Beijing, 8 fev (Xinhua) -- O secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, declarou em um discurso antes de sua viagem a cinco países da América Latina e o Caribe que, os Estados Unidos são o parceiro mais duradouro e poderoso da América Latina, enquanto a China é "saqueador" do continente latino-americano. As declarações de Tillerson receberam críticas amplas na América Latina, com acadêmicos criticando a atitude "arrogante e hipócrita" dos EUA e acreditando que a China propõe uma visão de desenvolvimento igual e de ganho mútuo e dá as mãos à América Latina de forma verdadeiramente justa.
O coordenador acadêmico do Centro de Altos Estudos do Desenvolvimento e as Economias Emergentes de Venezuela, Luis Ricardo Delgado, considera que as declarações de Tillerson são "mais uma amostra da arrogância imperial norte-americano e um discurso anacrônico da Guerra Fria".
Para Delgado, as declarações dos EUA são muito hipócritas, já que os EUA são o país com o maior número de bases militares do mundo.
Segundo o professor de geopolítica internacional da Universidade Militar de Venezuela, Luis Quintana, Tillerson está "reivindicando a doutrina Monroe no século 21", que continua considerar a América Latina e o Caribe dentro de seu alcance de influência.
Para o senador chileno Alejandro Navarro, as declarações de Tillerson, de que a China e a Rússia são um perigo para a América Latina, são graves e um péssimo sinal para a região.
"O secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, já antecipou que a motivação de sua visita à região é tentar recuperar o espaço perdido por seu país", disse à Xinhua Evandro Menezes do Carvalho, professor de Direito Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em Rio de Janeiro.
Porém, Carvalho considerou que as declarações de Tillerson "nos dão a oportunidade de nos questionar quais são as necessidades da região e, sem dúvida, não são nem as 'novas' nem as 'antigas' potências".
Para o analista brasileiro, América Latina "deve afirmar sua soberania mas com sabedoria".
O fato de que a China se tornou no primeiro ou segundo parceiro comercial da América Latina e em um dos maiores investidores, deve-se, na opinião do professor da FGV, a que "os EUA deixaram de investir na região".
Neste contexto, Carvalho fez um chamado aos países latino-americanos para que assumam "o mesmo pragmatismo" e "rechacem qualquer armadilha discursiva que descreva o mundo como um quadrilátero onde há dois oponentes em disputa".
Para Damaso Morais, acadêmico da Faculdade de Ciências e Sociais da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), embora Tillerson procurará nesta viagem pelo México, Argentina, Colômbia, Peru e Jamaica "a dar as mãos", ao final "não serão suficientes as palavras para avançar em uma agenda para frente".
Por outro lado, o politólogo Mário Torrico, que também é professor e pesquisador da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais do México (Flacso), o papel da China na região é destacável, não apenas como investidor, mas também como um importante receptor das exportações da América Latina.
"O mercado chinês é gigantesco e o potencial de que isso continue crescendo é grande", sublinhou.
De acordo com o especialista, uma das razões pelas quais os países da América Latina se aproximaram mais à China é que "os EUA estão ameaçando com práticas protecionistas".