João Pimenta
No mais importante evento anual da agenda política chinesa, os líderes do país voltaram a focar-se em objetivos estratégicos de longo prazo, como a transição energética e o desenvolvimento das indústrias de alto valor agregado, após a China ter suprimido com sucesso a pandemia da covid-19.
Na abertura da sessão anual da Assembleia Popular Nacional (APN) o primeiro-ministro, Li Keqiang, prometeu "trabalhar mais rápido" para aumentar a capacidade científica e tecnológica "estratégica" da China.
“Devemos manter a capacidade manufatureira estável e aumentar as vantagens competitivas da China neste setor”, lê-se no relatório de 142 páginas, sobre o 14º plano quinquenal (2021-2025), que vai ser votado pelos quase 3.000 delegados que compõem a APN.
A importância do desenvolvimento tecnológico é ilustrada pelas 23 vezes que a palavra “tecnologia” foi referida no relatório de trabalho do Governo, face a nove vezes, no ano passado.
Com cerca de 3.000 delegados, a APN é, constitucionalmente, o "supremo órgão do poder de Estado" na China. Os deputados formalmente representam todas as províncias do país, incluindo as regiões autónomas do Tibete ou Xinjiang, e também as Forças Armadas.
O plano quinquenal da China determina como áreas chave para o desenvolvimento do país a robótica, veículos elétricos, equipamento médico, máquinas agrícolas, construção naval, o sistema de navegação global por satélite Beidou ou terras raras – matérias-primas essenciais para o fabrico de telemóveis, computadores e baterias elétricas.
As autoridades chinesas querem tornar o país tecnologicamente competitivo e promover um crescimento económico autossustentável, com base no consumo interno, em detrimento das exportações e investimento público.
O país desenvolverá uma cadeia de valor industrial “mais inovadora, segura e de maior valor acrescentado”, ajudando a aumentar a competitividade na construção de “linhas ferroviárias de alta velocidade, equipamentos elétricos, novas energias e construção naval”, apontou o relatório.
Isto surge numa altura em que a China enfrenta tentativas de conter o seu ‘salto’ tecnológico, à medida os Estados Unidos bloqueiam exportações de alta tecnologia para o país, incluindo ‘chips’ processadores e outros componentes necessários no fabrico de bens com alto valor acrescentado.
As sanções norte-americanas visam importantes grupos tecnológicos chinês, como a gigante global das telecomunicações Huawei Technologies Ltd ou o fabricante de semicondutores Semiconductor Manufacturing International Corp.
A urgência do combate às alterações climáticas, no entanto, une China, EUA e União Europeia.
O plano quinquenal apresentado pelo Governo chinês estipula metas rigorosas neste aspeto, incluindo que o consumo de energia por unidade do PIB recue 13,5% e as emissões de dióxido de carbono 18%, ao longo dos próximos cinco anos.
As autoridades querem estabelecer um "sistema energético limpo, seguro e eficiente", destacou Li Keqiang.
O Presidente chinês, Xi Jinping, tinha já anunciado, anteriormente, que as emissões de dióxido de carbono da China vão atingir o pico até 2030 e alcançar a neutralidade até 2060, no âmbito do acordo do clima de Paris.
A participação das energias não fósseis no consumo total de energia aumentará para cerca de 20%, de acordo com a minuta do plano quinquenal, que também prevê metas para 2035.
O país propõe desenvolver "ativamente" a energia nuclear "tendo como premissa a segurança", afirmou Li Keqiang, antecipando que a capacidade instalada desta fonte energética atinja os 70 milhões de quilowatts.
A China está comprometida em "prevenir e controlar a poluição atmosférica" e "reduzir em 10% a concentração de partículas de PM 2,5 - as mais nocivas à saúde - no ar das suas grandes cidades", lê-se no relatório.
Na sexta-feira,Li Keqiang, estabeleceu ainda como meta para 2021 um crescimento económico "acima dos 6%".
No ano passado, o Partido Comunista Chinês declarou ter cumprido a meta de duplicar o PIB (Produto Interno Bruto), face a 2010, o que exigia um crescimento anual de cerca de 7%.
Xi Jinping anunciou já que a próxima meta é duplicar novamente o PIB até 2035.
(O autor é o correspondente da Agência Lusa em Beijing)