O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu na quarta-feira à comunidade internacional que proteja e promova os direitos das mulheres em meio a "crises recorrentes".
"Neste momento de proliferação de crises, a comunidade internacional deve buscar estratégias comprovadas para a paz e a estabilidade. Proteger e promover os direitos das mulheres é uma dessas estratégias", disse o chefe da ONU no debate aberto em nível ministerial do Conselho de Segurança sobre mulheres, paz e segurança.
A agenda Mulheres, Paz e Segurança é "uma de nossas principais esperanças" para um futuro mais pacífico e um lugar habitável, disse Guterres, destacando o papel positivo que as organizações regionais desempenharam na proteção e avanço da agenda principal.
Apesar do fato de que a igualdade de gênero oferece um caminho para a paz sustentável e prevenção de conflitos, o chefe da ONU disse que o mundo está indo na direção oposta.
"Os conflitos estão ampliando a desigualdade de gênero, a pobreza, as mudanças climáticas e outras formas de desigualdade", disse ele, citando como mulheres e meninas são desproporcionalmente afetadas pela violência e pelos efeitos dessas crises em cascata.
Apesar desses fatores, o número de meninas fora da escola e sem perspectivas de independência financeira continua aumentando, assim como o número de mulheres e meninas que sofrem violência doméstica.
"Misoginia e autoritarismo se reforçam mutuamente e são antitéticos a sociedades estáveis e prósperas", disse ele, lembrando que "a igualdade das mulheres é uma questão de poder".
Como no Afeganistão, Mali e Sudão, conflitos e impasses destacam desequilíbrios de poder duradouros.
"Em todos esses conflitos temos homens no poder e mulheres excluídas, seus direitos e liberdades deliberadamente visados", disse o secretário-geral.
Um país vizinho ou organização regional pode fazer uma diferença significativa quando um conflito eclodir, observou ele.
Como tal, Guterres agradeceu a colaboração da ONU com a União Europeia, a União Africana (UA), a Liga dos Estados Árabes e a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, todos os quais participaram no debate desta quarta-feira.
O secretário-geral deu o exemplo da parceria da ONU-UA e da Autoridade Intergovernamental Regional para o Desenvolvimento, no Sudão, para conduzir o processo político de volta a uma ordem constitucional acordada e legítima, com o objetivo de garantir que pelo menos 40 por cento dos participantes sejam mulheres.
Por meio de suas missões políticas e de construção da paz em todo o mundo, a ONU apoia mulheres construtoras da paz e organizações da sociedade civil, inclusive apoiando sobreviventes de violência sexual e investindo em parcerias com mulheres líderes locais que buscam pela paz, além de aumentar a quantidade de mulheres em todos os níveis.
"Apoiar sobreviventes de violência sexual, bem como mulheres construtoras da paz e ativistas é fundamental", disse ele. "A evidência está crescendo a cada ano que garantir os direitos das mulheres, incluindo seu direito à participação igual em todos os níveis, é essencial para construir e manter a paz".
Além disso, é preciso ter igualdade de gênero, inclusive usando cotas, no monitoramento eleitoral, reformas no setor de segurança e desarmamento, desmobilização e sistema de justiça.
Apesar das evidências, "a agenda Mulheres, Paz e Segurança continua sendo desafiada e até revertida em todo o mundo", disse o chefe da ONU, pedindo que todos os Estados-membros reflitam sobre o fato de que, apesar do acordo consistente sobre o valor das mulheres na paz, "ainda há uma enorme lacuna na sua participação e na implementação das promessas feitas para sua proteção, direitos humanos e dignidade".
"Eu os incentivo a se comprometerem a aumentar o apoio à sociedade civil feminina, à prevenção de conflitos e ao trabalho de construção da paz", concluiu ele.