O texto abaixo é adaptado da rúbrica “Badalar dos Sinos”, publicado na versão chinesa do Diário do Povo a 16 de maio de 2019.
Recentemente, por ocasião da 11ª ronda de negociações comerciais de alto nível entre a China e os EUA, os últimos emitiram um anúncio de que iriam aumentar as tarifas sobre 200 bilhões de dólares de exportações chinesas com destino aos EUA de 10% para 25%. Os EUA recorreram aos rótulos de “recuo” e “contradição” para descrever a posição chinesa nas negociações, afirmando que “o compromisso chinês havia sido delapidado”, e acusando a China de “desvalorizar os interesses fundamentais dos EUA”. Tal situação aliena os fatos.
O embuste norte-americano de uma suposta “reversão chinesa” deturpa profundamente a realidade. Ao longo do último ano, desde o arranque das consultas econômicas sino-americanas, a China tem vindo a promover o diálogo com base na sinceridade, na esperança de alcançar um acordo mutuamente benéfico para ambas as partes, baseado na equidade e no respeito recíproco. Mesmo após a ameaça prévia de imposição de tarifas, a delegação chinesa prosseguiu com a agenda combinada e rumou aos EUA para a 11ª ronda de negociações, demonstrando a sinceridade chinesa no diálogo bilateral.
As negociações entre as duas delegações são um processo em curso, sendo que não foi atingido um acordo formal. Neste contexto, como é possível falar de “promessas”? O lado americano, durante as negociações, alterou por várias vezes a sua posição. Tendo isto em conta, não será legítimo qualificar essa conduta como uma “contradição”? A lógica americana é a de definir a posição do seu interlocutor. No caso do último não aquiescer, estamos, portanto, de acordo com a lógica americana, perante um caso de “contradição”.
Ao longo dos últimos 40 anos de reforma e abertura, a China abriu suas portas ao mundo, partilhando os frutos do seu desenvolvimento com a comunidade internacional. Desde que se juntara à OMC há mais de uma década, a China cumpriu sempre integralmente com os seus compromissos, intercedendo a favor do multilateralismo, reduzindo drasticamente as tarifas aduaneiras e barreiras não tarifárias. Concomitantemente, a China opôs-se resolutamente ao unilateralismo e ao protecionismo, tendo nutrido uma imagem de desenvolvimento responsável. Já em 2010 a China havia alcançado as suas obrigações de redução de impostos, tendo o nível de tarifas caído de 15,3% em 2001 para 9,8%.
Por seu turno os EUA, ao longo dos últimos dois anos, enquanto principal fundador e participante da ordem econômica internacional e do sistema multilateral pós-Segunda Guerra Mundial, deveria, teoricamente, proteger e respeitar as regras do multilateralismo, mas virou, por várias vezes, as costas às organizações internacionais: Acordo de Paris, UNESCO, acordo nuclear do Irão e o Conselho dos Direitos Humanos da ONU são apenas alguns exemplos. Sob o enquadramento do bordão “América Primeiro” orientado para a “produção de resultados”, os EUA continuam a desvincular-se de organizações internacionais e de acordos multilaterais, descartando suas responsabilidades e obrigações. O fato dos EUA terem sucessivamente voltado atrás na sua palavra demonstra, aos olhos do mundo, a verdadeira face da “contradição”.
Que ao longo do último ano de negociações comerciais sino-estadunidenses os EUA por várias vezes alteraram a sua posição, é algo do conhecimento de todos. Desde 29 de maio do ano passado, os EUA rejeitaram o comunicado conjunto no sentido de evitar uma guerra comercial, tendo anunciado a imposição de tarifas de $50 bilhões sobre as exportações chinesas. Em 5 de maio do corrente, os EUA recomeçaram com as ameaças de imposição de tarifas, prejudicando as consultas comerciais a decorrer entre os dois países.
Os EUA têm alterado constantemente a sua posição, enaltecido o protecionismo comercial, utilizado abusivamente métodos de taxação, implementado métodos de pressão extrema e chantagem, debilitado de modo agravado a ordem comercial internacional, vilipendiado os interesses dos seus parceiros, e desdenhado os interesses das suas empresas e cidadãos. A arbitrariedade dos EUA aumentou a incerteza sobre o crescimento econômico global e gerou um clima de desapontamento entre a comunidade internacional. Nas trocas comerciais e econômicas internacionais, existem, indubitavelmente, diferenças, sendo que a cooperaçao é a única opção viável. Nenhum país pode decidir os destinos do mundo por si só. Esperamos que a parte americana adira a essa tendência e aja em prol da paz e do desenvolvimento mundiais.