidade pelos assuntos relacionados com as “mulher de conforto”.
Atualmente, uma grande abundância de arquivos históricos comprova que o exército japonês aplicou o sistema de “mulher de conforto” durante a ocupação da China. Nos arquivos em japonês existe, por exemplo, a “Coleção de Arquivos das Mulheres de Conforto para Exército” (1992), por Yoshimi Yoshiaki, “Relações entre Exército Japonês e Mulheres de Conforto” (2006), por Suzuki Yuuko, Yamashita Yonne, e Tonomura Masaru.
Em torno da China, as obras como o “Estudo da Questão das Mulheres de Conforto”, lançado em 2012, e “As Mulheres nas Fortalezas – Pesquisa sobre escravas sexuais na província de Shanxi”, editado em 2011 por Zhang Shuangbing, revelaram os resultados da pesquisa sobre os “postos de mulheres de conforto” instalados em várias províncias chinesas pelo exército japonês. Em 2014, o Museu de Arquivos da Província de Jilin deu a conhecer os documentos sobre o exército japonês no nordeste chinês, assim como os criminosos de guerra do Japão, publicando mais materiais sobre o sistema das “mulheres de conforto”.
Para além dos arquivos escritos, centenas dos sobreviventes, testemunhas dos acontecimentos, e alguns veteranos japoneses, confirmaram a existência desse sistema cruel. Suzuki Hiraku, um oficial da brigada No. 117 do exército japonês, confessou em 1954, “entre outubro de 1941 e outubro de 1942, aplicamos o bloqueio econômico em Tianjin e Tangshan...instalamos postos de mulheres de conforto e capturamos 60 mulheres para violar.”
Este ano marca o 70º aniversário da vitória da guerra mundial contra o fascismo. O Japão, fação invasora da guerra, indigna todo o mundo por não refletir sobre as suas responsabilidades na guerra. Hoje em dia, o sistema criminoso eufemisticamente denominado de “mulheres de conforto” é conhecido por todo o mundo. A refleção sobre a história é, portanto, o único caminho correto a seguir pelo Japão.
(O autor é o professor da Universidade Normal de Xangai e diretor do Centro de Pesquisa da Questão de Mulheres de Conforto da China)