Por Andreia Carvalho e Renato Lu
De visita pela primeira vez à capital chinesa, João Laurentino Neves, diretor do Instituto Português do Oriente (IPOR), marcou também presença na abertura do IV Fórum Internacional do Ensino de Língua Portuguesa na China.
No seu discurso na sessão de abertura, também na categoria de representante do Instituto Camões, João Neves salientou os esforços de todos os países e regiões lusófonas na promoção da língua portuguesa, ressaltando que a marca mais recente de vitalidade da língua de Camões surge “de outros importantíssimos polos de difusão do Português fora dos países e regiões onde é oficial”, dando especial ênfase “ao extraordinário trabalho que as autoridades e as instituições de ensino superior da República Popular da China (incluída a Região Administrativa Especial de Macau) aí têm assumido”.
“Sabemos que o valor estratégico hoje conferido à língua portuguesa advém largamente do seu potencial económico, como o evidencia o ‘Novo Atlas da Língua Portuguesa’. As novas rotas da língua estão, assim, indissociavelmente associadas às novas rotas de negócios e de cooperação, de que a forte aproximação dos países de língua portuguesa ao projeto visionário da RPC ‘Uma Faixa, uma Rota’, ou a criação do Fórum Macau são bons exemplos”, acrescentou.
Ainda no seu discurso, João Neves frisou que é essencial fortalecer o potencial económico da língua portuguesa, fornecendo competências especializadas a talentos bilingues em áreas centrais a essas rotas, citando o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, que disse que “conferir à cultura e à interculturalidade espaço de primeira linha nas relações (e no ensino de língua) é construir redes sociais, de cidadania e de cooperação de futuro”.
À margem do evento, em entrevista ao Diário do Povo Online, João Neves revelou que o que obviamente se destaca do levantamento de dados do ensino da língua portuguesa na China é o seu enorme crescimento nas instituições do ensino superior, que começa agora a expandir-se aos escalões de ensino inferiores.
“É nesse campo que a experiência do IPOR é fundamental, ou seja, é necessário deslocar o ensino a estruturas para além do ensino superior, mas que agem em complementaridade com aquela que é a formação do ensino superior, estamos a falar do ensino secundário, mas estamos também a falar de níveis técnico-profissionais”, disse.
Atualmente as relações estabelecidas são sobretudo de âmbito económico, “mas não devemos cingir a questão do ensino de português e chinês apenas ao nível do seu potencial económico”, reforçou, acrescentando que é importante traçar redes de cooperação, assentes num maior conhecimento mútuo entre a China e os países de língua portuguesa.
“Macau tem um papel muito importante nessas relações”, reiterou.
As instituições de ensino da RPC e de RAEM “têm feito um enormíssimo trabalho”, apoiadas pelos dois governos, que não só impulsionam o ensino como conferem programas de mobilidade aos alunos, salientou.
“A mobilidade dos estudantes é um elemento fundamental para que estes tragam com eles experiências que partilham com aqueles que estão em processo de decisão sobre se vão ou não estudar português”, reforçou o diretor do IPOR.
Para João Neves, na aprendizagem de uma língua, a decisão de estudar determinado idioma é feita de expetativas, e, neste sentido, é necessário, pela via do discurso de instituições governativas, empresas e instituições de cooperação, comunicar essas expetativas não apenas ao mercado, mas à sociedade.
“Não falamos apenas da empregabilidade, falamos das experiências positivas que a aquisição de uma nova ferramenta, neste caso a língua portuguesa, tem aportado às pessoas como capital social, como capital humano e também como capital económico”, enfatizou.
Quanto ao futuro do ensino de língua portuguesa na China, João Neves acredita que “tudo aponta para que este processo de crescimento do português não seja interrompido nos próximos tempos”.
“Com a intensificação das relações da RPC com os países da CPLP e a estratégia visionária ‘Uma Faixa, Uma Rota’, na qual os países da CPLP estão fortemente empenhados em participar, tudo indica que as perspetivas sejam muito animadoras para a língua portuguesa, e que a China e os seus novos falantes de português trarão um contributo fundamental àquilo que é a internacionalização e globalização da língua portuguesa”, referiu.
O que nos deve orgulhar é que tenhamos conseguido para a língua portuguesa, fruto deste trabalho de todos, esse papel hoje reconhecido como uma língua estratégica para o futuro, concluiu.