Recentemente, Zhao Bentang, diretor do Departamento da América Latina do Ministério das Relações Exteriores, concedeu uma entrevista ao Diário do Povo Online sobre as relações de cooperação entre a China e a América Latina durante o período da pandemia.
Este ano comemora-se a efeméride do 60º aniversário do início do relacionamento China-América Latina. Zhao Bentang afirmou que ambas as partes conseguiram superar várias dificuldades, como a distância geográfica, condições naturais e diferenças culturais. Ao longo das últimas seis décadas, foram trabalhando em conjunto para se ajudarem mutuamente, num clima de cordialidade sob o modelo de cooperação sul-sul.
Zhao Bentang referiu que, no momento mais difícil da luta contra a Covid-19 na China, os governos e povos dos países da América Latina expressaram o seu apoio e ajudaram de diversas formas.
Os líderes de diversos países e de organizações regionais enviaram cartas de condolências e apoio. Costa Rica, Trinidad e Tobago, Suriname, Uruguai, entre outros, enviaram materiais anti-epidemiológicos para a China, incluindo 600,000 máscaras, cerca de 1 milhão de pares de luvas e mais de 60,000 sets de roupas cirúrgicas e outros materiais médicos. O cartoon de apoio à “massa quente e seca”, uma receita famosa de Wuhan, criado por um artista peruano, tornou-se viral na internet e os enfermeiros ao serviço em Hubei receberam camisas do futebolista Messi. Estas histórias revelam a amizade profunda existente.
Com a propagação de casos de coronavírus em países latino-americanos, a China assumiu também o compromisso de partilhar a sua experiência e rapidamente garantir a ajuda necessária aos povos destes países.
Zhao disse que, sob a liderança conjunta do presidente Xi Jinping e dos líderes da América Latina, a China havia organizado mais de 30 videoconferências multilaterais para compartilhar experiências de prevenção e controle com a comunidade latino-americana. No que concerne a materiais médicos, os oficiais e civis chineses garantiram aos 27 países no continente todos os apoios necessários.
Em resposta a alguns comentários e vozes no Brasil que procuraram denegrir a China durante esta luta coletiva, Zhao afirma que a epidemia é um inimigo comum da China e do Brasil. Políticos de determinados países, como os EUA, politizaram e rotularam indiscriminadamente o vírus, atacando arbitrariamente a China de modo injustificado. Isto levou à disseminação do “vírus político” em alguns países. Esta conduta é extremamente imoral, compromete severamente a cooperação internacional na luta contra a pandemia e, por isso, está fadada ao fracasso.
Zhao enfatizou que as relações sino-brasileiras são estratégicas e de longo prazo. Os dois países têm vários interesses comuns e laços estreitos de cooperação. Nos 46 anos desde o estabelecimento de relações diplomáticas, os dois países resistiram aos testes da situação internacionais e mantiveram um desenvolvimento salutar e estável.
A essência da cooperação sino-brasileira é o benefício mútuo e, por isso mesmo, recebeu o apoio de sucessivos governos. A manutenção das relações é uma aspiração comum dos dois povos. As relações bilaterais não serão abaladas por casos isolados de estigmatização, nem por forças externas. Deste modo, as perspetivas de desenvolvimento permanecem amplas e promissoras.
A pandemia aumentou o risco de recessão econômica mundial, sendo que a cooperação econômica e comercial sino-latino americana será inevitavelmente afetada.
No presente, o Fundo Monetário Internacional e a Comissão Econômica para a América Latina do Banco Mundial prevê que a demanda externa caia a pique, acompanhada pela queda do preço das comodities, do petróleo e pela retração da indústria do turismo.
Tendo em conta os múltiplos eventos recentes, a economia da America Latina irá, certamente, ser alvo de crescimento econômico negativo. O Banco Mundial prevê uma queda de 7,2% na economia local em 2020. A Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina antevê uma provável queda de 8%. O comércio e intercâmbio interpessoal entre a China e o continente depararam-se também com obstáculos. Vários projetos de engenharia foram forçados a encerrar ou a ser adiados. Entre janeiro e maio, o comércio entre os dois polos sofreu uma queda de 8% em termos anuais.
“As dificuldades são temporárias”. Face às perspetivas da cooperação econômica entre a China e a América Latina, Zhao Bentang acredita que fundamentos como localização geográfica, população, recursos e vantagens dos mercados da América Latina permanecem inalterados, tais como a forte complementaridade econômica com a China.
“Depois da pandemia, o desenvolvimento econômico da China e da América Latina terá como principal propósito proteger o dia a dia das pessoas. A necessidade de reforçar a cooperação pragmática será mais forte. Deste modo, estamos confiantes nas perspetivas para o futuro”.
Apesar da distância geográfica, Zhao Bentang afirma que os países latino-americanos revelam uma forte vontade de participar na co-construção das iniciativas do Cinturão e Rota e de uma comunidade de futuro compartilhado para a humanidade. A China assinou os memorandos de entendimento de cooperação com 19 países da América Latina.
Zhao defende que o desenvolvimento das relações entre os dois polos se prende com “3 insistências”. A primeira é a de garantir o respeito mútuo e o tratamento igualitário, a segunda é a manutenção do benefício e desenvolvimento mútuos e a terceira o aprendizado e trocas recíprocas.
Deve ressaltar-se que os EUA recentemente desacreditaram publicamente a cooperação sino-latino-americana, estigmatizando o combate à epidemia por parte de ambas as partes. Alguns oficiais americanos persuadiram também a América Latina a não ceder à diplomacia chinesa e à “armadilha da dívida”. Zhao reiterou que a cooperação se baseia no benefício mútuo e, como tal, a China não está lançando nenhuma armadilha. A comunidade internacional deve ser capaz de compreender que a cooperação é consentânea com a tendência geral do desenvolvimento, paz e estabilidade mundial.
“Com os olhos postos no futuro, a China e a América Latina não se esquecerão das suas aspirações iniciais, e continuarão forjando uma nova era de igualdade, benefício mútuo, inovação, abertura e benefícios nas suas relações”. Zhao concluiu dizendo que o desenvolvimento das relações bilaterais, mesmo enfrentando obstruções deliberadas, não será desacreditado ou diminuído, mas continuará crescendo cada vez mais e melhor.