Por Andreia Carvalho e Renato Lu
Beijing recebeu este fim de semana o IV Fórum Internacional do Ensino de Língua Portuguesa na China, coorganizado pela Universidade de Comunicação da China (UCC) e pelo Instituto Politécnico de Macau (IPM).
A 4ª edição do fórum, com o tema “Da Ásia Para o Mundo: Ensinar Português em Tempo de Globalização”, contou com a participação de mais de 70 especialistas e académicos provenientes de toda a China, Brasil e Portugal.
A cerimónia de inauguração, no dia 8, contou a presença de Hu Zhengrong, reitor da UCC, que, no discurso de abertura, relembrou que o primeiro curso de língua portuguesa na China foi criado em 1960, na instituição a que preside.
Citando Nelson Mandela, que disse que “se falarmos a um homem numa língua que ele compreenda, a mensagem entra na sua cabeça. Se lhe falarmos na sua própria língua, a mensagem segue diretamente para o coração”, Hu reforçou que, na era da globalização, é impreterível que sejam formados quadros capazes de interagir em várias línguas, promovendo, assim, o intercâmbio cultural.
Em representação de Jorge Torres-Pereira, o Embaixador de Portugal na China, Joana Pinheiro, primeira-secretária da Embaixada, agradeceu o apoio das instituições de ensino ali representadas no desenvolvimento e expansão do ensino da língua portuguesa na China.
Pelas palavras do Sr. Embaixador, o mapa do ensino de português na China tem vindo a ser alterado gradualmente, com cada vez mais instituições chinesas a oferecer cursos, sob influência de diversos fatores associados ao desenvolvimento das relações entre a China e os países lusófonos.
Salientando outros fenómenos que levaram à atual situação do ensino de português, o embaixador ressalta duas áreas que impulsionaram a dinâmica ascendente atual: “no campo universitário, com um processo imparável de internacionalização de universidades portuguesas, com cada vez mais alunos chineses dentro e fora da área restrita da língua portuguesa, com cada vez mais alunos em cursos técnicos (...) e no campo empresarial, com uma libertação de energias e fundos que muito poderão apoiar na questão de multiplicar as bolsas disponíveis e de apoio a estágios profissionais”.
Muito recentemente, foi também registado no Quadro Legal Português a figura da Empresa Promotora da Língua Portuguesa, que confere uma panóplia de benefícios, nomeadamente fiscais, às empresas que se envolvem no apoio à utilização, expansão e aprendizagem da língua portuguesa, revelou.
Também presente na sessão de abertura, Liu Shuxiong, presidente da Comissão de Orientação do Ensino de Línguas Não-Comuns do Ministério de Educação da China, reiterou que, nos últimos 20 anos, o ensino de português no país se tem desenvolvido a um ritmo acelerado.
“A realização destes fóruns promove o ensino de português e eleva a qualidade de formação de talentos, servindo como um bom exemplar para reforçar o intercâmbio e cooperação académica de cursos de línguas não-comuns entre as instituições de ensino superior”, reforçou.
Liu frisou ainda que o aumento do intercâmbio cultural e interpessoal, bem como o comércio bilateral entre a China e os países lusófonos, exige a formação de talentos de português de qualidade e em maior quantidade.
“Sob a orientação do Departamento do Ensino Superior do Ministério da Educação, a construção dos cursos de línguas não-comuns e a formação de talentos têm registado um desenvolvimento significativo nos últimos 10 anos, particularmente depois de 2013, com a implementação da iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota”, que promove o ensino dessas línguas nas universidades”, explicou.
João Neves, representante do Instituto Camões e diretor do Instituto Português do Oriente, e Carlos Ascenso André, coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa (CPCLP), compareceram também à abertura do fórum.
Participante no fórum e orador em uma das sessões, Song Haoyan, professor de língua portuguesa na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla inglesa), revelou ao Diário do Povo Online que atualmente “o plano curricular dos cursos é bastante simples […] com o desenvolvimento da iniciativa do ‘Cinturão e Rota’, é necessária a revisão do mesmo para a formação de quadros mais capazes”.
Macau, enquanto ponte entre a China e os países lusófonos, desempenha um papel importante no desenvolvimento do ensino de português no gigante asiático, e, por isso, “as universidades de Macau [MUST, IPM e Universidade de Macau] irão organizar várias conferências durante todo o ano para discutir o desenvolvimento do ensino de português como língua estrangeira na China, informou.
Quanto às previsões para o futuro, Song acredita que venham a surgir novos cursos de português em mais universidades, devido à carência de recursos humanos versados na área, pois “apesar de muitos alunos não quererem ir para fora, têm a possibilidade de trabalhar com a língua portuguesa aqui, na China”.
Durante esta edição, com a duração de dois dias (8 e 9 de julho), foram abordados diversos temas relativos ao ensino de língua portuguesa, permitindo a docentes e académicos a troca de experiências e ideias, visando a evolução do ensino da língua portuguesa na China.