Português>>Mundo Lusófono

Cadeia alimentar no Brasil foi responsável por 73,7% das emissões de carbono em 2021

Fonte: Xinhua    27.10.2023 08h54

As cadeias de produção e distribuição de alimentos foram responsáveis por 1,8 bilhão de toneladas de gases do efeito estufa no Brasil em 2021, ou 73,7% de tudo que o país emitiu naquele ano, segundo estudo do Observatório do Clima divulgado na terça-feira.

O relatório alerta que a maior parte das emissões não veio da produção de alimentos em si, mas do desmatamento para conversão de vegetação nativa em lavouras e pastos.

Os dados, resultado de estudo inédito patrocinado pela rede de organizações Observatório do Clima, contabilizam o desmatamento e a mudança no uso da terra, as emissões da agropecuária, como o "arroto do boi", que produz metano, o uso de energia e a produção de resíduos nos processos agrícolas e industriais.

Nessa conta, a produção de carne no país carrega o peso maior das emissões. Não pela produção de metano por parte dos animais, mas porque é na pecuária que acontece a maior parte do desmatamento para conversão em pastagens.

De 1,8 bilhão de toneladas de gases emitidas em 2021 pelo sistema de produção de alimentos, 77,6% vieram da produção de carne. Dessas, 70,6% da mudança no uso da terra, ou seja, desmatamento. Outros 29,2% são da produção em si. O restante 0,2% é do uso de energia e produção de resíduos.

Segundo o estudo, se fosse um país, a carne bovina brasileira seria o sétimo maior emissor de gases do mundo, à frente do Japão.

Em 2019, ano com dados comparativos mais recentes, o Brasil era o terceiro maior emissor no mundo de gases do efeito estufa na produção de alimentos. Mas o peso das emissões no país recai sobre o desmatamento.

Em outras palavras, a recuperação e o uso de terras degradadas para plantação e criação possivelmente faria do Brasil um produtor mais limpo que seus principais concorrentes.

"Isto demonstra, para além de qualquer dúvida, que está nas mãos do agronegócio o papel do Brasil como herói ou vilão do clima. Até aqui, o setor parece querer que o país encarne o vilão, tentando destruir a legislação sobre terras indígenas, legalizar a grilagem e acabar com o licenciamento ambiental, ao mesmo tempo em que manobra no Congresso para ficar totalmente livre de obrigações no mercado de carbono," afirmou Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

A pesquisa mostra que o investimento em recuperação e manejo de solo, com propostas que capturam carbono, já faz o país ter uma captura de 200 milhões de toneladas de CO2 por ano. Com ainda 96 milhões de hectares de terras degradadas - que emitem carbono - o país tem um imenso potencial de multiplicar essa captura.

Segundo os pesquisadores, o que é preciso é dar escala para políticas que incentivem tecnologias de baixas emissões para agropecuária, como plantio direto, recuperação de pastagens com níveis de degradação e implementação de sistemas integrados.

"Em 2021, por exemplo, os solos brasileiros que possuíam alguma prática considerada conservacionista, como a aplicação de plantio direto, recuperação de pastagens com níveis de degradação e implementação de sistemas integrados, foram responsáveis pela remoção de 370,8 MtCO2 (toneladas de dióxido de carbono equivalente)", aponta o estudo.

Este ano, o governo brasileiro adicionou ao Plano Safra de financiamento para a agropecuária ações para beneficiar produtores que adotem medidas de produção mais verdes ou ambientalmente corretas. Quanto mais o produtor se adequar, mais recursos com juros menores ele terá direito de receber.

0 comentários

  • Usuário:
  • Comentar: