Guiyang, 12 jan (Xinhua) -- A China pôs em uso o maior e mais sensível radiotelescópio do mundo neste sábado, iniciando sua operação formal após três anos de teste que geraram resultados produtivos.
O telescópio será gradualmente aberto aos astrônomos em torno do globo, lhes fornecendo uma ferramenta poderosa para desvendar os mistérios acerca da gênese e evoluções do universo.
Todos os indicadores técnicos do aparelho cumpriram ou superaram o nível planejado, e seu desempenho é mundialmente avançado, disse Shen Zhulin, funcionário da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, em uma reunião de lançamento realizada no sábado.
O Radiotelescópio Esférico de Abertura de Quinhentos Metros (FAST, na sigla em inglês) é um telescópio de antena parabólica única com um diâmetro de 0,5 km, e uma área receptora equivalente a cerca de 30 campos de futebol. Está localizado em uma depressão kárstica redonda e profunda, formada naturalmente, na Província de Guizhou, no sudoeste da China.
Após a fase de comissionamento, o FAST agora já pode ser usado para observação em plena capacidade, e deverá fazer importantes descobertas científicas nos próximos dois ou três anos, previu Jiang Peng, o engenheiro-chefe do telescópio.
Em mais de dois anos, o dispositivo identificou 102 novos pulsares, superando o número total de pulsares descobertos pelas equipes de pesquisa na Europa e nos Estados Unidos durante o mesmo período.
Também melhorou a exatidão do timing dos pulsares para cerca de 50 vezes o nível anterior, possibilitando a detecção, pela primeira vez, de ondas gravitacionais Nahertz de extremamente baixa frequência.
Apelidado "Olho de Céu da China", o FAST é cerca de 2,5 vezes mais sensível que o segundo maior telescópio do mundo, e tem a capacidade máxima de receber 38 gigabytes de informações por segundo.
O FAST expandiu quatro vezes a extensão espacial que os radiotelescópios podem explorar eficazmente, o que significa que os cientistas podem descobrir mais estrelas desconhecidas, fenômenos cósmicos e leis do universo, ou até detectar vida fora da Terra, explicou Li Kejia, cientista do Instituto Kavli de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Pequim.
Carl Heiles, professor de astronomia da Universidade da Califórnia, Berkeley, e membro da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, disse que o FAST tem proporcionado oportunidades revolucionárias para a astronomia, especialmente na identificação de pulsares e observação de nuvens interestelares.
Com um custo de quase 1,2 bilhão de yuans (US$ 170 milhões), o projeto foi concluído em setembro de 2016, mais de 20 anos após ser proposto por astrônomos chineses.
Yan Jun, ex-diretor dos Observatórios Astronômicos Nacionais da Academia Chinesa de Ciências e gerente do projeto do FAST, disse que com uma crescente força econômica e o aumento do investimento em pesquisa científica básica, a China está apta a fazer contribuições maiores para a causa comum da humanidade.
Cerca de 10 cientistas dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Paquistão trabalharam no FAST. São esperadas mais colaborações mundiais em áreas como detecção de ondas gravitacionais e interferometria de linha de base muito longa (VLBI) após sua operação formal.
Para garantir o desempenho do FAST, cerca de 7 mil moradores que viviam nas redondezas foram realocados, antes de mudarem novamente para uma vila a 10 kms do telescópio. Um parque astronômico foi construído nos arredores do FAST, atraindo um grande número de visitantes e turistas.
Nan Rendong, que trabalhou como cientista-chefe de uma equipe que selecionou o local para o projeto e coordenou sua construção, morreu em 2017 aos 72 anos. A China lhe concedeu diversos títulos póstumos, incluindo o de "modelo de nossos tempos".