Rio de Janeiro, 14 ago (Xinhua) - A herdeira da família fundadora do banco Credit Suisse Roberta Luchsinger doará 500 mil reais ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), que teve os bens bloqueados por ordem do juiz Sérgio Moro, publicou na sexta-feira a Folha de São Paulo.
Os bens de Lula foram bloqueados no mês passado, após o juiz da operação Lava Jato ter condenado Lula em primeira instância a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Segundo o juiz, Lula seria proprietário de um triplex no Guarujá oferecido pela construtora OAS em troca de influência para obter contratos na Petrobras.
"Com o bloqueio dos bens de Lula, Moro tenta inviabilizá-lo tanto na política quanto pessoalmente. Vou fazer uma doação para que o presidente possa usar conforme as necessidades dele", afirmou Roberta ao jornal, acrescentando esperar que outras pessoas entrem na campanha de apoio financeiro a Lula.
Segundo a neta do suíço Peter Paul Arnold Luchsinger, a doação constará de uma mala com objetos de alto valor, entre eles um Rolex de R$ 100 mil, um anel de diamantes da Emar Batalha (R$ 145 mil) , uma bolsa Chanel (R$ 32 mil), um par de sandálias Christian Louboutin (R$ 3 mil) e um vestido Dolce & Gabbana (R$ 30 mil). "São itens que poderão ser leiloados em um evento em benefício do ex-presidente", destacou.
Além disso, Roberta mostrou um cheque de 28 mil francos (R$ 91 mil), mesada que recebia do avô morto em 8 de julho, aos 92 anos.
"Foi o último cheque que recebi dele e vou repassar integralmente ao Lula. Agora, já podem dizer que ele tinha conta na Suíça, aquela que os procuradores da Lava Jato tanto procuraram e não acharam", declarou em tom de ironia.
A reportagem relata que a herdeira pretende entregar a mala e o cheque pessoalmente a Lula nos próximos dias, em data que está sendo acertada com o ex-ministro de Lula Gilberto Carvalho.
Segundo a Folha, Roberta justifica a doação "com críticas ao que qualifica de 'excessos' e 'seletividade' da cruzada anticorrupção empreendida por Moro e companhia".
"É indevido esse protagonismo político da Lava Jato, que fere o sistema de pesos e contrapesos entre os poderes da República", diz. "Perseguir o Lula é perseguir o povo brasileiro."
Crítica aos cortes na área social aprovados pelo presidente Michel Temer, a herdeira afirmou ao jornal ser favorável à taxação das grandes fortunas. "Sou absolutamente contrária à redução do dinheiro que vai para os mais pobres ao invés de aumentar a tributação para os mais ricos."
Roberta, de 32 aaos, sempre teve posições políticas na contramão de sua classe social. É filiada ao PCdoB desde 2009, quando se casou com o ex-delegado federal e ex-deputado Protógenes Queiroz, de quem se divorciou há dois anos.
Na entrevista, anunciou que pretende se lançar candidata a deputada estadual em São Paulo em 2018 e lamentou que os partidos de esquerda, notadamente o PT, estejam sendo demonizados por parte da sociedade brasileira.
"Esse ódio exacerbado contra os partidos de esquerda, principalmente contra o PT, chegou ao ponto de cegar parte da sociedade. Virou moda se referir a Lula como ladrão. Esses que hoje o demonizam se esquecem de que Lula foi bom para os pobres e também para os ricos e deixou a Presidência com 90% de aprovação."
Mesmo diante da possibilidade de o ex-presidente ficar inelegível em 2018, Roberta Luchsinger declarou ao jornal que prosseguirá com a campanha de doação. "Independentemente de ser ou não candidato, este dinheiro vai permitir a Lula sair pelo Brasil espalhando esperança. Não podemos perder a crença na política. Precisamos de união."