Rio de Janeiro, 23 mai (Xinhua) -- Um dos delatores do caso que investiga a compra de votos no Comitê Olímpico Internacional (COI) para que o Rio de Janeiro fosse escolhido como sede dos Jogos de 2016 afirmou na terça-feira (21) perante a Justiça que houve o pagamento de US$ 2,5 milhões para comprar quatro votos de dirigentes africanos.
Durante uma audiência na Justiça Federal relativa à Operação "Unfair Play", Carlos Miranda, apontado pela promotoria como o operador financeiro do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, confirmou que este lhe havia contado dentro da cadeia que o empresário Arthur Soares pagou propina aos dirigentes africanos.
Miranda, que firmou um acordo de delação premiada com as autoridades, declarou que os US$ 2,5 milhões eram para "garantir" que o Rio fosse sede da Olimpíada de 2016 e que Arthur Soares, também conhecido como "Rei Arthur" e considerado fugitivo da Justiça desde o ano passado, teria efetuado os pagamentos por meio de um banco francês.
Essa transação já era investigada pelos procuradores e constava na colaboração de Miranda, mas foi a primeira vez que o delator confirmou o esquema em juízo.
Segundo Miranda, a conversa aconteceu no dia 3 de março de 2017, quando o jornal francês "Le Monde" noticiou que havia suspeita de compra de votos. Os dois teriam ouvido a notícia no rádio e conversado durante o banho de sol na quadra de futebol do presídio Bangu 8.
"Não participei dessa negociação. Mas assim que saiu no 'Le Monde' o envolvimento do Arthur Soares na compra de voto para a Olimpíada, o Sérgio, conversando comigo, fez essa declaração de que o Arthur Soares efetivamente tinha feito o pagamento num banco na França para a compra de quatro votos na escolha da sede. E que esses quatro eram da área do atletismo", afirmou.
A investigação do Ministério Público indica que o dinheiro foi transferido por Soares Filho para uma empresa de Papa Massata Diack, filho de Lamine Diack, ex-presidente da IAAF (Associação Internacional de Federações de Atletismo).
A defesa de Cabral contestou a declaração de Miranda e perguntou a ele por qual motivo o ex-governador confessaria um crime para alguém que estava negociando fazer uma delação.
Miranda respondeu que ele fazia parte da organização criminosa chefiada por Cabral. "Participei de uma organização criminosa em que Sérgio Cabral era o chefe. Os comentários sobre esse crime ou outros crimes aconteceram ao longo de 30 anos. O Arthur era um parceiro de crime".
Cabral, governador do Rio de Janeiro entre 2007 e 2014, está preso desde novembro de 2016, após descobrir-se uma grande rede de desvios financeiros em seu mandato.