Os investimentos chineses no Brasil cresceram 33% em 2023 em comparação com o ano anterior e atingiram US$ 1,73 bilhão, focados principalmente em energia verde e carros elétricos, informou na terça-feira o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).
Os dados foram apresentados em uma transmissão online do CEBC do estudo "Investimentos chineses no Brasil - 2023: novas tendências em energia verde e parcerias sustentáveis", segundo o qual, 72% dos projetos chineses no Brasil em 2023 foram para iniciativas relacionadas com a transição energética.
O autor do estudo, Tulio Cariello, diretor de conteúdo do CEBC, destacou que os investimentos chineses no Brasil no ano passado centraram-se principalmente no segmento elétrico, que atraiu 39% do valor, incluindo projetos em centrais hidroelétricas e energia solar e eólica.
"O setor automotivo veio em seguida, com uma participação de 33%, com crescimento constante desde 2021 e iniciativas voltadas exclusivamente para carros elétricos ou híbridos", disse Cariello.
O especialista brasileiro lembrou que o Brasil foi o 9º maior receptor de capital produtivo chinês no ano passado e que nos últimos anos, os países emergentes têm atraído a maior parte do investimento chinês em todo o mundo, constituindo 9 dos 10 principais destinos do investimento do país em 2023.
Cariello destacou que os investimentos chineses na América Latina e no Brasil têm sido menos intensivos em capital nos últimos anos, mas avançaram nas chamadas "novas infraestruturas", como energias renováveis, mobilidade elétrica, tecnologia da informação, infraestrutura urbana e manufatura de alta qualidade.
Também participaram da apresentação representantes da GWM e BYD, que expressaram a opinião de que é possível criar cadeias produtivas no Brasil que incluam não apenas a fabricação de veículos eletrificados, mas também o processamento de minerais estratégicos e a produção de baterias para o setor.
Contudo, enfatizaram que as políticas públicas para o segmento precisam ser mais claras, visto que se trata de investimentos de grande porte.
"Qual o papel da eletrificação nas diretrizes de sustentabilidade do Brasil?", perguntou Ricardo Bastos, Diretor de Relações Institucionais e Governamentais da GWM e Presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), afirmando que o Brasil precisa se conectar à eletrificação por meio da produção de veículos elétricos no país.
"O que falta é uma política de Estado para que o país receba mais investimentos e seja protagonista global nesta agenda sustentável", acrescentou Marcello Von Schneider, diretor de Veículos Comerciais e Energia Solar da BYD Brasil, destacando que projetos bem estruturados e políticas de longo prazo trariam mais segurança para novos investidores e empresas que já operam no Brasil.
Segundo Bastos, a planta da GWM começará a operar no primeiro semestre de 2025, ainda com muitos componentes importados da China, mas que em breve serão substituídos por peças produzidas no Brasil, para atender aos requisitos mínimos de conteúdo nacional para venda de veículos no Mercosul.
"A localização será fundamental para a regionalização", disse o CEO da empresa, que vê o Brasil como um centro de produção na América do Sul.
Sobre as particularidades do mercado brasileiro, Von Schneider disse que a BYD investe em projetos voltados especificamente para o país.
"Estamos na fase final de desenvolvimento do nosso motor híbrido flex-fuel, que utiliza etanol, que é uma característica exclusiva do Brasil", afirmou, destacando que a empresa quer desenvolver veículos para o mercado interno, pensando também nas cadeias de valor envolvidas no processo de eletrificação da frota brasileira.
Nesse contexto, Jorge Arbache, professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB) e membro do Comitê Consultivo do CEBC, acredita que a relação de investimentos Brasil-China atingiu um novo estágio mais maduro.
"Estamos entrando em uma etapa mais ampla, mais sofisticada, de maior qualidade, com projetos que impactam direta e indiretamente cadeias de valor muito mais amplas, com cadeias longas que envolvem muito mais pessoas, muito mais arrecadação de impostos, agregação de valor local e regional e geração de empregos urbanos", afirmou o economista.