Por Bi Yuming
Em 15 de agosto de 1974, a China e o Brasil estabeleceram relações diplomáticas. Desde então, os laços bilaterais vêm se intensificando, com frutos de cooperação benéficos para seus povos e uma influência internacional cada vez maior, tornando-se um modelo para as relações entre os grandes países em desenvolvimento. Na ocasião do 50º aniversário dos laços diplomáticos, os dois países estão num novo ponto de partida histórico e abrirão o novo futuro para as relações bilaterais na nova era com a orientação estratégica dos dois chefes de Estado.
Sendo os dois maiores países em desenvolvimento dos hemisférios oriental e ocidental, respectivamente, a China e o Brasil são importantes mercados emergentes, parceiros estratégicos abrangentes e membros importantes do Sul Global, e contam com amplos interesses comuns. Nos últimos 50 anos, as relações bilaterais obtiveram avanços constantes. Em 1993, os dois países estabeleceram parceria estratégica e em 2012, essa parceria foi elevada para uma parceria estratégica abrangente. Na história da diplomacia da República Popular da China, o Brasil é titular de dois "primeiros", sendo o primeiro país em desenvolvimento a estabelecer parceria estratégica com a China e o primeiro país latino-americano a estabelecer parceria estratégica abrangente com o país asiático.
Deve-se mencionar aqui o terceiro "primeiro" nas relações sino-brasileiras, que aconteceu na área econômica e comercial: o valor do comércio bilateral foi o primeiro a ultrapassar US$ 100 bilhões entre a China e um país latino-americano. De fato, a cooperação China-Brasil no setor econômico e comercial é uma parte de grande importância da parceria estratégica abrangente entre os dois países, sendo a "pedra de lastro" nas relações bilaterais.
Após meio século de desenvolvimento, a cooperação econômica e comercial apresentou um excelente "boletim de notas". Quando os dois países estabeleceram relações diplomáticas em 1974, o valor do comércio bilateral era de apenas US$ 17,4 milhões. Em 2023, esse valor atingiu US$ 181,53 bilhões, segundo alfândegas chinesas. A partir de 2009, a China tornou-se, e por muitos anos seguidos, o maior parceiro comercial do Brasil e um importante país de origem de investimentos no Brasil, enquanto o Brasil é atualmente o maior parceiro comercial da China na América Latina, com entrada de cada vez mais produtos agrícolas brasileiros de qualidade no mercado chinês. De acordo com o Ministério da Agricultura e dos Assuntos Rurais da China, o Brasil continuou a ser o maior país de origem dos principais produtos agrícolas da China em 2023.
Nos últimos anos, o "boletim de notas" registrou mais uma novidade - os veículos de nova energia de marcas chinesas, que estão sendo cada vez mais procurados pelos consumidores brasileiros devido ao ótimo custo-benefício. Segundo os dados da Associação Chinesa de Fabricantes de Veículos Automotores, no período de janeiro a maio deste ano, o Brasil foi o maior país destino de exportações de veículos de passageiros de nova energia da China.
Além dos carros elétricos, a presença chinesa no Brasil traz benefícios tangíveis constantes para a população brasileira, com participação vigorosa de empresas chinesas em grandes projetos de infraestrutura no país, como obras de linhas de transmissão de energia elétrica de alta tensão, de gasodutos e nos portos. Até hoje, a fase II do projeto de transmissão de corrente contínua de ultra-alta tensão da usina de Belo Monte no Brasil, construída e operada pela State Grid Corporation of China e com investimento chinês, transportou energia hidrelétrica a mais de 22 milhões de pessoas no sudeste do país, o equivalente a 10% da população total brasileira. Em agosto de 2023, a COFCO Internacional iniciou a construção do projeto de expansão do terminal STS11 do Porto de Santos. A COFCO Internacional é da COFCO Corporation, que é uma das maiores companhias agrícolas e de alimentos da China. Após a conclusão da expansão, o terminal será um dos maiores terminais no Porto de Santos. Na cerimônia de início das obras, autoridades locais disseram que o projeto ajudará a realizar o sonho dos moradores locais de revitalização do antigo terminal e criará mais empregos locais.
Ao longo desses 50 anos, também foram destacadas cooperações China-Brasil nos campos financeiro, aeroespacial, de tecnologia da informação e de biotecnologia. No início de 2023, os dois países assinaram um memorando de cooperação para estabelecer acordos de liquidação de Renminbi (RMB) no Brasil, dando incentivo ao uso de moedas locais para a liquidação no comércio bilateral. Em setembro do mesmo ano, os dois países concluíram um acordo comercial em suas moedas locais pela primeira vez, com transações financiadas e liquidadas em RMB e convertidas diretamente em reais. Na área aeroespacial, o projeto de cooperação sino-brasileiro em satélites de recursos terrestres é conhecido como um modelo da "cooperação Sul-Sul". O Brasil também é o país latino-americano que conta com o maior número de laboratórios conjuntos co-estabelecidos com a China.
No mês passado, surgiu uma nova chance para os dois países aumentarem ainda mais a cooperação bilateral. Durante uma entrevista em julho, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, expressou sua intenção de discutir com as autoridades chinesas a possibilidade de o Brasil aderir à Iniciativa Cinturão e Rota. Poucos dias depois, ainda na mesma semana, a porta-voz Mao Ning do Ministério das Relações Exteriores da China manifestou que "a China dá as boas-vindas ao Brasil na família do Cinturão e Rota o mais rápido possível e espera gols brasileiros de classe mundial na cooperação do Cinturão e Rota".
Para os chineses, o Brasil é o país do futebol, bem como os brasileiros sabem que a China é o país de Kung Fu e terra-natal dos pandas. Mas agora essas poucas palavras - futebol, Kung Fu e panda - já não são suficientes para resumir a percepção recíproca entre as populações dos dois países. Isso porque nos últimos anos, o intercâmbio interpessoal e cultural entre a China e o Brasil tem crescido e os dois povos tiveram mais contato e conhecimento um do outro. Ambos os países contam com grandes populações e abundantes recursos turísticos. A cooperação bilateral no setor de turismo está se desenvolvendo rapidamente. O Brasil é o destino turístico mais procurado pelos chineses na América Latina e a China é o segundo destino turístico favorito dos brasileiros na Ásia. Quanto à divulgação das línguas e culturas, atualmente há 14 institutos e salas de aulas Confúcio no Brasil, o maior número entre os países da América Latina. E na China, há cada vez mais estudantes chineses aprendendo a língua portuguesa.
No primeiro semestre deste ano, foram lançadas mais iniciativas para impulsionar o intercâmbio interpessoal. A partir de 19 de fevereiro, cidadãos qualificados da China e do Brasil, respectivamente, podem obter vistos de múltiplas entradas de até dez anos do outro país. Em abril, a companhia aérea Air China retomou oficialmente a rota Beijing-Madrid-São Paulo. Em junho, foi inaugurado oficialmente o consulado-geral do Brasil em Chengdu, capital da Província de Sichuan, no sudoeste da China. Essas medidas facilitarão ainda mais o intercâmbio de pessoal entre os dois países.
Na ocasião do 50º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas, a China e o Brasil apreciam o que foi alcançado no passado e devem traçar o novo futuro para as relações bilaterais na nova era. Com amizade de meio século, as relações bilaterais chegaram a um ponto importante e receberão certamente os próximos "50 anos dourados".