O presidente estadunidense assinou um memorando executivo na quinta-feira, impondo até 60 bilhões em tarifas contra as importações chinesas e restrições ao investimento em transferências tecnológicas e aquisições por parte da China. Esta é a maior ação de cariz comercial a ter lugar desde a instauração da administração Trump, cuja escala massiva raramente foi testemunhada, mesmo na história dos conflitos comerciais internacionais.
Embora as notícias tenham chegado a Beijing pela meia-noite, o governo chinês deverá responder rapidamente, de modo a defender os direitos comerciais legítimos do país. A opinião pública indica que a China irá retaliar com medidas semelhantes sobre as importações de soja e produtos agrícolas.
A porta-voz da chancelaria chinesa, Hua Chunying, disse na quarta-feira que os dois países não deveriam começar uma guerra comercial. Hua afirmou que a China não irá temer ou hesitar caso seja forçada a esta situação. É possível afirmar que não se trata de retórica diplomática. Ao invés disso, trata-se antes da voz unida do povo chinês contra intimidações alheias.
A administração Trump parece ter avaliado erradamente a situação, devido à sua interpretação errônea de alguns fatores-chave. Em primeiro lugar, o governo norte-americano está equivocadamente atribuindo as culpas pelas suas dificuldades econômicas à relação comercial com a China. Segundo, está a superestimar a sua capacidade de apoiar o comércio internacional nos setores privados da economia de mercado, bem como as vantagens do país em partir para uma guerra comercial com a China. Por fim, está subestimando o compromisso chinês relativamente a medidas retaliatórias, não tendo considerado corretamente o preço a pagar ao desencadear tal conflito.
Há um provérbio antigo chinês perfeitamente aplicável a esta situação, que diz que: “A presunção das tropas destiná-las-á ao fracasso”. Esta guerra comercial representa metaforicamente a administração Trump “brincando com o fogo”, e irá acabar em desastre para os EUA.
As tentativas de Trump de impor tarifas e resolver problemas de desequilíbrios comerciais, revivendo simultaneamente a economia americana, é uma solução incrivelmente limitada com a qual a grande maioria do povo americano discorda. De fato, as tarifas têm sido amplamente criticadas por cidadãos e empresas. Até certo ponto, é possível inferir que esta guerra comercial é desejada e levada a cabo somente pelo presidente e pela sua equipa, carecendo do restante apoio nacional.
A China está agora sendo forçada a responder a esta ameaça. A sociedade chinesa está unida, e isso refletir-se-á nas suas ações, caso esta batalha comercial seja levada avante. Os cidadãos chineses possuem um nível de resistência com o qual os EUA não podem competir.
Qualquer conflito comercial que possa vir a existir está fadado a um resultado mutuamente danoso. Enquanto ambos China e EUA são economicamente resilientes, um irá invariavelmente falhar e tal resultará numa resposta política. O povo chinês e o público americano irão culpar o presidente Trump pela instabilidade que ambos os países terão de enfrentar. Além disso, a administração Trump, juntamente com o partido republicano, irão sofrer consequências nas futuras eleições intermédias e presidenciais americanas. A guerra comercial será usada como um exemplo dos falhanços de Trump, caso ele pretenda se recandidatar.
A China é uma nação poderosa e uma potência que não pode ser ignorada. Tal significa que o país não irá ceder a engodos ou à exploração. Por outras palavras, os EUA não devem alimentar a fantasia de que a China irá ceder à pressão perante este tipo de táticas.
Outro aspeto importante a ter em consideração, é que o mercado de consumo chinês superou o norte-americano e está ainda se expandindo a grande velocidade. Se uma guerra comercial vier a ter lugar, os dois países teriam de medir forças face ao cenário doméstico um do outro.
A resolução do défice comercial entre os EUA e a China é um tema complicado, que requer que ambas as partes coloquem de lado as diferenças e trabalhem em conjunto. Se a administração Trump for irracional ao ponto de considerar que uma guerra comercial irá garantir alguma margem de lucro, o fracasso é o único resultado que daí poderá advir.
Vários analistas interpretaram o memorando de quinta-feira como a nova forma de Trump intimidar a China. Estas taxas são apenas uma nova forma de fletir os seus músculos perante o mundo. Porém, o atual presidente não goza mais da vantagem sobre a China que os seus predecessores tiveram. A China está a par dos EUA em diversos domínios, e o seu mercado de consumo revela inclusive sinais de superar o homólogo estadunidense em algumas áreas. As famosas birras intempestivas de Trump indicam que a sua imagem constitui uma fachada e que se trata de um dos presidentes americanos com menos brio.
Washington deve descartar a ideia de que a China irá ceder nesta guerra comercial, pois não irá encontrar quaisquer bandeiras brancas que assinalem uma rendição chinesa. Pelo contrário, Washington irá investir cegamente sobre a muleta de um toureiro.
Fonte: Global Times