Um fóssil descoberto no sul do Brasil pode representar um dos dinossauros mais antigos já identificados, de acordo com um estudo publicado na revista Scientific Reports, uma das publicações do grupo Nature.
A nova espécie foi batizada de Itaguyra oculta, com base em restos encontrados há décadas em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul. Os fósseis, que estavam armazenados há anos no acervo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), correspondem a dois ossos da cintura pélvica do animal: um ílio e um ísquio.
Segundo os autores do estudo, paleontólogos do Brasil e da Argentina, análises morfológicas indicam que se trata de um membro do grupo dos silessauros, répteis do período Triássico. A comunidade científica debate se eles pertencem à linhagem dos dinossauros ou se são simplesmente um grupo relacionado.
Os pesquisadores dataram os fósseis em aproximadamente 237 milhões de anos atrás, o que situa o espécime em um período pouco documentado para os silessauros. A descoberta reforça a hipótese de que esse grupo teve presença contínua na atual América do Sul durante o Triássico.
"Esta descoberta preenche uma lacuna temporal crítica e apoia a ideia de que os silessauros não são apenas parentes próximos, mas potencialmente os primeiros representantes dos dinossauros ornitísquios", disse Voltaire Paes Neto, pesquisador do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ) e principal autor do estudo.
Se essa interpretação for confirmada, o Itaguyra Oculta ocuparia um lugar de destaque entre os dinossauros mais antigos do mundo.
Alexandre Kellner, diretor do Museu Nacional e coautor do estudo, enfatizou que "toda a diversidade conhecida de dinossauros se divide em duas linhagens principais: saurísquios e ornitísquios, classificações aceitas há mais de 150 anos. No entanto, como essas linhas evolutivas se originaram permanece um mistério."
Os silessaurianos eram geralmente animais pequenos, quadrúpedes, com dieta onívora ou herbívora. Habitavam diversas regiões da antiga Pangeia, com registros fósseis na atual América do Sul, reforçando a importância dessa região na história evolutiva dos dinossauros.
"A presença contínua de silessaurídeos no Brasil destaca o sul do país como uma região-chave para a compreensão da origem e diversificação dos dinossauros", acrescentou Flávio A. Pretto, paleontólogo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e também coautor do estudo.
O nome "Itaguyra oculta" refere-se à sua história: Itaguyra combina palavras da língua tupi que significam "pedra" (ita) e "pássaro" (guyra), enquanto "oculto" refere-se ao fato de os fósseis terem permanecido escondidos entre outros materiais por décadas.
Além do MN/UFRJ e da UFSM, participaram da pesquisa especialistas da UFRGS, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e do Museu Argentino de Ciências Naturais, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do projeto INCT-Paleovert.