Dados do Gabinete Nacional de Estatísticas e do Ministério dos Assuntos Civis revelam que a taxa nacional de casamentos da China registrou “cinco quedas consecutivas”, desde 2013. Cada vez mais jovens recusam avançar para o matrimônio assim que chegam à “idade de casar”.
Em 2013, a taxa nacional de casamentos era de 9,9‰, em 2014 foi de 9,6‰. Em 2018 foi de apenas 7,2‰, estabelecendo um novo mínimo histórico face ao ano de 2013.
A taxa de casamentos tem vindo a protagonizar também a uma crescente disparidade geográfica. Em termos gerais, quanto mais economicamente próspero o território, menor é a taxa de casamentos.
Por exemplo, em 2018, a taxa de casamentos em Shanghai e na província de Zhejiang foram as mais baixas do país, com apenas 4,4‰ e 5,9‰. Guangdong, Beijing e Tianjin registraram também números baixos.
As regiões com taxas mais elevadas foram o Tibete, Qinghai, Anhui, Guizhou, entre outras regiões menos desenvolvidas. A taxa de casamentos em Guizhou em 2018 foi de 11,1‰, a mais alta do país.
No entanto, este conjunto de dados não surpreendeu os internautas chineses. Pelo contrário, muitos deles afirmam que “esta geração de jovens tem a mente mais aberta”.
Aos olhos dos jovens, na sociedade contemporânea, o casamento deixou de ser “uma obrigatoriedade”, sendo cada vez mais aqueles que pretendem desfrutar do estatuto da vida de solteiro.
“Aqueles que na sociedade atual ainda consideram que ficar solteiro ‘não é normal’ são já demasiado conservadores. Eu não me sinto minimamente ansiosa por estar solteira na idade de casar”, disse Yang Yue (pseudônimo), uma mulher de 30 anos, relativamente à sua situação corrente.
Atualmente Yang Yue dispõe de um rendimento mensal estável e não tem a seu cargo um crédito à habitação. Vai ao ginásio semanalmente, viaja de férias com suas amizades e vai às compras.
A sua atitude perante o casamento é seguida por vários outros jovens da sua idade.
Um boletim do Ministério dos Assuntos Civis de 2018 revela que, antes de 2012, a maior parte dos casamentos registrados ocorria entre os 20 e os 24 anos. Atualmente, tende a ocorrer entre os 25 e os 29 anos. Os sociólogos qualificam esta alteração como “uma mudança de perceções”.
Lu Jiehua, professor de sociologia na Universidade de Pequim, afirma que, com o desenvolvimento sócio-econômico, o conceito de matrimônio e de ter filhos mudou afincadamente entre as diferentes gerações. Para grande parte dos que nasceram nas décadas de 80 e 90 do século passado, o casamento tardio, ou mesmo a renúncia a este, são opções tomadas como válidas, sendo estas cada vez mais validadas pela sociedade. O casamento deixou de ser a única escolha.
Os custos rompantes que acarretam a educação de uma criança hoje em dia são também um forte motivo desencorajador do casamento.
“O custo de vida das grandes cidades e das áreas rurais é cada vez maior. Há muitas pessoas que não podem sequer considerar o casamento, ou não o podem fazer para já”, refere Lu Xiaowen, investigador de sociologia da Academia de Ciências Sociais de Shanghai.
Esta realidade gera alguma preocupação entre os especialistas, que consideram o impacto negativo do declíneo de jovens dispostos a casar.
Liu Yuanju, investigador no Instituto de Finanças e Direito de Shanghai, acredita que os efeitos dissuasores do desenvolvimento econômico e da urbanização têm um “efeito duplo” sobre a hesitação perante o matrimônio. A redução da taxa de casamentos, refere, é um fenômeno “normal” e deve ser considerado como tal. No entanto, devido a questões demográficas, devem ser implementadas políticas de estímulo ao casamento e à natalidade, conclui.