O Brasil importou um total de 129.933 veículos chineses no primeiro semestre de 2024. O montante garantiu que a China superasse a Argentina e se tornasse a principal origem de importação de veículos do Brasil, segundo os números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Do total importado, 62.613 unidades são de veículos elétricos, correspondendo por 91,4% do volume de automóveis de passageiros importados desse tipo no mesmo período.
De janeiro a junho, as montadoras chinesas BYD, GWM e Chery venderam 32.574, 12.730 e 5.128 unidades respectivamente, ocupando o primeiro, segundo e quarto lugares no ranking de vendas de carros veículos no mercado brasileiro do período, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
"Antes, os preços dos carros movidos a motor de combustão interna europeus e americanos eram relativamente altos. Como a tecnologia de veículos elétricos chineses está ficando cada vez mais avançada, além do tamanho maior do chassi dos carros e os preços mais baratos, é razoável mostrar uma competitividade mais alta em relação às marcas europeias e americanas," diz Cui Dongshu, secretário-geral da CPCA.
A BYD, campeã global de volume de vendas de carros elétricos no primeiro semestre de 2024, explora há mais de dez anos o mercado brasileiro e vem lançando vários modelos populares de veículos 100% elétricos e elétricos híbridos. O Song PLUS DM-i, com um total de 10.038 unidades comercializadas, se tornou o modelo mais vendido no mercado brasileiro de veículos elétricos nos primeiros seis meses deste ano, seguido pelo DOLPHIN MINI EV e pelo DOLPHIN EV, que ocupam o segundo e o terceiro lugar do ranking.
"O Brasil tem uma grande necessidade de mercado por veículos elétricos e está muito receptivo aos produtos de nova energia. A BYD dá muito valor ao mercado brasileiro e o considera pedra fundamental do mercado de toda a América do Sul," diz Tyler Li, gerente-geral da BYD Brasil.
Segundo Qu Jingyao, diretora do departamento de pesquisa da tecnologia industrial do centro de pesquisa da eletrificação da Sociedade de Engenheiros Automotivos da China, a indústria automobilística chinesa tem de agarrar essa janela de oportunidade no desenvolvimento industrial automotivo global.
"Nessa nova época da tendência de eletrificação e inteligência, as montadoras chinesas permanecem progredindo na inovação tecnológica, aperfeiçoando a cadeia industrial e buscando a conscientização pela proteção ambiental. Finalmente podemos celebrar essa oportunidade única, esperada há 40 anos," afirmou ela.
Outra montadora chinesa, a GWM entrou no Brasil em 2021. Em junho, o H6 PHEV levou o título de melhor híbrido de 2024, homenageado pela revista Autoesporte, e o H6 HEV, foi premiado como o menor custo de uso no segmento híbrido pela revista Quatro Rodas.
Segundo Ricardo Bastos, presidente da ABVE, "foi muito importante a chegada das montadoras chinesas, principalmente a partir do ano passado, quando essas empresas vieram com volumes expressivos de veículos, principalmente as marcas BYD e GWM, trazendo aí muita tecnologia e muitas novidades para o mercado brasileiro. Esse sucesso que temos hoje na eletrificação aqui no Brasil foi realmente puxado pelas marcas chinesas, e obviamente agora nós temos também a chegada de outras marcas e o acompanhamento das marcas tradicionais aqui no Brasil."
"Esse movimento de liderança começou ano passado, e principalmente há atração de muita tecnologia nova aqui para o Brasil," afirmou ele.
A localização de produtos também é indispensável. Segundo Cui Dongshu, as montadoras chinesas devem se enraizar no mercado local. O canal único de comércio via exportação poderia trazer fricções comerciais e contradições sociais, ademais, o estabelecimento de instalações de produção locais também tornam os produtos mais aceitáveis aos consumidores locais.
"O mercado brasileiro é muito exigente e gosta de tecnologia, mas ele gosta também de ser bem tratado, não apenas na venda e no pós-venda," recomendou Bastos.
Em outubro do ano passado, a BYD anunciou a inauguração da construção de três plantas industriais em Camaçari, na Bahia, com um investimento de R$ 5,5 bilhões e uma expectativa de produção anual de 150 mil veículos elétricos. A fábrica deve entrar em operação na segundo semestre do ano e trará cerca de 5 mil empregos para residentes locais.
O uso de biocombustíveis no mercado automotivo é uma realidade em que o Brasil tem se diferenciado de outros países.
"É muito importante que os veículos, principalmente os que ainda tem o motor a combustão como os híbridos e os híbridos plug-ins, se preparem para usar biocombustíveis, a gente tem desde o etanol puro, mas também temos o etanol misturado na gasolina e temos o biodiesel, e é importante também do ponto de vista técnico que esses combustíveis estejam preparados para o biocombustível brasileiro," aconselhou Bastos.
"Para enfrentar isso, a BYD tem ajustado os motores especificamente na sua produção de veículos híbridos," apresentou Tyler Li.
Desde janeiro de 2024, os carros elétricos, híbridos e híbridos plug-in comprados fora do país têm voltado a ser gradualmente tributados com imposto de importação, decisão tomada pelo Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior, com objetivo de desenvolver a cadeia automotiva nacional, acelerar o processo de descarbonização da frota brasileira e contribuir para o projeto de neoindustrialização do país.
"A globalização geralmente pede a concretização da produção local ante o desafio de aumento dos custos resultante de barreiras comerciais tributárias," analisou Qu.
"A política do aumento gradual tributária do Brasil fornece uma janela de oportunidade para as montadoras chinesas organizarem a disposição, a construção e os investimento locais. Elas precisam procurar parceiros locais, comprar autopeças no local e criar empregos para os locais, a fim de realizar um desenvolvimento sustentável no mercado internacional." acrescentou ela.
Para o risco potencial de desenvolvimento no exterior, Qu alerta que as marcas de automóveis chinesas enfrentarão exigências e supervisões cada vez mais rígidas no investimento e na operação e devem adotar disposições gerais globais na segurança de dados e proteção de privacidade, em meio à fase importante da transformação inteligente e digital da indústria automobilística global.
"Em termos de privacidade de dados, as montadoras chinesas devem ser particularmente cautelosas no exterior. Precisam fazer um bom trabalho de pesquisa e desenvolvimento de localização e melhoria adaptativa de localização para estar em conformidade com o ambiente de rede e conceitos estrangeiros para evitar as desvantagens causadas por diferentes conceitos e regulamentos," disse Cui.