BRASÍLIA, 9 de dezembro (Diário do Povo Online) - Em uma carta enviada na noite da última segunda-feira, o vice-presidente do Brasil, Michel Temer, disse que a Presidente Dilma Rousseff não confia nele e nem no seu partido. Isso aprofunda a crise política que a presidente enfrenta.
Na carta, Temer, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), informou uma série de eventos nos últimos cinco anos do governo para mostrar que Rousseff não confiava e "nunca confiará" nele ou no seu partido.
Em uma atitude inesperada, Temer se descreveu como um vice-presidente "decorativo" no primeiro mandato (2011-2014), no entanto, afirmou que busca a reunificação do país.
Na quarta-feira passada, o controverso presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do PMDB e ex-aliado de Temer, acolheu um pedido de impeachment contra Dilma Rousseff por supostas irregularidades fiscais.
A polêmica decisão foi anunciada por Cunha horas após a bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) decidir votar contra ele no Conselho de Ética, onde ele enfrenta um processo que pode culminar na sua cassação.
Embora a carta de Temer seja endereçada à Dilma, ela vazou e chegou a ser publicada na integra pela mídia brasileira.
Durante o final de semana passado, a presidente e seus colaboradores mais próximos esperavam uma posição pública de Temer contra o "impeachment", o que não aconteceu.
Na segunda-feira de manhã, Dilma Rousseff disse que não vê razões para suspeitar do vice-presidente, mas poucas horas depois, recebeu a carta em que essa confiança é precisamente questionada.
No documento, o vice-presidente não propôs uma ruptura com o Partido dos Trabalhadores (PT) de Dilma ou do PMDB com o governo, mas a ala PT interpretou a mensagem como uma manobra para forçar uma ruptura.
Até agora, o governo considera improvável que o processo de impeachment seja aceito no plenário da Câmara dos Deputados, onde é necessário o apoio de dois terços dos votos para que tenha continuidade.
Com a novidade introduzida pela atitude do vice-presidente, que também preside o PMDB, o processo se torna muito mais incerto.
A ruptura com Temer era prevista após a demissão do Ministro da Aviação Civil, Eliseo Padilha, considerado o seu principal parceiro político e conhecido por sua capacidade de articular.
A saída de Padilha do gabinete pode ser o primeiro passo para um processo de negociações do PMDB com os partidos de oposição, com o objetivo de encontrar os votos necessários para iniciar formalmente o impeachment.
Ao mesmo tempo, o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Leonardo Picciani questionou a atitude de Temer e disse que o vice-presidente sempre privilegiou seus aliados pessoais em detrimento do reforço da bancada do partido.
Picciani, um defensor ferrenho do mandato de Dilma Rousseff e do bom diálogo com o Palácio do Planalto (sede da presidência) é pressionado por colegas próximos a Cunha para deixar a liderança da bancada pemedebista.
O interesse de alguns setores do PMDB em assumir o poder em um possível impeachment do presidente surgiu no mês passado, quando lançaram um documento programático para propor um conjunto de medidas para combater a crise econômica.
Ao contrário das forças de oposição, como o Partido da Social Democracia Brasileiro (PSDB), o PMDB é o único que apresentou um governo alternativo à sociedade.
Os realinhamentos políticos e intensas negociações que estão ocorrendo desde o último processo de impeachment acolhido na quarta-feira contra Dilma Rousseff têm causado a reação de importantes figuras políticas distantes de Brasília.
Na sexta-feira os nove governadores da região pobre do nordeste do país se declararam formalmente contrários ao processo de impeachment, que eles consideram ilegítimo.
No sábado anterior, o ex-ministro Ciro Gomes, do Partido Democrático Trabalhista (PDT), um dos políticos mais populares do Nordeste, acusou Temer de ser nada menos do que o "capitão do golpe".