A China autorizou recentemente 183 empresas brasileiras a exportarem café brasileiro para o mercado chinês, e o período de autorização durará cinco anos, de modo a fornecer mais opções de mercado para os exportadores brasileiros, conforme anunciado pela Embaixada da China no Brasil em rede social.
Em junho, o Brasil exportou 56 mil sacas de grãos para a China, um número ainda modesto mas com imenso potencial de crescimento.
Embora ainda distante da média global, de 240 xícaras por pessoa, o ritmo acelerado indica que a China caminha para se tornar o grande mercado incremental de café do mundo.
Um relatório sobre o desenvolvimento do mercado de café nas cidades chinesas apontou que o setor na China movimentou cerca de US$ 43,6 bilhões em 2024. O consumo per capita saltou de 16,74 xícaras por ano em 2023 para 22,24 xícaras em 2024, um aumento superior a 24% em apenas doze meses.
Entre 2020 e 2024, o volume líquido de importações de café pela China aumentou em mais de 130 mil toneladas, com uma taxa média composta de crescimento anual de 65,7%, segundo dados da alfândega chinesa.
Para Chen Zhenjia, secretário-geral da Associação Asiática do Café, o mercado chinês se tornou o que mais cresce no mundo, com um potencial que ainda está longe de ter sido plenamente explorado.
Com base no comércio em larga escala, o café brasileiro também começa a ganhar espaço no consumo cotidiano chinês por meio de produtos de maior valor agregado. Marcas locais como Luckin Coffee vêm impulsionando a demanda por grãos arábica de alta qualidade, o que favorece a presença contínua do café brasileiro no mercado chinês.
Dados públicos da própria Luckin Coffee mostram que, em 2024, a empresa comprou mais de 5 mil toneladas de grãos brasileiros, o que representou mais de 60% de todo o volume utilizado pela empresa. Produtos icônicos da marca, como o latte de coco fresco e o latte de leite denso, utilizam grãos oriundos do Brasil como principal ingrediente.
Como maior rede de cafeterias da China, a Luckin Coffee assinou em 2024 um memorando de entendimento com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), estabelecendo o compromisso de adquirir 240 mil toneladas de grãos de café do Brasil ao longo dos próximos cinco anos.
Outras marcas chinesas seguem a mesma tendência. A Mixue, conhecida rede de bebidas, está construindo bases de torrefação nas Províncias de Henan e Hainan, para atender à rápida expansão das lojas e à demanda crescente por matéria-prima.
Até maio de 2025, a China contabilizou um total de 246 mil empresas registradas relacionadas ao setor cafeeiro. Apenas nos primeiros cinco meses do ano, 21 mil novas empresas foram criadas, um aumento de 14,47% em comparação ao mesmo período do ano anterior.
O setor na China começa a transitar de um modelo baseado no consumo rápido para uma nova etapa marcada pela valorização da qualidade e pela localização das cadeias de suprimento. Isso exige fontes de importação estáveis e de alta qualidade, oferecendo ao Brasil uma oportunidade concreta de se posicionar como parceiro estratégico de longo prazo.
Em meio às profundas transformações no comércio internacional, a cooperação entre mercados emergentes tem se tornado uma resposta eficaz às incertezas. A complementaridade entre China e Brasil está levando a parceria no café a um novo patamar.
Especialistas preveem que a cooperação entre os dois países no setor evoluirá de exportações pontuais para uma colaboração integrada em toda a cadeia produtiva, incluindo certificação de origem, cultivo sustentável, financiamento verde e construção conjunta de marcas.
Se for possível estabelecer mecanismos duradouros de cooperação, o modelo poderá não apenas consolidar o comércio bilateral de café, mas também oferecer uma nova referência de parceria agrícola entre países do Sul Global, segundo os especialistas.