Por Mauro Marques
Embora a cultura dos videojogos tenha sido pautada pela organização de torneios e eventos desde as últimas décadas do século XX, a base dos eSports como hoje os conhecemos terá de ser traçada até à Coréia do Sul.
Fatores tecnológicos e sociais como a instalação massiva de redes de banda larga e uma fase de elevadas taxas de desemprego no período pós-crise asiática de 1997, levaram a que muitos coreanos encontrassem nos jogos uma paixão aliciante. O resto é história.
Torneios com direito a audiências cada vez maiores, cobertura televisiva, progressiva internacionalização, prémios mais e mais aliciantes - todos estes fatores levaram à profissionalização de atletas, inclusão de treinadores e agentes, entrada em cena de patrocínios e, por fim, ao fenómeno do streaming. Tudo isto possibilitou a maturação ultra rápida de uma das indústrias de bandeira do século XXI.
A vizinha China não levou muito tempo a compreender o potencial do eSport, tendo este sido oficialmente classificado como desporto em 2003, quando o país se encontrava ainda numa etapa de desenvolvimento rompante, iniciado sensivelmente duas décadas antes.
Os primeiros passos tímidos em 2003 não coincidiam ainda com a febre do país por este setor, havendo cada vez mais gerações de jovens a se declararem fãs. Para isso contribuiu também a crescente variedade de jogos e de estilos para todos os gostos.
Ao sabor do ritmo do crescimento dos eSports, a China suplantou o resto do mundo, tornando-se em 2015 uma meca mundial, com uma audiência de 82 milhões, número que entretanto cresceu para 135 milhões este ano, com estimativas de continuar crescendo, segundo a CGTN.
O país arrecadou em 2018 as primeiras medalhas de ouro nos 18º Jogos Asiáticos, nos quais os eSports foram incluídos pela primeira vez como desporto de demonstração.
De acordo com a iResearch, citada pela CGTN, a indústria de eSports da China está avaliada em 65 bilhões de yuans ($9,3), sendo que o mercado combinado de jogos para consoles e celulares quase perfaz o mesmo montante.
Perante este crescimento explosivo, Shanghai avançou com o projeto de se afirmar como “capital dos eSports”. Tal meta foi assumida em 2017, com a aposta no “desenvolvimento da vida cultural e artística”, e explicitamente reforçada em junho deste ano, na publicação municipal “Pareceres sobre o impulsionamento e promoção salutar dos esports em Shanghai”. O prazo para alcançar tal estatuto foi estipulado entre 3 a 5 anos.
Dentre as várias ações para ascender a este patamar destacam-se: organização de mais torneios de grande escala; apoio a torneios de dimensão mais reduzida, incluindo competições ao nível escolar; encorajamento ao investimento empresarial, possibilitando a atração de mais eventos; melhoramento do ambiente de negócios, garantindo uma convergência mais fluída entre empresas e regulamentações de formação profissional e mobilidade de carreira, e apoio a meios de difusão da indústria.
A realização do The International, o maior torneio de eSports do mundo, é uma prova clara que Shanghai está no bom caminho rumo às suas ambições.