Por Guo Qinghua

Guo Qinghua posa para uma foto com a árvore mais alta da Ásia.
Por anos, a pergunta sobre quantas árvores existem na China permaneceu sem resposta. Isso mudou com a divulgação, no início deste ano, do primeiro mapa nacional de densidade de árvores do país, revelando que, em 2020, a China tinha aproximadamente 142,6 bilhões de árvores - o equivalente a cerca de 100 árvores por pessoa. Esse número é o resultado de um esforço de uma década da minha equipe para “contá-las”.
A urgência dessa iniciativa surgiu de uma lacuna fundamental no nosso entendimento. Embora a China possua a maior área de florestas plantadas do mundo, as estatísticas florestais tradicionais sempre se concentraram em métricas gerais, como volume de madeira. À medida que os princípios de desenvolvimento verde ganharam força e a China anunciou suas metas de duplo carbono, ficou claro que era necessário um entendimento mais detalhado e orientado por dados sobre os ecossistemas florestais.
Para calcular a contribuição das florestas para a biodiversidade, precisávamos de um sistema de contabilidade ecológica preciso. A restauração ecológica baseada em ciência — incluindo decisões sobre plantar árvores, arbustos ou gramíneas em um determinado local — depende do acesso a dados de alta qualidade e espacialmente explícitos.
Uma segunda motivação foi uma profunda insatisfação com dados desatualizados ou incompletos. Há anos, a revista Nature publicou uma estimativa global de 3,04 trilhões de árvores, mas as florestas da China estavam representadas por dados escassos. Naquela época, minha equipe já havia passado mais de três anos coletando informações detalhadas nas profundezas das florestas chinesas. Eu estava convencido de que a China não deveria permanecer um ponto cego na pesquisa florestal global. Se outros conseguiam mapear árvores em larga escala, nós também poderíamos.
No entanto, a China se estende por mais de 9,6 milhões de quilômetros quadrados. Como contar árvores em um território tão vasto? A solução veio por meio da inovação metodológica e do avanço tecnológico.
Há duas décadas, observei pesquisadores estrangeiros subirem nas copas das árvores para medir manualmente sua altura — um feito admirável, mas que evidenciava as limitações dos métodos tradicionais. Percebi que o progresso na pesquisa ambiental depende não apenas de dedicação, mas também da adoção contínua de ferramentas avançadas. A tecnologia é o corrimão que nos permite alcançar novas alturas.
Nosso avanço veio com a aplicação da tecnologia LiDAR (Light Detection and Ranging). Essa tecnologia usa pulsos de laser para capturar altura, forma e localização das árvores com precisão excepcional. Um único escaneamento pode mapear uma área inteira de floresta em poucos minutos.
Desenvolvemos um sistema integrado de observação “céu-e-solo”, semelhante a realizar uma tomografia computadorizada de uma floresta. Do alto, drones equipados com sensores LiDAR emitem mais de um milhão de pulsos de laser por segundo. Do solo, membros da equipe percorrem o terreno com scanners portáteis.
Juntos, esses pontos de vista — de cima, laterais e de baixo para cima — nos permitiram construir modelos digitais de ecossistemas florestais de alta resolução e passíveis de mensuração. Hoje, o hardware e o software LiDAR que desenvolvemos já foram adotados em mais de 130 países e regiões.
Ao longo dos últimos 10 anos, pesquisamos mais de 76.000 parcelas de amostragem e coletamos mais de 400 terabytes de dados — o equivalente a mais de 80 milhões de fotografias em alta resolução. Essa escala sem precedentes exigiu inovação constante. Para enfrentar desafios como terreno irregular, criamos um algoritmo de voo “acompanha-terreno” para drones. Para processar conjuntos massivos de dados, desenvolvemos um algoritmo inteligente de segmentação de árvores, capaz de extrair automaticamente indivíduos arbóreos de copas florestais complexas e gerar o mapa de densidade de árvores. Passo a passo, construímos soluções inéditas. Pesquisas científicas raramente começam com condições perfeitas; avançam quando pesquisadores criam novas condições por meio de esforço persistente.
Entre os muitos momentos inesquecíveis esteve a descoberta da árvore mais alta já registrada na Ásia — um cipreste de 102,3 metros na Região Autônoma de Xizang. Depois de cruzar o turbulento rio Yiong Tsangpo, finalmente ficamos em silêncio reverente sob essa presença imponente. Mais do que uma árvore, ela parecia um monumento vivo — um testemunho da resiliência, sabedoria e força silenciosa da natureza.
Nosso trabalho para aprimorar o catálogo ecológico digital da China continua. Ao aprofundar nossa compreensão dessa base de dados verde, buscamos apoiar uma gestão ambiental mais eficaz em casa e contribuir com conhecimento valioso para a comunidade internacional.
(Guo Qinghua é professor distinto da Universidade de Beijing e diretor do Instituto de Sensoriamento Remoto e Sistemas de Informação Geográfica da Escola de Ciências da Terra e do Espaço da Universidade de Beijing)