Diante de um cenário internacional cada vez mais incerto, a previsibilidade da China tem um significado transformador, afirmou o professor brasileiro de direito internacional Evandro Menezes de Carvalho, especialista na relação China-Brasil, no encontro anual do Global Times realizado no último sábado em Beijing.

Carvalho ressaltou que a previsibilidade chinesa exerce um impacto de natureza estrutural sobre o sistema internacional. Segundo ele, em um contexto de fragmentação geopolítica e crescente incerteza global, poucos países apresentam uma visão clara e consistente de desenvolvimento de longo prazo, sendo a China um desses raros exemplos, como evidenciam suas quatro décadas de modernização com impacto global, especialmente entre países em desenvolvimento.

Para o professor, o desenvolvimento da China não se limita aos resultados econômicos, mas decorre do planejamento estratégico de longo prazo e de instituições estáveis, que vão além de decisões improvisadas ou flutuações políticas imediatas.

A entrada da China em seu 15º Plano Quinquenal (2026-2030) ilustra essa lógica, ao oferecer à sociedade um referencial de longo alcance que integra prioridades econômicas, inovação tecnológica, objetivos sociais e compromissos ambientais, disse.

Carvalho destacou ainda que essa orientação não é uma característica isolada da China contemporânea, mas está profundamente vinculada à sua tradição histórica, que valoriza continuidade, equilíbrio e adaptação gradual.

A reforma e abertura iniciada em 1978, o socialismo com características chinesas e o processo de modernização chinesa revelam, segundo ele, um padrão de transformação que preserva elementos do passado ao mesmo tempo que incorpora novas dinâmicas. Em um contexto global marcado por instabilidade política e pela ascensão de movimentos populistas, esse modelo de governança tende a ser percebido como previsível e confiável.

Carvalho observou que, diante do cenário internacional, enquanto alguns países respondem por meio de sanções, desacoplamento e contenção, a China tem buscado ampliar espaços de cooperação internacional.

Ele destacou, nesse sentido, a promoção de iniciativas voltadas ao desenvolvimento, à segurança, à civilização e à governança globais, estruturadas a partir do princípio do benefício mútuo e da rejeição de soluções baseadas na hegemonia.

Ao concluir, o professor disse que a previsibilidade chinesa permite que parceiros internacionais planejem políticas públicas, alinhem estratégias econômicas, realizem investimentos de longo prazo e aprofundem a cooperação tecnológica com menor grau de incerteza.

Por essa razão, afirmou, o interesse internacional pela China não decorre apenas de seu peso econômico, mas da expectativa de que sua visão de longo prazo contribua para oferecer referências em um mundo marcado pela busca por estabilidade, confiança e direção.