Funcionários da Beijing Mobike Co. nas suas Mobike Lite, a mais recente adição no acervo dos serviços de partilha de bicicletas da empresa, no distrito Haidian da capital chinesa.[Foto: ZOU HONG/CHINA DAILY]
Novos grupos privados que oferecem serviços de partilha de bicicletas têm surgido na China, tendo por mote o reacendimento do gosto do público geral pelos velocípedes que foram, em tempos não tão remotos, o cartão de visita do país.
Nos anos antecedentes à reforma de abertura do gigante asiático - que viria a determinar a ascensão da China ao atual segundo posto na tabela das maiores economias do mundo - o meio de transporte privilegiado era a bicicleta. Vídeos com milhões de bicicletas a percorrer as estradas das maiores cidades chinesas deram origem ao agnome “Reino das Bicicletas” por parte da comunidade internacional.
O crescimento económico veio acompanhado de melhores salários e da subida do nível de vida, renegando a fiel bicicleta para segundo plano e ditando o advento da era do automóvel enquanto meio de transporte de eleição. O país é agora o maior mercado automobilístico do mundo, tendo como consequência a sobrelotação das estradas, um maior tempo despendido no tráfego e índices de poluição cada vez maiores.
Atualmente, os programas de partilha de bicicletas procuram reviver o histórico romance com a bicicleta, contribuindo assim para a redução dos índices poluição, do tráfego, e incentivando, ao mesmo tempo, a prática de uma atividade que favorece a saúde.
A ideia advém já dos tempos em que os carros começaram a inundar as estradas chinesas, instando académicos e responsáveis pelo planeamento urbano a incentivar um maior uso dos transportes públicos e a conceber projetos de partilha de bicicletas. Wuhan e Hangzhou contam atualmente com a maior frota de bicicletas públicas do mundo, 90,000 e 60,000 respetivamente.
Os usuários, porém, reclamam da impraticabilidade destes serviços e da maçada de ter que procurar os locais onde as bicicletas estão disponíveis.
O setor privado, perante este cenário, detetou um nicho a explorar. É neste contexto que surgiram empresas como a Mobike. Zhang Hui, uma editora de uma revista em Shanghai diz: “Usei as bicicletas públicas, mas não achei prático. Ao início não prestei muita atenção à Mobikes, mas após ver um grande número de pessoas a utilizar, e o aspeto moderno das bicicletas fiquei interessada”. Zhang refere a simplicidade do registo: “Não existem cartões ou burocracias. Basta um smartphone e um depósito de 299 yuans e estamos prontos para seguir viagem”.
Uma utilização de 30 minutos tem o custo de um yuan, pelo que Zhang recomendou o serviço à família e amigos.
“Não preciso de recolher e devolver a bicicleta a uma estação. Posso recolher e deixá-la em qualquer espaço público no qual não seja proibido o estacionamento”, disse.
A Mobikes começou como startup em Beijing, tendo já expandido a sua atividade a Shanghai. A curva de expansão do negócio é claramente ascendente.
Existem, porém, alguns obstáculos que a empresa enfrenta. Os acentos fixos e o peso das bicicletas tornam a viagem mais “dolorosa” para pessoas altas ou pouco habituadas a exercício físico. O sistema colapsou em setembro por uma vez, resultando na vandalização e roubo de bicicletas. Existem também alguns utilizadores a estacionar as bicicletas em espaços privados, ou mesmo a levá-las para dentro de casa.
Foi recentemente introduzida uma cláusula que debita uma determinada quantia de dinheiro do saldo de utilizadores que deixem as bicicletas em mau estado ou as levem até localizações inapropriadas.
Novas bicicletas mais leves foram recentemente acrescentadas à frota da empresa para responder aos problemas apresentados.
Tudo indica que este setor parece ter condições para se estabelecer no mercado a longo prazo. Resta saber se o “Reino das Bicicletas” irá ou não aceder ao retorno às origens, concedendo novamente ao velocípede um papel de destaque nas suas estradas.