A economia da América Latina registrou um abrandamento em 2015, fato que preocupa toda a região. De acordo com o relatório “Perspectivas Econômicas da América Latina 2016”, produzido conjuntamente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), a América Latina deve encarar o desafio do “crescimento inclusivo” e reforçar as cooperações com a China para ganhar obter benefícios.
De acordo com Mario Pezzini, diretor do Centro de Desenvolvimento da OCDE, a superação da “armadilha da renda média” exige uma maior diversificação econômica e a atualização industrial da América Latina. “A nova normalidade da economia chinesa é uma oportunidade para a estratégica de desenvolvimento da região, e estamos em uma nova fase da parceria AL-China. ”
Em uma entrevista ao Diário do Povo, o diretor da seção de América Latina e Caribe da OCDE, Ángel Melguizo, afirmou que a América Latina precisa procurar mais oportunidades na China para manter o rápido e estável desenvolvimento das relações bilaterais.
Em 2001, apenas cinco países latino-americanos registraram valor comercial acima de 1 bilhão de dólares com a China, que, hoje, é o maior o segundo maior parceiro comercial de quase todos os países da região. “Mais de 60% do comércio da China com a América Latina concentra-se na América do Sul, ” disse Paulo Wrobel, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. “Nos últimos anos, o comércio entre a China e quase todos os países latino-americanos registram um aumento robusto, e o país asiático se tornou um dos parceiros mais importantes de toda a América Latina e Caribe, ” acrescentou.
Ao mesmo tempo, a América Latina é um dos destinos mais importantes do investimento chinês no exterior. Até o final de 2014, a China investiu US$ 106 bilhões na região. Além das áreas de energia e mineração, a China ampliou o investimento em outros setores. Em 2015, a China anunciou a criação de um fundo especial de US$ 30 bilhões para a cooperação da capacidade industrial e estabeleceu bancos de liquidação em Renminbi no Chile e na Argentina, promovendo as cooperações nas áreas do comércio e investimento.
“Na última década, o comércio entre a China e América Latina estava numa fase de grande desenvolvimento graças à alta das commodities mas, o aumento anual de 15% da exportação de minérios e energia não corresponde à reestruturação da economia chinesa, que necessita de menos o matéria-prima, ” indicou Ángel, acrescentando que a América Latina precisa procurar mais oportunidades diante da ‘nova normalidade’ do país asiático.
Ao decorrer desses 10 anos, a participação da China na cadeia de valor global da América Latina já superou o da própria região. Entre 2000 e 2011, a proporção da América Latina nas chamadas "backward linkages" (ligação a montante) saltou de 5% para 9%, enquanto esse mesmo número saltou de 1% para 11% em relação a China.
“O Brasil e alguns outros países se encontram em crise econômica, precisando de uma nova força motriz. O problema fundamental é que não conseguimos atrair muitos investimentos”, afirmou Paulo Wrobel, acrescentando que o Brasil deve aprofundar as suas relações comerciais com a China.
Em entrevista ao Diário do Povo, o embaixador chinês em Brasília, Li Jinzhang, apontou que por falta de investimentos em infraestrutura, o Brasil desperdiça mais de 100 bilhões de dólares por ano em logística. “Por exemplo, o Brasil ganha até 40% menos no transporte de soja para a China em comparação com o transporte dos EUA. ” Neste sentido, as empresas chinesas podem ajudar o Brasil a melhorar suas infraestruturas, afirmou.
O maior desafio encarado pela América Latina é a falta de investimento em produtos de alto valor agregado, disse Ángel, “os países latino-americanos acolhem o investimento de grande envergadura das empresas chinesas e precisam reforçar as relações com a China. ”
Revisão: Rafael Lima