O 8º Fórum Global do Pacto de Milão para Política de Alimentação Urbana foi aberto na segunda-feira no Rio de Janeiro, Brasil, com a intenção de debater até quarta-feira soluções e políticas públicas na área de segurança alimentar.
É a primeira vez que o fórum, que conta com a presença de mais de 500 representantes de 162 cidades do mundo, entre elas Paris, Washington, e Copenhague, acontece na América do Sul. Nesta edição, o tema é "Comida para nutrir a justiça climática: soluções alimentares urbanas para um mundo mais justo".
Na abertura do evento, a vice-prefeita de Milão, Anna Scavuzzo, afirmou que o Pacto é uma jornada coletiva na qual as cidades lançam e discutem as suas políticas alimentares.
Segundo ela, a distribuição dos alimentos está ligada à justiça social, ao aumento das iniquidades e a questões climáticas, que considerou um dos maiores desafios das discussões.
"As cidades podem, ou devem, buscar a justiça climática. É isso que nós queremos e devemos buscar juntos. Nosso compromisso é aprender uns com os outros. Cada cidade que trabalha por esse objetivo pode proporcionar meios para superar nosso desafio. Estamos vivendo uma crise sem precedentes e o Pacto de Milão é uma forma de apoiar os esforços", ressaltou.
Entre os temas que serão debatidos no fórum estão o desperdício de alimentos, resiliência e justiça climática nas cidades, alimentação escolar fomentando a diversidade local e sustentável, alfabetização alimentar como forma de resgate histórico e cultural, políticas alimentares pós-pandemia e agricultura urbana, com intercâmbio de experiências.
Em sua apresentação, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, falou da situação da fome no Brasil, que, de acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) divulgado em julho, a quantidade de brasileiros que enfrentam algum tipo de insegurança alimentar chegou a 61,3 milhões de pessoas.
"Perdemos a chance de estar na discussão sofisticada sobre processos produtivos alimentares para voltar a discutir a fome. É fome por falta de prioridades, em atender a população mais carente, mais pobre. O que a gente vive no Brasil não se deve à pandemia. Se deve a um aumento da desigualdade, a um aumento da pobreza", disse Paes.
"O papel das cidades é fundamental, principalmente no caso do Brasil, onde há uma ausência absoluta do governo federal nessa discussão", acrescentou o prefeito do Rio de Janeiro.
Para o ex-diretor geral da FAO (2011-2019), o brasileiro José Graziano da Silva, as mudanças climáticas já são um problema e impactam cada vez mais a produção de alimentos.
"Alguns temas são importantes para destacar a reunião que acontece no Brasil em um momento histórico. De alguma maneira, assumimos uma vergonha perante o público, ao estarmos entre os maiores exportadores de comida do mundo e termos voltado ao mapa da fome", afirmou Graziano.
Coordenador da implantação do programa Fome Zero no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Graziano lembrou ter participado da criação do Fórum de Milão em 2015 e destacou a importância das prefeituras na iniciativa, explicando que elas devem incorporar as áreas rurais e trabalhar com elas na produção dos alimentos e na transformação da alimentação saudável.