Desde jovem, ele teve contato com os clássicos chineses, como “A Arte da Guerra” de Sun Tzu e "Zhuangzi", que lhe proporcionaram grandes reflexões. Foi a partir dessa experiência que sua conexão com a China começou a se formar.
Mais tarde, cruzou oceanos e se mudou para a China, onde começou a estudar mandarim, a pesquisar sobre sinologia e a traduzir e publicar várias obras clássicas chinesas em português, como "Os Analectos de Confúcio", "Dao De Jing" de Laozi, "O Imortal do Sul da China: uma leitura cultural do Zhuangzi", entre outros. Atualmente, conta com quase 20 anos de vida na China e continua se dedicando à divulgação da cultura tradicional chinesa nos países de língua portuguesa. O nome pelo qual é conhecido em chinês é "Shen Youyou".
Recentemente, Sinedino participou em Beijing da Conferência Internacional para Comemorar o 2575º Aniversário do Nascimento de Confúcio, além do 7º Congresso da Associação Internacional de Confucionismo (AIC), onde foi eleito membro do conselho da ALC e também membro do Comitê Executivo da 7ª edição da organização. Após o evento, concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário do Povo Online, onde compartilhou sua paixão pela cultura chinesa, suas experiências na disseminação da cultura chinesa e algumas considerações.
Giorgio Sinedino. Foto: Liu Ning, Diário do Povo Online
Descobrindo a beleza da cultura chinesa nos clássicos
Giorgio Sinedino sempre teve uma grande paixão pela cultura tradicional chinesa desde a infância, especialmente por ler obras clássicas chinesas. "'A Arte da Guerra' de Sun Tzu, o 'Zhuangzi', e o 'Yi Jing' foram os primeiros textos chineses que li. Na tradução de 'A Arte da Guerra', havia discussões sobre como aplicar a filosofia de Sun Tzu nas relações interpessoais, enquanto que o 'Zhuangzi' ensina como buscar felicidade e liberdade - temas muito interessantes que me impactaram profundamente", revelou o sinólogo.
Na época, não associava esses livros diretamente à China, pois estava lendo apenas traduções. No entanto, à medida que foi tomando contato com mais textos, seu interesse e curiosidade pela China aumentaram.
Em 2005, mudou-se para a China para trabalhar e começou a aprender chinês. Para ele, a cultura chinesa é vasta, multifacetada e profunda. Quando percebeu que compreender a cultura chinesa e aprender chinês não seria algo rápido e simples, ele decidiu ficar na China para se dedicar aos estudos.
Durante seu tempo na China, Giorgio Sinedino obteve o Mestrado em Filosofia Chinesa pela Universidade de Pequim e o Doutorado em Filosofia pela Universidade Renmin, iniciando sua jornada na pesquisa da sinologia.
Tradução de textos antigos: promovendo a cultura chinesa e compartilhando a sabedoria da antiguidade
Com o aprofundamento de seus estudos, Giorgio Sinedino começou a traduzir obras literárias chinesas, com o objetivo de compartilhar a sabedoria e a riqueza cultural da literatura clássica chinesa com os leitores dos países de língua portuguesa.
Ao longo dos anos, "Shen Youyou" traduziu e publicou várias obras em português, incluindo "Os Analectos de Confúcio", "Dao De Jing", e "O Imortal do Sul da China: uma leitura cultural do Zhuangzi". O sinólogo conta ainda com mais de trinta artigos publicados. Entre suas traduções, a de "Os Analectos de Confúcio" recebeu o Prêmio de Tradução Literária Chinês-Português da Universidade de Macau.
Embora os seus resultados de sua pesquisa tenham sido amplamente reconhecidos, o processo de tradução dessas obras não foi simples. Sinedino explica que, antes de traduzir "O Imortal do Sul da China: uma leitura cultural do Zhuangzi", já havia lido o livro por mais de dez anos, constantemente revisitando-o, de acordo com a evolução da sua vida e dos novos desafios que surgiam, o que o ajudou a obter inspiração. Desde o início da tradução até a finalização, foram apenas necessários alguns meses.
"Traduzir é um processo de luta contra si mesmo. Como existem grandes diferenças culturais entre a China e o Brasil, quando não consigo encontrar uma tradução que me satisfaça, a luta interna se torna bastante intensa", comentou Shen Youyou, rindo, ao confessar que, por vezes, ficava tão irritado que jogava o livro, mas que depois comprava outro para continuar o trabalho.
Ele ressaltou que o objetivo de sua tradução é proporcionar aos leitores versões fiáveis e bem elaboradas das obras, para que possam compreender o espírito da cultura chinesa. "Espero que essas obras, ao chegar aos países de língua portuguesa, tenham um efeito ideal de disseminação".
Perspectivas para o futuro: promover o intercâmbio e a aprendizagem mútua entre a China e o Brasil
Giorgio Sinedino afirmou que, nos últimos anos, ocorreram mudanças animadoras na disseminação da literatura chinesa no mundo - especialmente nos últimos dez anos - em que as obras clássicas chinesas e a literatura moderna começaram a ter um impacto crescente em países de língua portuguesa, como o Brasil. Obras como "A Arte da Guerra" e "Viver", por exemplo, despertaram o interesse e a curiosidade dos leitores pela cultura chinesa.
O entrevistado acredita que a melhor maneira de entender a cultura chinesa é vivenciá-la pessoalmente. "A cultura chinesa é encarnada pelos próprios chineses. Eu incentivo os jovens a virem à China para viver e aprender chinês. Tenho certeza de que isso ajudará a ter uma compreensão mais completa da China".
Este ano é assinalado o 50º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e o Brasil. Como diz Confúcio: "Aos 50 anos, entender qual o destino que o Céu lhe impusera". O sinólogo acredita que os dois países têm uma forte complementaridade econômica e, ao entrarem no "ano de entendimento do destino que o Céu lhe impusera", devem reforçar o intercâmbio e o aprendizado mútuo, promovendo um maior conhecimento e compreensão entre os povos, além de fomentar mais intercâmbios e cooperação cultural. "Espero que, por meio do meu trabalho, eu possa ajudar a promover o intercâmbio cultural entre o Oriente e o Ocidente, de modo que mais brasileiros conheçam a China, sintam a cultura tradicional chinesa e apreciem a beleza da cultura chinesa".