José Medeiros da Silva
Em 2025, as relações entre o Brasil e a China tornaram-se mais sólidas e mais profundas. Como dois grandes países em desenvolvimento, a intensificação das interações e o aprofundamento do diálogo reforçaram a confiança mútua, ampliaram os benefícios compartilhados e sedimentaram ainda mais o caminho para que, em 2026, essas relações sejam ainda mais frutíferas.
No campo político-diplomático, o ponto alto de 2025 foi a visita do presidente Lula, entre os dias 10 e 14 de maio, ocasião em que, além de uma visita de Estado, participou também da IV Reunião Ministerial do Fórum CELAC-China. Aliás, está cada vez mais evidente que, diante de um mundo incerto e turbulento, os mecanismos multilaterais são ferramentas indispensáveis, especialmente para os países em desenvolvimento. Esse entendimento está bem explícito na Declaração Conjunta emitida na oportunidade pelos dois países: “Ao assinalar a natureza multidimensional da relação bilateral, [China e Brasil] acordaram [...] intensificar a colaboração no âmbito das organizações internacionais e dos mecanismos multilaterais, e demonstrar continuamente a projeção global, o valor estratégico e a longa duração das relações entre os dois países”.
No campo econômico, como vem ocorrendo desde 2009, a China manteve o posto de principal parceiro comercial do Brasil, fato fundamental para atenuar, no país, os impatos do “tarifaço” imposto por Trump. Dados divulgados em 18 de dezembro de 2025 pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), revelam que, de agosto a novembro, as exportações para a China cresceram mais de 28% em relação ao mesmo período de 2024, enquanto, para os EUA, o recuo ultrapassou 25%. Sem dúvida, um alívio significativo para a economia brasileira.
Para além do bom relacionamento nos campos diplomático e econômico, acredito que um dos principais feitos dessa relação em 2025 foi a intensificação dos intercâmbios institucionais e interpessoais, especialmente no campo acadêmico. Trata-se de uma dimensão essencial desse relacionamento, pois o fortalecimento da amizade e o aprofundamento do conhecimento mútuo são ingredientes fundamentais para uma interação civilizacional harmoniosa e benéfica.
Só para exemplificar, aqui onde trabalho, na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang (ZISU), tem sido muito comum o encontro com brasileiros e amigos de outros países da América Latina, desejosos de conhecer melhor e mais profundamente a China. Além disso, uma delegação de professores e dirigentes da nossa universidade esteve no Brasil para visitar e estreitar relações com a Universidade de São Paulo e com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Nessa mesma linha, em alguns fóruns acadêmicos internacionais dos quais participei ao longo de 2025, fiquei positivamente surpreso com o crescente número de estudiosos da China no Brasil e na América Latina, nos mais diversos campos do conhecimento humano.
Para concluir, gostaria de realçar que, por ocasião da visita do presidente Xi Jinping ao Brasil, em novembro de 2024, os dois países concordaram em realizar, em 2026, o “Ano Cultural Brasil-China”. E 2026 já está à nossa porta. É fundamental que os governos, as empresas, as universidades e a sociedade civil como um todo aproveitem esse ano para que, por meio do estreitamento dos laços culturais, nossos povos se conheçam melhor, superem as distâncias físicas e linguísticas e mantenham seus corações ainda mais próximos. O mundo precisa.
O autor é professor e diretor do Centro de Estudos de Brasil da Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang