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Joseph Nye: China e EUA podem evitar a "armadilha de Tucídides"

Fonte: Diário do Povo Online    17.09.2015 15h22

CAMBRIGE, Estados Unidos, 17 de setembro (Diário do Povo Online) – O famoso erudito das relações internacionais e professor da Universidade de Harvard, Joseph Nye, disse, numa entrevista exclusiva concedida ao Diário do Povo na última quarta-feira, que os Estados Unidos e a China podem fortalecer o intercâmbio em todos os níveis e se tratarem de forma objetiva e racional, evitando assim a "armadilha de Tucídides".

Sobre questões como os interesse comuns, se os EUA e a China vão pelo caminho histórico de conflito inevitável entre uma potência emergente e a outra existente, e se as relações sino-americanas entrarão na chamada "armadilha de Tucídides", Joseph Nye disse claramente que os dois países não vão seguir o caminho histórico. Isto porque a China é um participante construtivo da ordem internacional e está disposto a aperfeiçoá-la, ao invés de desafiá-la.

Ele disse que ultimamente nos Estados Unidos tem havido muitos debates sobre as relações EUA-China, sobre o declínio ou não dos Estados Unidos, o rumo das relações EUA-China e outras questões gerais que preocupam os americanos. Algumas pessoas estão até mesmo preocupadas pensando que a competição e o conflito entre os dois países são inevitáveis. O especialista em questões de China, o Professor David Lampton, usou o chamado "ponto crítico" para descrever as atuais relações sino-americanas. Sobre ele, Nye disse que "muitos dos seus pontos de vista são perspicazes, mas que a ideia de 'ponto crítico' é um pouco exagerada, porque os dois países podem evitar completamente os conflitos por meio do aprofundamento dos entendimentos".

Quanto à "armadilha de Tucídides", Joseph Nye acredita que o motivo da guerra entre Atenas e Esparta foi o poder crescente de Atenas e o temor inevitável de Esparta, mas que as atuais relações sino-americanas são totalmente diferentes das relações entre Atenas e Esparta. Segundo ele, não se pode fazer essa comparação simplista.

"Atualmente, os intercâmbios sino-americanos em todos os níveis aumentam a cada dia mais, e os turistas e estudantes chineses ajudam a aprofundar o entendimento entre os dois países e os dois povos. Evita-se o medo originado pela ignorância. Portanto, os EUA e a China poderiam evitar a 'armadilha de Tucídides'", afirmou Nye.

Nye disse que não é correto analisar o papel de destaque desepenhado pela China nos assuntos internacionais como se fosse um jogo de soma zero, objetivando minar o papel dos Estados Unidos. Como exemplo, ele disse que no início da fundação do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, houve quem defendesse a não-adesão de outros países, mas que felizmente a administração de Barack Obama ajustou a sua política em relação ao banco. No caso do TPP, caso a China deseje participar, ela deve ser acolhido no futuro.

Para os atuais problemas existentes nas relações sino-americanas, Nye considera que, embora as trocas econômicas e comerciais bilaterais e os intercâmbios culturais continuem a aumentar, o entendimento e a confiança mútua são insuficientes, gerando muitos problemas. A discordância entre os Estados Unidos e a China na questão da segurança da internet é, de certo modo, uma reflexão da insuficiência de confiança mútua. Portanto, os dois lados devem aumentar a cooperação na área da segurança cibernética e diminuir a desconfiança. "Os Estados Unidos e a China devem fortalecer o intercâmbio e tratarem-se de forma objetiva e racional um ao outro", acrescentou.

Joseph Nye acredita que, embora a China continue a se desenvolver, os Estados Unidos ainda têm uma vantagem peculiar. Então, não há necessidade de se ter ansiedade. A “ameaça da China” é muitas vezes exagerada pelo público e pelos especialistas americanos. Tanto exagerar como menosprezar o desenvolvimento da China, é errado. É necessário ver o desenvolvimento econômico da China como um "retorno". Se não levarmos em conta um contexto histórico mais longo e o estágio atual do desenvolvimento da China, é fácil ter uma reação excessiva em relação ao desenvolvimento do país aisático.

Falando sobre a transferência de poder nas relações internacionais, Joseph Nye acredita que transferências de poder entre os países, governos e organizações internacionais, e até mesmo entre as ONGs é um fenômeno normal. Temos que aprender a nos adaptar.

(Editor:Chen Ying,editor)

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