Por Li Yan, Global Times

O fundador da Huawei, Ren Zhengfei, surgiu perante a imprensa com uma atitude confiante e racional, em uma altura em que sua empresa enfrenta várias sanções por parte do governo estadunidense. Em vez de ripostar com ódio, Ren insistiu que a cooperação global é necessária para o crescimento da indústria.
“Ninguém pode avançar com a inovação e o desenvolvimento tecnológico sozinho”, afirmou Ren perante um grupo de repórteres chineses na sede da Huawei, em Shenzhen, na província chinesa de Guangdong, na terça-feira, a meras horas das autoridades estadunidenses anunciarem a emissão de uma licença temporária para a Huawei.
A empresa chinesa, uma das maiores fabricantes de equipamentos de telecomunicações e o segundo maior vendedor de smartphones do mundo, tem estado em foco nos últimos meses. As sanções estadunidenses à Huawei têm sido interpretadas por alguns analistas como o início de uma nova Guerra Fria entre a China e os EUA no âmbito da tecnologia avançada.
A postura unilateral de Washington face à empresa chinesa, juntamente com a intensificação do conflito em questões de comércio bilateral, tem servido de catalisador do apoio popular à Huawei na sociedade chinesa. Algumas pessoas apelaram ao apoio à Huawei e ao boicote a Apple.
“Os membros da minha família preferem ainda iPhones, e eu dei-lhes MacBooks como presentes quando eles foram para o estrangeiro”, disse Ren. Ele me surpreendeu quando começou a responder às nossas questões ao mencionar o principal rival da sua empresa no setor dos smartphones.
O empreendedor de 75 anos, que antes mantinha a descrição pública, fala agora regularmente com a imprensa, num esforço da empresa privada clarificar a sua posição.
No início da entrevista, Ren elogiou a Apple, afirmando que “apoiar a Huawei neste período difícil não significa necessariamente que devem comprar um smartphone Huawei”. É errado dizer que aqueles que usam aparelhos Huawei são patriotas em detrimento dos que escolhem produtos da Apple, afirmou, ressaltando que as pessoas devem rejeitar o populismo, pois “os negócios nada têm a ver com a política”.
Neste momento crítico em que a gigante tecnológica estadunidense Google decidiu acatar a ordem do governo dos EUA e restringir parte dos seus serviços Android à Huawei, Ren insistiu na continuação da cooperação à escala global.
“Não culpem as empresas americanas... eu estou-lhes muito grato, pois elas contribuíram muito para o desenvolvimento da Huawei”, afirmou.
A mais recente decisão da Google foi interpretada como sendo manipulada pela política norte-americana, pois a empresa, ao seguir as instruções de Washington, corre o risco de perder uma fatia substancial de mercado para o seu sistema operativo. Ren demonstrou uma atitude pacífica perante estes comentários. Sem elaborar sobre o assunto, ele disse que a Huawei está ainda em conversações com a Google relativamente a essa questão, tendo elogiado a última como “uma empresa muito responsável”.
Embora muitas das questões levantadas na terça-feira de manhã tenham estado relacionadas com os EUA, Ren tentou distanciar-se de uma aparente onda de indignação nacionalista.
“Nós queremos falar com os EUA. Quem me pode dar o número de telefone de Donald Trump?”, disse Ren, desvalorizando as tenções nas negociações comerciais, dado que a maioria das questões se focavam na influência que as sanções dos EUA exercem na Huawei e na capacidade desta resistir à pressão daí decorrente.
A Huawei precisa sempre de chips e de parceiros Americanos, disse-nos durante a entrevista. Isso me lembra que a Huawei, tal como a China, não pode recuar sob influência de um sentimento irracional, especialmente o crescente sentimento anti-EUA consequente da guerra comercial.
Recorde-se que Ren é, não só o presidente de uma gigante tecnológica chinesa, mas também pai de três filhos. Meng Wanzhou, sua filha, está atualmente detida pelas autoridades canadenses por intermédio dos EUA.
Conta oficial de Wechat da versão em português do Diário do Povo Online