Kevin Rudd, ex Primeiro-ministro da Austrália e professor da Harvard Kennedy School, disse que os grandes empecilhos para as relações entre a China e os Estados Unidos podem ser gerenciados e que sua sugestão é exista uma narrativa baseada num realismo construtivo sobre os propósitos comuns, disse ele em uma entrevista ao jornal Global Times em Pequim, antes da visita de Estado do presidente Xi jinping aos Estados Unidos.
Rudd apontou que atualmente existem muitos obstáculos para as relações sino-americanas e que um dos principais obstáculos é que os dois países precisam decidir o que eles querem para o futuro das suas relações; e que eles precisam resumir isso em duas ou três frases.
“Isto porque você precisa explicar para os povos de cada país o que vocês querem para o futuro das relações sino-americanas”, explicou Rudd.
Rudd disse que atualmente existem muitas escolas de pensamento diferentes analisando sobre como deveriam ser essas relações no futuro. “No passado, eu descrevi isso como a falta de uma narrativa estratégica comum. Isso é muito importante porque não são apenas os líderes ou os governos que precisam saber para onde esses dois grandes países querem ir em relação ao outro, mas também o povo.”
A narrativa estratégica deve englobar as coisas que são positivas e também reconhecer àquelas que são difíceis, de forma que se possa lidar com elas de forma simutânea e ao mesmo tempo, disse Rudd.
“É por esta razão que minha própria sugestão é que haja uma narrativa realista e construtiva sobre os objetivos comuns. É muito fácil explicar para as pessoas que nós somos realistas quando discordamos de algo, e que somos construtivistas em todas as outras áreas onde nós estamos de acordo e podemos trabalhar juntos. Nós compartilhamos o mesmo desejo que é o de reforçar os objetivos comuns e o de reformar as regras da ordem atual para que sejam iguais para todos no futuro. É isso o que eu quero dizer por narrativa estratégica”, disse Rudd.
Rudd disse que as relações sino-americanas tem altos e baixos nas questões ligadas ao dia-a-dia. Entretando, no geral, são muito positivas.
“No presente, as relações China-EUA são positivas, desafiadoras e limitadas apenas pela imaginação. Então, o futuro dela pode ser descrita como criativa, cooperativa e construtiva”. Rudd ressaltou ainda que “qualquer um que esteja falando em crise nas relações sino-americanas está falando bobagem”.
“O discurso do presidente Xi na Conferência sobre os Trabalhos Relacionados aos Negócios Estrangeiros, em novembro de 2014, oferece uma ampla base para a cooperação entre os EUA e a China sobre temas ligados a ordem internacional”, disse Rudd. “Sobre temas ligados à segurança regional, apesar de diferenças sobre temas relacionados ao Mar do Sul da China, Mar do Leste da China e Taiwan, existem muitas áreas de cooperação estratégica e regional na Ásia”.
“Relações econômicas mútuas significam que vocês são inseparáveis. Se vocês são separados de repente, os dois serão severamente afetados economicamente”, afirmou Rudd.
“Os dois líderes são muitos experientes e maduros. A agenda cooperativa é muito maior que a agenda das dificuldades. Assim, nós podemos nos focar no copo meio cheio ou meio vazio. O foco sempre será no copo meio cheio”, disse Rudd.
Ele disse também que no processo de tranformação do velho para o novo modelo econômico, a China se deparou com alguns ventos contrários e algumas dificuldades. A China ainda está contribuindo para o crescimento global enquanto muitas outras economias não. As bases do crescimento chinês são sólidas.
“Os objetivos principais da China no longo prazo relacionados ao meio-ambiente e ao desenvolvimento econômico sustentável é tanto o de criar empregos no mundo como o de deixar um meio-ambiente sustentável para as próximas gerações”, salientou Rudd.
Ele também afirmou que na Ásia-pacífico, tanto os EUA como a China possuem uma oportunidade única de, conjuntamente com outros países da região, começarem a discutir sobre os detalhes do que o presidente Xi descreveu como o “Sonho da Ásia-pacífico”. A questão será como colocar carne nos ossos e dar cores à pintura. Penso que isso é possível por meio de um diálogo criativo.
Rudd disse que ele acredita que os EUA concluirão com sucesso a Parceria Tans-pacífico (TPP em inglês), e que é muito importante para os EUA integrar o TPP com o restante da região.
“A política comercial tem historicamente unido a região. O que menos queremos é que o TPP começe a dividir a nossa região em duas: O grupo do TPP e o grupo que não está inserido no TPP. Por isso a minha preocupação está ligada a uma possível divisão por causa do comércio”, disse Rudd.
“O desafio para os EUA e a China é o de trazer estes conceitos juntos depois que o TPP estiver concluído. Eu tenho sempre dito para meus amigos americanos para eles manterem as portas abertas para a China”, enfatizou Rudd.