Vários especialistas norte-americanos expressaram a sua preocupação relativamente à guerra comercial implementada pela administração de Donald Trump contra a China, descrevendo-a como uma guerra que viola as regras da OMC e que terá consequências negativas para os empregos nos EUA e para a economia da nação.
Trump disparou a primeira salva na sexta-feira, impondo tarifas punitivas avaliadas em 34 bilhões de dólares à China. A China retaliou imediatamente com tarifas em igual valor.
Antes de aplicar as tarifas à China, a administração Trump havia imposto novas taxas sobre o aço e o alumínio, em nome da segurança nacional, despoletando a indignação dos parceiros comerciais estadunidenses, que apresentaram uma queixa à OMC. Na sexta-feira, a China fez-se também representar junto da OMC contra as últimas tarifas americanas.
Donald Trump acusou por várias vezes a OMC de tratar os EUA de forma injusta e ameaçou por várias vezes a retirada desta instituição.
Wayne Morrison, um especialista de comércio e finanças do Congressional Research Service, disse que existe uma grave preocupação entre os especialistas de comércio dos EUA face às ações unilaterais de Trump, sendo que se teme que estas possam comprometer o sistema de comércio global que os EUA ajudaram a construir.
Os economistas e especialistas de economia estão em desacordo com a interpretação de Trump das causas do desequilíbrio comercial. Eles acreditam que o défice comercial norte-americano é causado, principalmente, pela sua política fiscal, pela reduzida taxa de poupanças e pelo papel do dólar como divisa de reserva global.
“Trump está ignorando os pedidos da comunidade de negócios. Ele parece estar apostando na sua postura irredutível contra a China, esperando que esta faça felizes os seus apoiantes, embora estas políticas os prejudiquem no longo prazo”, disse Morrison.
“Uma guerra comercial será muito dispendiosa para ambas economias e para a economia mundial como um todo”, acrescentou.
Um estudo levado a cabo por Mary Lovely, no Peterson Institute, demonstra que as últimas tarifas de Trump impostas à China irão ter repercussões ainda mais fortes em cadeias de fornecimento não-chinesas. Muitas das exportações chinesas para os EUA provêm de empresas estrangeiras a operar na China.
Edward Alden, um membro do Conselho para as Relações Exteriores, disse que a única forma da administração Trump alterar este curso será através da pressão política doméstica.
Na sexta-feira, o Gabinete do Representante Comercial dos EUA anunciou um guia para as empresas se candidatarem à exclusão das novas tarifas impostas aos produtos made in China. As empresas terão 90 dias para submeter os pedidos.
“A verdadeira intenção da administração Trump é deter a China, minimizando o impacto negativo no seu eleitorado”, disse Mei Xinyu, investigadora do Instituto para a Cooperação Comercial e Econômica Internacional do Ministério do Comércio da China.
“De fato, mesmo que um certo número de empresas dos EUA obtenha exclusões de tarifas adicionais, estas não aliviariam a pressão sobre a sua economia. Os custos elevados impostos aos produtos chineses serão eventualmente transmitidos aos consumidores dos EUA”, afirma Li Yong, vice-diretor do Comitê de Especialistas da Associação Chinesa para o Comércio Internacional.