Os diretores do filme “Arábia”, Affonso Uchôa e João Dumans
O 8º Festival Internacional do Filme de Beijing (FIFB) foi encerrado no dia 22 na capital chinesa. O único filme brasileiro que integra a Exposição de Filmes em Beijing, sessão importante do FIFB, se chama “Arábia”, e foi dirigido por Affonso Uchôa e João Dumans. O filme foi exibido no dia 20 de abril no Cinema de Jackie Chan em Wukesong, no oeste de Beijing. O filme mostra a vida de um trabalhador brasileiro, refletindo o lado humano de um país em desenvolvimento.
Os filmes brasileiros são pouco conhecidos na China. Os mais conhecidos entre o público chinês são os filmes “Tropa de Elite” e “Cidade de Deus”. Dessa forma, um filme que retrata a vida de um trabalhador brasileiro comum chamou a atenção de muitos espectadores chineses, e vários deles ficaram comovidos por “Arábia”:
“O fim me deixou em choque. Porque a história rodou e ao fim, fez pensar sobre o significado da vida, do trabalho, da industrialização e até da proteção do meio ambiente” disse Qi Chang, estudante do Conservatório Central de Música.
“Espero poder assistir mais filmes como ‘Arábia’, que descreve as experiências das pessoas de classe baixa” disse Wu Hongyi, profissional cinematográfico.
“O filme me comoveu e deu uma sensação que na nossa vida, existem muitos momentos em que queremos lutar contra a realidade, mas falhamos devido a muitos fatores. A vida parece um círculo, e às vezes queremos sair dele, mas não conseguimos” disse Rita Ning, estudante da Universidade dos Estudos Estrangeiros de Beijing.
Foto retirada do filme
O feedback do público chinês comprova a força das histórias dos pequenos papéis dentro da sociedade. A intenção dos diretores é oferecer um contraponto às grandes teses, nos aproximando do lado humano da desigualdade e da máquina de produção de precariedades que nos cerca e restringe as nossas vidas. O diretor João Dumans afirmou que o processo de produção nos últimos 3 anos foi bastante gratificante, e eles querem expressar o que os trabalhadores estão pensando.
“Achamos que o nosso filme tem muita coisa em comum com a situação do mundo contemporâneo, na medida em que o filme nos leva a pensar e refletir sobre a função do trabalho nas nossas vidas. Queremos transmitir através desse filme a grandeza da vida dos trabalhadores, a grandeza dessa luta cotidiana, que tenta sobreviver, mas ao mesmo tempo, a beleza dos momentos de prazer, os encontros e a beleza das pessoas que a gente vai encontrar ao longo da nossa vida.”
Diferente da maioria dos filmes brasileiros que os chineses conhecem, o “Arábia” não tem praia, carnaval, futebol, nem outros símbolos que os chineses esperam que os filmes brasileiros apresentem. O local da narrativa do filme é o interior do estado de Minas Gerais, terra natal e onde vivem os diretores. Através do filme, os chineses podem conhecer um outro aspecto do Brasil.
“É um filme que fala muito do interior do Brasil. A gente conhece muito o Brasil através de certas cidades tipo Rio de Janeiro, São Paulo ou outras cidades da praia e na beira do mar, ou então por causa das favelas, que são grandes aglomerados urbanos e periféricos de pessoas mais pobres. Para nós, a gente se interessava muito por um outro lugar do país, que é o interior mesmo. O Brasil é gigantesco, e a maior parte dele é de campos agrícolas ou plantações, lugares pouco conhecidos onde as personagens vão circulando.”.
Foto retirada do filme
Enquanto o “Arábia” faz parte do FIFB, entrou pela primeira vez em exibição no circuito comercial brasileiro. Antes disto, o filme participou em vários festivais internacionais com resultados notáveis. Os diretores pretendem que o filme seja conhecido pelo maior número possível de países, e sua integração ao FIFB é uma tentativa de divulgá-lo na Ásia. Para João Dumans, o FIFB possibilita que a China e o Brasil, e até mais países, procurem oportunidades de cooperação no futuro.
“Temos interesse de participar e desenvolver projetos. Gostaríamos tanto de apresentar projetos nossos para possíveis patrocinadores ou distribuidores chineses quanto em acolher e participar em projetos de filmes chineses. Acho que isso são intercâmbios culturais e econômicos. A indústria de cinema entre o Brasil e a China é muito promissora. Acho que é incrível que o festival de Beijing proporcione esse tipo de oportunidade, de negócios e mercados, porque hoje em dia a produção do cinema está cada vez mais globalizada e internacional”.