O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de Brasil enfatizou na terça-feira que uma política fiscal sólida e crível por parte do governo pode levar a uma redução das pressões inflacionárias ao divulgar a ata de sua reunião da semana passada, na qual manteve inalterada a taxa básica de juros Selic em 13,75%.
"O Comitê avalia que o compromisso de implementar o pacote do Ministério da Fazenda para ajustar as contas públicas reduz o risco de alta inflação no curto prazo, com efeitos já sentidos em estatísticas oficiais", afirmou o documento.
"O Comitê destaca que a materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia e o prêmio de risco associado aos ativos domésticos", acrescentou a ata.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva elabora um novo arcabouço fiscal para limitar o gasto público que, se for aprovado pelo Congresso, deverá substituir o atual mecanismo chamado de teto de gastos.
A tensão entre o Banco Central e o governo, que considera a atual taxa Selic exageradamente alta, tem sido o principal tema de debate público nas últimas semanas.
Na ata, o Comitê considerou que a inflação de consumo se mantém elevada e que os componentes mais sensíveis para o ciclo econômico e para a política monetária permanecem acima do intervalo compatível com o cumprimento do objetivo da inflação.
No cenário de referência do BC, as projeções de inflação são de 5,85% para 2023 e de 3,6% para 2024. Já a meta oficial é de uma inflação de 3,25% em 2023 e 3% para o ano que vem, em ambos os casos, com 1,50 ponto percentual de tolerância.
O Copom comentou ainda a deterioração do cenário externo, com os recentes episódios que envolveram bancos nos Estados Unidos e Europa, levando a crer que será necessário um período prolongado de taxas de juros elevadas para combater as pressões inflacionárias.
A ata citou a liquidação de bancos regionais nos Estados Unidos e a fusão de dois grandes bancos suíços, o que tem aumentado a preocupação com o sistema bancário nas economias centrais.
"O Comitê continuará vigiando de perto esta situação, analisando os possíveis canais de contágio, mas avalia que o impacto direto sobre os sistemas financeiros domésticos e de outros países emergentes é, até o momento, limitado, sem alterações na estabilidade ou eficiência desses sistemas financeiros", afirmou.