Por Zhang Rong
O Fado, enquanto expressão artística única, não só carrega o peso da história portuguesa, como reflete também o perfil emocional do povo português. Beijing, que irá receber pela primeira vez o Festival do Fado, contará com a atuação da fadista Teresinha Landeiro, que marcará também presença, em Shanghai, na segunda edição do festival.
Nascida em 1996, Teresinha Landeiro é uma jovem fadista portuguesa, vencedora do Concurso de Fado Amador de Odivelas, que gravou o seu primeiro álbum a solo em 2018. Dois anos depois, viria a editar o seu segundo álbum. Em 2023 foi uma das artistas convidadas para o Festival da Canção da RTP.
Teresinha Landeiro concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário do Povo Online.
Em vésperas da sua visita à China, Landeiro concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário do Povo Online, onde partilhou alguns detalhes sobre a sua relação com este estilo musical. “Eu comecei a ouvir fado pela primeira vez aos 11 anos, quando já cantava música tradicional portuguesa, mas nunca tinha cantado fado. Foi nessa altura que descobri o fado e percebi que ele tinha uma grande importância para mim. Curiosamente, isso fez-me perceber que eu gostava muito de cantar em português e que só cantando em português é que fazia sentido”, afirma.
O fado é um estilo musical português com mais de 150 anos de história, que se ouve tradicionalmente em tabernas, cafés e outros locais nas ruas. Em 2011, foi elevado a património imaterial da humanidade pela UNESCO.
“O fado é a nossa forma de nos expressarmos. Eu acho que é muito português porque nós, portugueses, somos um pouco fatalistas e, quando algo não corre bem, somos dramáticos e achamos que nada se vai resolver. Quando temos tristezas e problemas, achamos sempre que é o fim do mundo. Então, eu diria que o fado é uma maneira de falarmos sobre os nossos sentimentos, de expressarmos aquilo que sentimos, e talvez de procurarmos nos outros um sentimento idêntico, para que aquela pessoa possa tentar identificar-se connosco e com a nossa história”, explica.
Landeiro considera que a importância do fado vai além das fronteiras portuguesas, enquanto portador de emoção, riqueza instrumental e expressão artística, e, confidencia, espera que o público chinês possa desfrutar dessas conotações, para lá da barreira linguística.
A interpretação do fado de Teresinha Landeiro não dispensa os cânones da tradição, contudo, argumenta, não é inflexível, havendo espaço para inovações: "Eu tento sempre ser o mais tradicional possível e trazer comigo a tradição do fado de forma 'muito imaculada'. Mas também tento trazer este meu lado jovem e leve. O fado é sobre a vida. Tem muitos momentos tristes, mas também tem muitos momentos felizes. Portanto, o fado não pode ser só sobre tristeza, porque não estamos sempre tristes".
A cantora procura um maior equilíbrio entre a lugubridade geralmente associada a este estilo musical, adicionando-lhe um pouco mais de esperança e otimismo: "O fado reflete essas duas vivências. Eu estou a tentar mudar um bocadinho esse rumo e poder mostrar que, de facto, também é para as pessoas mais novas. Também se pode dançar, também se pode ter vontade de rir e de sorrir. Não tem que ser só uma coisa triste”.
No preâmbulo da viagem até à China, a fadista refere estar "muito curiosa". "Não vamos ter muitos dias para passear, mas vou tentar, em todos os momentos disponíveis, ver um pouco das cidades", afirma.
"Estou muito ansiosa para experimentar a comida", confessa, pois "embora coma muita comida chinesa em Portugal, queria mesmo experimentar na China. Estou muito ansiosa para conhecer a cultura chinesa e a gastronomia. Todos dizem que a China é um país maravilhoso, e estou realmente ansiosa com esta viagem”.
Além da cultura e da gastronomia, Teresinha Landeiro revelou que a sua viagem à China incluirá também atuações conjuntas com artistas chineses e que a partilha do palco com eles a deixa "honrada e expectante".
Cartazes oficiais do Festival do Fado
O Festival do Fado de 2024 será realizado nos dias 8 de setembro em Shanghai e 10 de setembro em Beijing.