As montanhas cársticas da província de Guizhou, no sudoeste da China, apresentam ravinas tão profundas que os moradores as chamam de "as rachaduras da Terra". Na cidade de Huajiang, o rio Beipan esculpe um desses desfiladeiros, uma relíquia dos mares Triássicos, esculpida em penhascos de calcário, que outrora marcavam os limites da passagem humana.
Hoje, esse abismo não é mais uma barreira intransponível para a travessia humana. A Ponte do Grand Canyon de Huajiang, prestes a se tornar a mais alta do mundo, atravessa esse abismo com seu teste final concluído na segunda-feira (25). Foi um teste de carga para o peso do tráfego na ponte — e se mostrou bem-sucedido, representando assim mais um grande passo na busca por transformar isolamento em conexão.
Este teste de carga, considerado a etapa final antes da ponte receber o tráfego, incluiu testes estáticos e dinâmicos.
Noventa e seis caminhões pesados, pesando um total de 3.300 toneladas, subiram em grupos no tabuleiro em lenta procissão, estacionando em locais designados. Mais de 400 sensores espalhados pela ponte monitoravam as menores mudanças no vão principal, torres, cabos e suspensórios.
O processo de testes de cinco dias confirmou que a resistência estrutural, a rigidez e o desempenho dinâmico da ponte atendiam aos padrões de segurança. A previsão é de que a ponte seja aberta ao tráfego no final de setembro.
"Esta ponte é um feito de engenharia sem precedentes", disse Wu Zhaoming, gerente de projeto para o processo de construção da ponte, que trabalha na Guizhou Transportation Investment Group Co., Ltd. Wu acrescentou que a equipe superou desafios que vão desde o controle de temperaturas em grandes concretagens até a fixação de taludes no terreno íngreme do cânion — tudo isso enfrentando ventos fortes.
A construção começou em janeiro de 2022, e o vão principal foi unido no início deste ano. Uma vez inaugurada, a ponte terá 2.890 metros de ponta a ponta, com seu vão central se estendendo por 1.420 metros, tornando-se a maior ponte com vão construída em terreno montanhoso do mundo. Do convés à água, ela se eleva 625 metros — uma altura que a torna a ponte mais alta do planeta.
Para os moradores locais, o impacto será imediato. A travessia do cânion, que antes levava duas horas, será reduzida para apenas dois minutos.
A ponte também é um elo fundamental numa via expressa, fazendo parte do esforço contínuo de Guizhou para unir seu interior acidentado por meio de rodovias modernas.
A província, a única na China sem uma única planície, há muito tempo depende de túneis e pontes para superar sua paisagem cárstica irregular. Guizhou agora abriga mais de 30.000 pontes, incluindo as três mais altas do mundo.
Guizhou possui quase metade das 100 pontes mais altas do mundo e por isso recebeu o apelido de "museu das pontes do mundo". Juntos, os vãos construídos e em construção da província medem mais de 5.400 quilômetros — quase a distância total de norte a sul de toda a China.
Para as comunidades de ambos os lados, a Ponte do Grand Canyon de Huajiang será mais do que um recorde. Será um empreendimento que transformará um desfiladeiro intransponível em um trajeto rápido, e uma prova de como até mesmo os terrenos mais acidentados da China podem ser interligados, um trecho de cada vez.
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