Por Enrique Dussel
Em setembro de 2006, os ministros das Relações Exteriores da China, Rússia, Índia e Brasil reuniram-se pela primeira vez. Esta reunião teve uma importante carga simbólica, pois, desde então, decorreu mais de uma década da existência do mecanismo do BRICS. Entretanto, países em desenvolvimento como o México, entre outros, seguem de perto a proposta chinesa do “BRICS Plus”, e do seu potencial reforço da cooperação sul-sul.
Nos últimos anos, sob influência da desaceleração da economia mundial, o Brasil, Rússia e outros membros do BRICS, depararam-se com dificuldades ao nível do desenvolvimento económico e social. Porém, em parte graças ao desempenho notável da economia chinesa, o mecanismo de cooperação sul-sul passou a ser um modelo paradigmático. A dificuldade deste mecanismo reside nas disparidades econômicas entre os vários países em desenvolvimento, bem como nas suas diferenças sociais e culturais e seus modelos para alcançar o desenvolvimento. Dez anos após a inauguração do mecanismo de cooperação, as economias combinadas dos países membros, passaram a ocupar de 12% a 23% da economia mundial. O atual contributo para o seu crescimento é de mais de 50%.
Enquanto representante dos países em desenvolvimento, o BRICS detém um potencial incomensurável. Face ao isolamento e protecionismo defendidos por alguns países desenvolvidos, o fardo carregado pelos BRICS é ainda maior. Como encontrar novos catalisadores do desenvolvimento da economia mundial? Como assegurar um plano de garantia do desenvolvimento sustentável no longo prazo? Como reforçar a cooperação internacional? Como avançar com o processo de globalização da economia? A importância destas questões assume atualmente uma importância incontornável.
Estamos satisfeitos por verificar que nos últimos anos, sob a liderança da China, a cooperação entre os BRICS abrangeu o comércio, finanças, recursos energéticos, higiene, ciência, cultura, agricultura, educação, entre outros domínios. A iniciativa chinesa do cinturão e rota, assim como o Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas (BAII), o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS, entre outros projetos, passaram a garantir uma fonte de motivação incisiva para impelir a economia mundial.
Várias das iniciativas de cunho chinês foram reconhecidas na última cúpula de líderes do G20, no encontro informal de líderes da APEC e no Fórum de Cooperação “Um Cinturão, Uma Rota”. A experiência acumulada pela China inspira os povos de diversos países e apresenta um novo modelo. O país asiático não só demonstrou a sua disponibilidade de compartilhamento de tecnologia avançada e experiências bem-sucedidas, como também a sua agenda concreta a curto, médio e longo prazo. Tudo isso demonstra a influência do país e capacidade de liderança na governança global.
O BRICS não só assume um papel de permitir aos países em desenvolvimento se unirem e passarem a ter maior expressividade no panorama econômico mundial, como também insta a uma maior cooperação multilateral.
A garantia de uma voz no cenário mundial quebra com o monopólio do mundo desenvolvido na governança global. A proposta BRICS Plus, sugerida pela China, consiste no aprofundamento do bloco atual, despoletando o interesse de novos países, dos quais o México não é exceção.
Os feitos alcançados pela China no domínio econômico são inegáveis, bem como as esperanças depositadas no país e na sua capacidade de liderança mundial. Estou expectante para os acontecimentos a terem lugar na cúpula do BRICS, e espero que os países membros possam incrementar a cooperação em questões prementes como o alívio da pobreza em países em desenvolvimento, reforço da interconectividade e garantia da manutenção da estabilidade econômica mundial.
(O autor é membro do Centro de Investigação para as Questões Sino-Mexicanas da Universidade Nacional Autónoma do México.)