A China e a União Europeia (UE), duas das participantes climáticas mais proeminentes do mundo, devem desempenhar papéis fundamentais na formação dos resultados da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, ou COP30, de acordo com uma reportagem do jornal China Daily, citando uma oficial sênior da ONU.
Em uma entrevista ao jornal sobre a próxima COP30, programada no próximo mês em Belém, no Brasil, a diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Inger Andersen, disse que, ao apoiar o Brasil para garantir o sucesso da COP30, a China e a UE devem facilitar investimentos "transformadores" de baixo carbono nas economias em desenvolvimento, o que criará ganhos multilaterais.
Ressaltando que a COP30 tem um significado especial, porque revisará as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, sigla em inglês) de que cada parte deve atualizar a cada cinco anos sob o Acordo de Paris, Andersen elogiou o anúncio das NDCs da China pelo presidente chinês, Xi Jinping, em seu discurso em vídeo proferido à Cúpula do Clima da ONU 2025, em setembro.
Andersen destacou, em particular, a meta da China de aumentar a capacidade instalada de energia eólica e solar para 3.600 gigawatts até 2035, chamando-a de "surpreendente", considerando a capacidade atual do país de menos de 2.000 gigawatts.
"Quanto à energia renovável, francamente, a China ajudou a reduzir seu preço em 90% nos últimos 10 a 15 anos. É incrível... Podemos ver que, quando a China define o ritmo, ela faz uma diferença", afirmou Andersen, observando que, graças à China, agora ela pode encontrar painéis solares mais baratos na África, onde mora, para instalar em seu telhado. "Portanto, acho que temos de entender que, o que a China está fazendo em casa também está causando impacto no exterior", acrescentou.
A transição energética é um desafio formidável, mas a China mostrou que é possível alcançá-la por meio de uma estratégia de investimento determinada e de longo prazo em novas tecnologias, observou Andersen. Essa abordagem não apenas reduziu as emissões, mas também criou empregos, estimulou o crescimento econômico, expandiu o acesso à energia e abriu novos mercados globais, destacou ela.
Salientando o papel importante desempenhado pela China na governança climática global, especialmente nas negociações climáticas da ONU, Andersen disse estar satisfeita com a comunicação aprofundada entre a China e a UE no contexto das reuniões do G20 na África do Sul.
"Estou muito feliz em saber que essas conversas estão ocorrendo e que há um entendimento mútuo sobre as ambições. Tenho certeza de que o Brasil vai contar com ambos os lados, e com todos os demais, para darem o máximo de si", afirmou.
Destacando que milhões de pessoas no Sul Global ainda não têm acesso à energia, Andersen enfatizou o enorme potencial da cooperação China-UE para resolver o problema e promover a transição energética nas economias em desenvolvimento. Ela ressaltou a importância crítica de construir infraestrutura de energia renovável, em vez de usinas movidas a carvão, para fornecer acesso à energia para as massas.
Andersen disse que, com a inovação tecnológica e o investimento da China e da UE, o impacto poderia ser imenso. Ao promover a fabricação local, isso poderia estimular um boom industrial, acrescentou.
O investimento conjunto China-UE pode gerar um benefício triplo, fortalecendo os mercados e criando empregos na China, na Europa e nos países beneficiários, de acordo com ela.
Os benefícios para países beneficiários seriam fundamentais - desde eletricidade para educação e refrigeração para alimentos e medicamentos, até uma cadeia de frio segura para vacinas, assinalou Andersen, enfatizando que esses desenvolvimentos catalisariam o crescimento industrial, aumentariam a receita fiscal e orientariam as nações beneficiárias para um caminho de prosperidade sustentável.
"Portanto, é uma situação em que todos ganham. Acho que isso é algo para realmente celebrar. E haverá inovações acontecendo", acrescentou ela.