São Paulo, 14 jan (Xinhua) -- Boa notícia para os leitores brasileiros ansiosos para conhecerem mais sobre literatura chinesa: o lançamento em português do livro "Na Terra do Cervo Branco", de Chen Zhongshi. A obra publicada pela editora Estação Liberdade chegou às livrarias das principais cidades do Brasil no final do ano passado.
Angel Bojadsen, diretor do Conselho Editorial da Estação Liberdade, procurava um romance que representasse a literatura chinesa contemporânea há muito tempo e acabou escolhendo o escritor chinês Chen Zhongshi. "O livro foi publicado pela primeira vez em 1993 e quatro anos depois levou o Prêmio Mao Dun, considerada a premiação máxima da literatura chinesa", conta. "Na Terra do Cervo Branco" resume parte da história chinesa do século 20: ao contar as disputas entre duas famílias, a Família Bai e a Família Lu, mostra a mudança histórica ao longo de meio século depois do término da Dinastia Qing, em 1911.
"Fiquei fascinado quando li a versão francesa. Trata-se de um romance que é ao mesmo tempo irônico e calcado no realismo mágico ao estilo de Gabriel García Márquez. A cultura tradicional e o folclore aparecem profundamente arraigados nos personagens, e a sutileza da trama é incrível", disse Bojadsen em entrevista à Xinhua.
Em 2014, Bojadsen procurou a professora de Língua e Literatura Chinesa do Departamento de Letras Orientais da Universidade de São Paulo (USP), Ho Yeh Chia, e pediu que ela traduzisse esse romance de 500 mil palavras para o português. Segundo a professora, "o livro tem um sabor local, uma história clara, uma estrutura sofisticada e muitos costumes populares", o que a deixou interessada pelo projeto.
No entanto, conta ela, o trabalho de tradução não foi tranquilo, pois havia dificuldades com o idioma. "Sou de outra região da China, não estou familiarizada com a cultura e o modo de viver rurais e nem com os dialetos locais do povo da província de Shaanxi, onde se passa a trama. Para se ter um exemplo das dificuldades, muitas árvores e flores citadas no livro são encontradas apenas no Hemisfério Norte. Então precisei descobrir como poderia adaptar a tradução", disse ela.
A sinóloga brasileira Márcia Schmaltz, que para se comunicar com os chineses adotou o nome de Xiu Anqi, também se juntou à equipe de tradução. Fluente em chinês e português e familiarizada com a cultura chinesa, ela e Ho discutiam com frequência termos da tradução. Schmaltz, no entanto, faleceu antes da conclusão da obra em português, vítima de um câncer.
Ainda no período de tratamento de Schmaltz, o romancista brasileiro Mauro Pinheiro passou a integrar o grupo de tradução, a fim de revisar o material e contribuir para o texto final.
O trabalho dos três tradutores permitiu que a versão em português de "Na Terra do Cervo Branco" chegasse aos leitores brasileiros para contar histórias chinesas e permitir que estes conheçam um pouco da China rural. Um dos desafios do trio foi manter o estilo original adaptando-o ao contexto do Brasil. Para isso, foram necessárias inversões de ordens de parágrafo, mudanças nos tamanhos das frases e em algumas traduções de nomes ou substantivos.
Bojadsen conta que os leitores brasileiros responderam com entusiasmo ao livro e que estão muito animados com o surgimento de algo tão novo sobre a China rural e suas famílias tradicionais. Esta não é a primeira obra de literatura chinesa traduzida pela Estação Liberdade, que também já publicou "O Garoto do Riquixá", de Lao She. Nos planos, agora, está apresentar aos brasileiros literatura chinesa ainda mais atual. Bojadsen está discutindo com editores as traduções de "Flores", de Jin Yucheng, autor de Shanghai, e de "Terra Errante", de Liu Cixin.
"A cultura chinesa é muito influente, por isso a importância de se apresentar esta literatura no Brasil, a fim de que o país possa construir uma biblioteca abrangente de literatura estrangeira", acrescentou Bojadsen.
Já a professora Ho está traduzindo com seus alunos obras clássicas da literatura chinesa, além de outras modernas e contemporâneas. "Com o advento de mais versões de obras literárias chinesas e brasileiras, acredito que, através da tradução literária, os povos chineses e brasileiros se tornarão cada vez mais conscientes da história e cultura de cada um, e seus sentimentos se fortalecerão", disse a professora.