Brasília, 5 jun (Xinhua) -- O crescimento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no primeiro trimestre, segundo dados oficiais divulgados na quinta-feira passada, não garante ainda que a maior economia da América Latina tenha saído da mais severa recessão de sua história.
A análise dos diversos componentes do PIB, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que o crescimento se deveu em grande parte ao forte desempenho da agricultura e do setor exportador, enquanto a demanda doméstica e a taxa de investimento decepcionaram.
Segundo o IBGE, o PIB do Brasil cresceu 1% entre janeiro e março em comparação com o último trimestre do ano passado, sendo a primeira taxa positiva depois de oito trimestres consecutivos de queda.
A economia brasileira sofreu uma retração de 3,8% em 2015 e uma de 3,6% em 2016, o que representou uma recessão mais profunda do que a ocorrida na crise da década de 1930.
O último crescimento foi comemorado pelo presidente Michel Temer, como "o fim da recessão", mas o consenso entre os especialistas é que o resultado foi menos auspicioso do que o previsto.
O próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, apesar de assegurar que a recessão ficou para trás e que se tratava de um dia "histórico", admitiu que "ainda há um caminho a percorrer até se chegar à plena recuperação econômica"
Segundo a gerente de contas nacionais do IBGE, Rebeca Palis, ainda é cedo para dizer que a crise chegou ao fim.
"Há que se esperar um pouco para ver o que vai acontecer este ano.Tivemos um crescimento no trimestre mas foi sobre uma base muito deprimida e se olharmos a longo prazo, ainda estamos no mesmo nível de 2010", destacou.
O resultado do PIB foi frustrante principalmente no lado da demanda: embora os economistas projetassem um primeiro aumento de 0,4% depois de oito trimestres consecutivos de queda no consumo das famílias, houve uma nova retração, de 0,1%, adiando a recuperação.
O rertrocesso também foi mais profundo do que o esperado no que se refere aos investimentos: as estimativas indicavam uma queda pequena de 0,3%, mas os resultados mostraram uma baixa de 1,6%.
O resultado positivo se explica, principalmente, pelo crescimento de 13,4% da agricultura, graças a uma colheita recorde, pelo aumento de 0,9% da indústria, devido às exportações e pela estabilidade do setor de serviços.
Todas as comparações são entre o primeiro trimestre de 2017 e o último de 2016, desconsiderando os efeitos sazonais.
O ritmo de retrocesso foi o mesmo verificado no quarto trimestre de 2016, o que significa que não houve freio na queda dos investimentos.
O temor dos economistas é que o PIB possa retroceder no segundo trimestre devido à crise política gerada a partir das gravações realizadas pelo empresário Joesley Batista, do grupo JBS, em uma conversa com Temer, na qual o presidente supostamente dá o seu aval ao pagamento de subornos.
A crise política causou turbulência nos mercados e afetou a confiança dos investidores e dos consumidores.
Além disso, o enfraquecimento da base do governo reduziu a possibilidade de aprovação de reformas estruturais, especialmente com relação à previdência social, considerada essencial para a sustentabilidade das contas públicas.
Ao analisar os dados divulgados nesta quinta-feira, o chefe de pesquisa econômica da América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos, questionou a política fiscal.
Segundo Ramos, as contas do IBGE revelaram que o consumo privado caiu 9,7% desde o final de 2014, enquanto o consumo público caiu 2,4% nesse mesmo período de dois anos.
"Isto demonstra que a carga do ajuste macroeconômico em curso continua caindo desproporcionalmente sobre o setor privado", declarou Ramos em uma nota.
Por sua vez, o ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto, declarou em um seminário organizado pela Bolsa de Valores de São Paulo, que o resultado indica que a economia brasileira está começando a melhorar e pode apresentar um crescimento moderado em 2017 entre 0,2% e 0,4%.
No entanto, Netto lamentou que o Brasil esteja passando por um momento de "absoluta incerteza" política, devido à indefinição sobre o futuro do presidente Temer.
Em sua opinião, "a incerteza mata o espírito animal (dos empresários)" e a turbulência política pode afetar as atividades e as reformas estruturais em discussão no Congresso.
Na quinta-feira passada, a diretora executiva da agência de classificação de risco Standard & Poors, Lisa Schineller, disse que o agravamento da crise política aumenta o risco de rebaixamento da nota do Brasil.
Segundo Schineller, o enfraquecimento do governo Temer reduz a chance de aprovação da reforma previdência social a curto prazo, embora tenha destacado como ponto positivo o fortalecimento institucional gerado pelas investigações anticorrupção.