Por Beatriz Cunha
O ano de 2019 foi marcado por datas importantes para a China e o Brasil: 20º aniversário de cooperação entre províncias e prefeituras; 15º aniversário do estabelecimento do Instituto Confúcio; 45º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e o Brasil; a visita do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, à China, e a conferência dos BRICS, que foi realizada no Brasil.
No Seminário de negócios Brasil-China, que ocorreu em Beijing em outubro do último ano, com a presença dos presidentes chinês e brasileiro, a Sede do Instituto Confúcio e a Universidade Federal de Goiás assinaram um acordo de cooperação para estabelecer o Instituto Confúcio de Medicina Chinesa Tradicional da Universidade Federal de Goiás no Brasil.
A professora Ana Qiao(d) e um dos seus alunos brasileiros mostram uma obra de caligrafia.
A professora Ana Qiao, que atuou por 8 anos como diretora do Instituto Confúcio na Universidade Federal Fluminense, e na Pontífica Universidade Católica, ambas no Rio de Janeiro, afirma que este será o único Instituto Confúcio a oferecer o curso de Medicina Tradicional Chinesa (MTC) na América Latina. A instituição origina do estabelecimento das relações amigáveis entre as províncias e prefeituras da Província de Hebei e os objetivos do Brasil em 1999.
Qiao acredita que as celebrações e encontros entre o Brasil e a China no último ano são oportunos para promover o desenvolvimento do trabalho do Instituto Confúcio. E destaca que, tanto o Hanban, o departamento do Ministério da Educação da China encarregado de promover o chinês como língua estrangeira no exterior, como os ministérios estrangeiros da China e do Brasil, atribuem grande importância ao Instituto Confúcio, tendo por isso assinado um acordo de cooperação durante a visita do presidente brasileiro à China.
O primeiro Instituto Confúcio de Medicina Chinesa tradicional foi estabelecido na Universidade de South Bank, em Londres, em 2008, e sempre foi muito popular. Atualmente, existem 16 Institutos Confúcio de MTC no mundo. Embora o Instituto Confúcio no Brasil tenha começado tardiamente, a MTC é muito popular no Brasil.
A professora Qiao afirma que a Associação Brasileira de Acupuntura tem se comprometido em promover o desenvolvimento da MTC no Brasil. Atualmente, há escolas especializadas de MTC e universidades de medicina no Brasil que também oferecem cursos de acupuntura e massagens terapêuticas. As patentes de medicina chinesa passaram também a ter licença legal.
À medida que cresce o número de intercâmbios entre os dois países, aumenta o número de estudantes brasileiros de chinês. Qiao afirma que, atualmente, a Universidade de São Paulo é a única a oferecer o curso de graduação de chinês no Brasil. As melhores universidades do Brasil possuem Institutos Confúcio (8 Institutos Confúcio e 1 sala de aula Confúcio) e mais de vinte universidades realizam o ensino do idioma.
Qiao afirma que muito se desconhecia sobre a China há uma década atrás. Hoje, no entanto, a China tem estado cada vez mais presente na vida diária dos brasileiros, que além dos produtos “Made in China”, sabem o que é Xiao Mi, trem de alta velocidade, Huawei, WeChat, Feira de Cantão e Instituto Confúcio.
A professora Ana Qiao(d) e alguns alunos brasileiros que participaram em um acampamento de futebol na China.
Atualmente, há 11 Institutos Confúcio e 1 sala de aula Confúcio independente no Brasil. Além do Instituto Confúcio, há escolas e instituições sociais que realizam o ensino do idioma. A internet se tornou também uma ferramenta de grande auxílio para a difusão da cultura chinesa.
Tendo os vlogs se popularizado nos últimos anos, muitos são os estrangeiros e chineses criadores de contéudos on-line a divulgar a vida cotidiana na China, bem como a discorrer sobre o estudo do idioma.
A chinesa Zhang Xiaonan, fundadora do curso Xiao Mandarim, mora no Brasil há seis anos, e desde então ensina chinês de modo presencial e on-line para brasileiros, fazendo uso de materiais didáticos do Instituto Confúcio, que enfatiza como sendo o melhor material para ensino do chinês.
Zhang é muito conhecida entre os brasileiros que se interessam pelo mandarim. Ela inovou ao criar um curso on-line gratuito, que atualmente possui mais de 50 mil seguidores. Ela afirma que o “mandarim não é difícil, é diferente” e lembra que todo esforço tem sua recompensa, destacando a importância de ter disciplina e uma rotina diária de exercícios para aprender bem o idioma.
A professora Zhang Xiaonan (primeira à direita na primeira fila) posa com seus alunos de língua chinesa.
Atualmente a professora Zhang leciona para empresas como State Grid, Petro China e Petrobras. Ela afirma que o maior desafio dos brasileiros em aprender o idioma está em pronunciar dos 4 tons fonéticos e lembra da necessidade de ser cauteloso, pois pronunciar o tom errado pode causar uma situação engraçada, ou até mesmo constrangedora.
A professora Zhang conta que uma de suas alunas, após estudar o idioma por 3 anos, realizou um intercâmbio em Shanghai, e só encontrou dificuldades de compreensão quando seus interlocutores falavam de modo muito apressado.
As culturas brasileira e chinesa se diferenciam em alguns aspectos, e por isso é de praxe a realização de aulas de imersão cultural. A professora Zhang conta que leva seus alunos a dois restaurantes de comida chinesa do Rio de Janeiro, e afirma que muitos alunos tem resistência em experimentar alguns pratos chineses pois estranham a sua aparência.
Após o estranhamento, muitos são os brasileiros que se tornam adeptos da culinária chinesa. Entre seus alunos, Zhang afirma que, o ovo preto não ganha muitos adeptos, entretanto, o jiaozi frito é apreciado por todos.
Assim como o estranhamento do idioma e da culinária, muitos são os brasileiros que ainda não dão o devido crédito à Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Alguns dos que já experimentaram, percebem rapidamente seus benefícios, outros, atuam em clínicas de acupuntura e massagem por todo o país.