Por He Yong, Diário do Povo
Miao Jialin, especialista em pintura de camponeses, instruindo uma aluna em maio de 2022, na cidade de Liuzhou, Região Autônoma da Etnia Zhuang de Guangxi. Foto de Liao Ziyuan/Diário do Povo Online
Partindo da cidade de Liuyang, na província de Hunan no centro da China, subimos o rio Liuyang e, seguindo para leste por mais de 70 quilômetros, dirigimos por mais de uma hora até chegarmos ao interior das montanhas Luoxiao, na fronteira entre Hunan e Jiangxi. Neste lugar, onde vastas montanhas rodeiam uma extensa planície, fica a região de Xiaohexiang, conhecida como por ser "bela como uma pintura".
Encontrámos Zhan Qiuming no estúdio de pintura da aldeia de Xinhe. Quando nos viu entrar, interrompeu seu trabalho e nos cumprimentou com um par de mãos ásperas. Diante de nós estava um homem de 50 anos, estatura média, pele morena e um rosto magro sulcado por rugas acentuadas.
"Este é o pintor camponês mais famoso da nossa terra!" Assim o apresentou Shao Shao, secretário do comitê do Partido local.
Zhan Qiuming riu, um pouco envergonhado: "Eu estava trabalhando quando olhei para cima e vi a névoa pairando sobre as montanhas. Aí eu me senti inspirado e tive vontade de desenhar. Depois reparei nas águas cristalinas do pequeno rio da aldeia e nos turistas que aí se divertiam, e a harmonia da cena me fez querer desenhar isso também."
Zhan Qiuming levou mais de três anos para melhorar suas habilidades, começando por traçar linhas e colorir em contexto de linha de montagem, depois copiando sozinho pinturas paisagísticas e, numa faze avançada, incorporando as paisagens e campos de sua terra natal em suas pinturas.
A família de Zhan é proveniente da montanha Zaochong, onde a vida era difícil e desprovida de comodidades. Em 2016, numa altura em que estavam a ser construídas novas aldeias na região, a sua família desceu da montanha. A família de Zhan dispunha de apenas 4 mu (1 mu equivalente a 0.07 hectar) de campos de arroz, o que não é suficiente para uma família com parentes idosos e um filho na escola primária. Por isso, para sustentar a família, Zhan Qiuming tinha que fazer biscates fora de casa.
Visitante na mostra itinerante “Grande Beleza da Arte Folclórica - Bienal de Pinturas de Camponeses da China (Nanjing)” em agosto de 2022. Foto de Wang Jiankang/Diário do Povo Online
Em 2017, a região de Xiaohexiang fez uso de fundos de alívio à pobreza industrial para atrair empresários culturais e introduzir atividades como aulas de pintura a óleo e pintura artesanal. Pintores e estudantes universitários de Belas Artes ensinaram os agricultores a pintar, com subsídio das empresas participantes.
Durante o primeiro mês de aprendizado, Zhan Qiuming só aprendeu a desenhar linhas e praticar o equilíbrio. O início não foi fácil, mas este homem não desiste facilmente. Após a formação, Zhan continuou a aprender à distância, melhorando através da prática. Três meses depois, a sua obra "Dou Fang" foi vendida por 5 yuans. Atualmente, uma obra paisagística da sua autoria vale entre seiscentos e setecentos yuans.
Neste estúdio convertido de celeiro, cada agricultor se ocupa das suas respetivas tarefas. Huang Baiyou é meticulosa nas linhas que traça. “Funcionamos como uma linha de montagem e eu estou encarregue do primeiro elo.” Huang Baiyou, de 49 anos, trabalhou durante 10 anos em Dongguan, na província de Guangdong, mas o fato de não poder cuidar dos idosos e crianças de sua família pesava-lhe na consciência. A abertura do estúdio na aldeia foi a oportunidade para ela se demitir e regressar à sua terra. "Agora tenho uma renda mensal estável de mais de 3.000 yuans. O que importa é não atrasar os trabalhos agrícolas e cuidar da família!"
A pintura de camponeses é uma das indústrias com as quais a região de Xiaohexiang consolida e expande os resultados de alívio da pobreza, estando também ligada, de modo eficiente, à revitalização das zonas rurais. Atualmente, Xiaohexiang conta com 6 estúdios onde 460 pintores camponeses praticam pintura tradicional chinesa, pintura a óleo e pintura criativa. Através deste modelo de cooperação entre comunidades rurais e empresas, a região de Xiaohe conjugou a formação artística com a venda de obras de arte para formar agricultores tão hábeis com o pincel como com a enxada. Pinturas produzidas deste modo já encontraram comprador em mais de 10 países estrangeiros, contribuindo para retirar da pobreza 42 famílias carenciadas.
Xiaohexiang engloba 5 aldeias, onde habitam mais de 15.000 pessoas. Há alguns anos atrás, este era a região de Liuyang com a maior percentagem de habitantes pobres. Em anos recentes, e através do desenvolvimento das pinturas camponesas e do turismo rural, a região criou diversos vários pontos de turismo rural, como a barragem Yulin, a Rua das Artes, o Museu da Imprensa e o Observatório Galático, que atraem mais de 300.000 visitantes por ano. Tal não só resultou no alívio direcionado da pobreza como também deu um primeiro contributo para o embelezamento das aldeias e para a prosperidade dos moradores.