Yi Fan
O presidente Lula chegará à China no dia 12 de abril. A visita, inicialmente prevista para o final de março, foi adiada devido a uma pneumonia contraída pelo dirigente brasileiro. Apesar disso, os dois países conseguiram remarcar a data num curto espaço de tempo. A visita de Estado recebeu, entretanto, a atenção de todo mundo. Tal como afirmou o Secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty, Eduardo Paes Saboia, em um Briefing sobre a viagem: “É o momento em que Brasil e China falam para o mundo”. O que vão, então, os dois países falar para o Mundo?
Podemos acompanhar a visita focando em três pontos:
Primeiro, a valorização e confiança mútua entre grandes países em desenvolvimento.
O presidente Xi Jinping foi reeleito presidente da China, sinalizando a continuidade política chinesa em promover a grande revitalização da nação em todos os aspectos, via modernização nacional. Por seu lado, o presidente Lula, que acabou de completar cem dias na presidência, vem se empenhando em levar adiante a “União e Reconstrução” do Brasil.
A visita, a primeira que o presidente Lula realiza fora das Américas no seu terceiro mandato, recebeu da parte chinesa uma resposta rápida à sugestão de reagendamento. Isso demonstra plenamente a importância atribuída à Parceria Estratégica Global Brasil-China e o alto nível de confiança política mútua entre os dois países.
A importância e confiança atribuídas são, simultaneamente, tradição e realidade: ao longo de quase meio século desde o estabelecimento das relações diplomáticas, Brasil e China, independentemente das mudanças na situação internacional, sempre gozaram de um relacionamento estável, o qual veio a se tornar um “exemplo de solidariedade, cooperação e desenvolvimento comum entre os grandes países em desenvolvimento”.
Recentemente, os chefes de Estado expressaram, em várias ocasiões, a vontade de promover o desenvolvimento das relações Brasil-China. A ministra assistente e porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Hua Chunying, disse que “a visita elevará a Parceria Estratégica Global China-Brasil a um novo patamar”. A que novo patamar essa ação diplomática presidencial elevará a parceria Brasil-China? Que efeito exemplar isso terá sobre o relacionamento entre os grandes países em desenvolvimento? Vale a pena acompanhar.
Segundo, os benefícios mútuos e ganhos compartilhados que a cooperação prática proporciona.
A China tem sido o maior parceiro comercial do Brasil por 14 anos consecutivos. De 2020 a 2022, em meio à pandemia, o volume de comércio bilateral aumentou de $101,73bi a $171,49bi, representando quase metade do superávit comercial brasileiro. O Brasil desempenha um papel positivo na garantia da segurança alimentar e da segurança das cadeias de produção e abastecimento da China.
O Brasil é o maior destino de investimento chinês na América Latina e Caribe. A cooperação bilateral, com resultados frutíferos em áreas tradicionais como infraestrutura, agropecuária, aeroespacial, aviação civil, energia e mineração, e novos avanços em áreas emergentes como 5G, inteligência artificial e economia verde,contribui para a reindustrialização do Brasil e traz benefícios tangíveis para brasileiros e chineses.
De acordo com mídias brasileiras como UOL e Globo, Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, e dezenas de congressistas farão parte da comitiva de Lula. Mais ainda, serão cerca de 20 os acordos a ser assinados. É óbvia a vontade de cooperação dos dois lados. Quais novos resultados a cooperação Brasil-China produzirá e quais benefícios trará aos brasileiros e chineses? Vale a pena acompanhar.
Terceiro, a voz pela paz e desenvolvimento regional e mundial dos países emergentes.
No cenário internacional, que registra mudanças raramente vistas em um século, Brasil e China persistem na tradição diplomática independente e praticam proativamente o multilateralismo, injetando estabilidade e energia positiva ao mundo.
Sendo os maiores países em desenvolvimento, respectivamente, nos hemisférios ocidental e oriental, Brasil e China reforçaram a comunicação e coordenação nos âmbitos das Nações Unidas, G20 e BRICS, impulsionaram o sistema de governança global a se tornar mais justo e razoável e defendem conjuntamente os interesses comuns dos países em desenvolvimento.
Ao mesmo tempo, o Brasil, o maior país e também a maior economia na América Latina e Caribe, está comprometido com a integração regional, trabalhando junto com os países da região para uma ordem mundial justa e razoável. A China valoriza amplamente as relações com a América Latina e Caribe, e trata os países da região com amizade, igualdade e confiança, constituindo um parceiro sólido na busca do desenvolvimento comum e na prática do multilateralismo. As duas partes trabalham em conjunto para impulsionar as relações China-América Latina e Caribe a dar entrada em uma nova era de igualdade, benefícios mútuos, inovação e abertura para os povos.
China e Brasil estão empenhados em aumentar a representação e a voz de outros mercados emergentes e países em desenvolvimento, trabalhando juntamente com eles. Antes da visita, o presidente Lula expressou que queria “reinserir o Brasil no palco internacional” e “falar em paz”. A China expressou também, através da porta-voz, a confiança de que a visita contribuirá para a estabilidade e prosperidade das regiões e do mundo. Quais fatores positivos a coordenação entre os grandes países emergentes trarão ao cenário internacional, no qual se entrelaçam mudanças e turbulências? Vale a pena acompanhar.
Aguardemos as respostas que a visita trará.