A Polícia Federal brasileira anunciou nesta sexta-feira que abriu 52 investigações para determinar a origem criminosa dos incêndios florestais e de lavouras que estão ocorrendo em grande parte do país, incluindo a floresta amazônica (norte) e o interior do estado de São Paulo (sudeste), onde está localizada a maior produção de cana-de-açúcar do mundo.
"Criamos uma coordenação nacional para reunir informações de todas as partes do Brasil para determinar uma visão global das conexões dessas ações incendiárias criminosas", disse o diretor de Meio Ambiente e de Amazônia da Polícia Federal brasileira, delegado Humberto Freire.
Freire explicou que as queimadas que atingem os principais biomas do país e geram consequências nos grandes centros urbanos estão sendo acompanhadas por satélites para determinar se há coordenação entre os criminosos que atacam o meio ambiente.
"Vimos incêndios que começaram nas últimas semanas ao mesmo tempo e isso é uma indicação de ações coordenadas", disse Freire em entrevista ao canal de notícias "GloboNews".
As investigações abrangem os estados do Amazonas (noroeste), Roraima (norte), Pará (norte) e Mato Grosso (centro-oeste), além de Mato Grosso do Sul (centro-oeste), Goiás (centro-oeste) e São Paulo.
Todo o Brasil, um dos principais produtores de alimentos do mundo, sofre a pior seca da história.
Os incêndios florestais e as queimadas de lavouras têm causado grandes áreas de fogo no bioma Amazônia e no Pantanal, na fronteira com a Bolívia e o Paraguai.
São Paulo, a maior cidade da América do Sul, foi considerada esta sexta-feira pelo sexto dia consecutivo a metrópole mundial com pior qualidade do ar devido à fuligem provocada pelo incêndio.
Na região Sul, tem sido registrada a queda de "chuva negra" devido à mistura de partículas poluentes das queimadas com a precipitação, enquanto dezenas de municípios do oeste e norte do país suspenderam atividades, como aulas em escolas públicas, de forma preventiva.
O delegado disse que as investigações sobre crimes ambientais abrangem quem financia essas ações.
Até esta sexta-feira, 3.502 focos de incêndio permaneciam ativos no Brasil, segundo dados divulgados pelo sistema BDQueimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do governo.
Além do aumento dos focos de incêndio, o país enfrenta uma seca histórica, com a pior aridez em 44 anos, segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
A seca e a aridez, comuns durante o inverno brasileiro (junho a setembro), foram especialmente intensas este ano. Seis ondas de calor foram registradas desde o início da temporada, enquanto houve apenas quatro ondas de frio.
Em algumas regiões, a seca começou antes do inverno, com a aridez na região amazônica se intensificando quase um mês antes do esperado, no início de junho.
De janeiro a agosto de 2024, os incêndios no Brasil afetaram 11,39 milhões de hectares, segundo o Monitor de Incêndios da rede MapBiomas do Observatório do Clima.
Desse total, 5,65 milhões de hectares foram consumidos em agosto, o que representa 49% da área queimada até agora neste ano.