Opinião: Os Jogos do Rio precisam de um período de tréguas na política (2)

Fonte: Diário do Povo Online    21.03.2016 15h25

É inequívoco que a crise política veio paralisar o governo de Rousseff. A crise económica segue o seu rumo contagiante. Os indicadores macroeconómicos continuam a afundar, sendo o único dado positivo a redução do capital especulativo.

Embora o novo Ministro da Fazenda tenha referido a criação de um pacote de medidas de ajustamento, este dificilmente será sujeito ao voto. Isto reflete a inabilidade do governo para intervir, já para não referir da sua capacidade de fazer frente à crise económica de forma eficiente.

Com o escalar da crise política, espera-se que o mercado financeiro sofra em 2016 uma evolução negativa de 3,5%, dando continuidade à tendência calamitosa de 2015 de -3,8%. Uma queda tão profunda por dois anos seguidos é uma ocorrência rara nas últimas duas décadas.

Supondo que Lula da Silva consegue entrar para o governo, as políticas económicas poderão retomar a assertividade de há bem pouco tempo. Essas políticas deverão produzir resultados tangíveis num curto espaço de tempo, porém, na outra face da moeda, as mesmas políticas deverão acelerar o agravamento da dívida e da inflação, assim como pressionar e comprometer a estabilidade financeira do país. A curto prazo, é muito difícil augurar à economia brasileira um futuro promissor.

Em 2009, para euforia da população, o Brasil venceu a contenda para organizar os Jogos Olímpicos. Porém, atualmente, este parece ser um “fardo insustentável” para o governo brasileiro. Sob um cenário político e económico babélico, o governo brasileiro tem que se responsabilizar por garantir, num prazo de 5 meses, o maior evento esportivo à escala mundial e combater a ameaça do vírus zika.

Como palco daquilo que o país tem para oferecer ao mundo, seria do interesse das várias fações políticas (incluindo o Comitê Internacional dos Jogos Olímpicos e a igreja católica) concordarem num “período de tréguas” na política brasileira.

Isto deve-se ao facto de que, para um país, o direito de organizar os Jogos, está geralmente separado por um período de décadas de intervalo. Esta regra aplica-se especialmente aos países em desenvolvimento, onde é ainda mais difícil conseguir a oportunidade.

Deste modo, o foco principal do problema é o facto da oposição do governo brasileiro estar a usar a pressão proveniente dos Jogos para tentar depor o governo da atual presidente. Este é o maior desafio pelo qual a próxima edição dos Jogos Olímpicos terá de atravessar.

(O autor é o diretor executivo do Centro de Estudos Brasileiros do Instituto Latino-americano da Academia Chinesa de Ciências Sociais)

Edição: Mauro Marques 


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(Editor:Renato Lu,editor)

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